quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Mais uma primeira vez...

Não largo o antes por respeito.
Medo até...
...não foi mais um ano a passar por mim...
Orgulho-me da absurda recompensa,
do desafio.
Já não é a brincar.
Vocês...
Sem ordem, desordenadamente em abraço apertado, quente e sufocado.
Obrigada pela falta que sinto quando se ausentam...é nessa altura...
Sim.
Como a Deus,
Sim a apetecer gritar,
Sim gritado e revolvido em pelos arrepiados.
Gosto de gostar tanto, desalmadamente, de coração atrevido a querer saltar do corpo e a viver por aí.
Atrevo-me a repetir: SIM

sábado, 27 de dezembro de 2008

O suor percorre e segura-me os braços...quente, a arrefecer o trabalho intenso a que me prestei...na esperança de valer a pena e no desespero de não ter sido suficiente.
A mais, a mais o à volta, de lado, atrás e à frente...por todo o lado o lado a mais sufoca-me e é tudo a mais porque de não querer ser, a relevância eleva-se à minha frente...e ri-se.
Tremo e o suor aumenta, aumenta o calor e aumenta a espessura desta linha de água que cruza os poros todos, como que a mostrar-me que não se esqueceu de parte nenhuma de mim...E torna brilhante o desejo de não se ver...O corpo aparece, a pele, o odor a ser e depressa cresce o cuidado. Outra vez.
Chega.
Tenho já medo da próxima vez que ainda não chegou e choro-lhe o resultado como se fosse impossível fugir-lhe, inevitável o contacto directo, de pele e alma inteiramente prostradas a ela.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Já é 'depois'

Não sei bem se é do contágio,
se é simples plágio de outro alguém, este meu que agora corre
Se esta ânsia
Se esta constância de agitação equilibrada fala por mim ou eu por ela,
nela.
Talvez.
Ou então...
Não sei. Quero e invento e digo a verdade pela primeira vez. E julgam depois que é mentira, ou se acreditam, que é novo...que estou diferente. Que sou.
E é mais um ano que acaba, e soma apressa-se porque não quero.
Não quero dizer que é mais de metade da minha vida,
Não quero sentir que perdi mais de metade da minha vida por isto...nisto, com isto...
Sem nome ou com,
rotulado, com cores e código de barras...
Que às vezes estava errado,
(E quantas vezes foram aquelas em que o preço estava errado?)
Em que o piiiiiiii foi ensurdecedor até aos ossos,
Quantas vezes me reclamaram?
E não me ouviram...
nada mais que a muda obrigação,
na simples, concreta e directa assumpção ...
Nada prova e nada revela,
é subtil, a trova...
O passar do tempo...
Ai as horas e o silêncio nelas.
Agradeço-lhes o saber
adiantado como sempre,
O Muito Tempo.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

corpo: 34 graus e meio

Há dias em que há medo do passado, dias em que o presente é mais passado na ansiedade de querer o futuro mais depressa.
Depois há a calma, na altura precisa em que sentimos o presente como produto directo de uma soma.
" dois e dois são quatro "
Faltam umas décimas na soma que teima em subtrair-me, ainda.
Há o tempo, a falta dele e o que ainda tenho para correr contra os vícios de sempre.
Recomeço no ponto exacto em que me dei o "Sim".
Caminho outra vez.
O coração treme-me, estremece o corpo à volta.
Frio o corpo, aquecido...reaquecido agora...
Obrigada...

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Esperançometro

É saborosa a novidade...saboroso o medo e salgada a angústia. Doce ainda a incerteza, picante a persistente vontade de ir um pouco mais além...
Dá-se hoje valor ao que ainda não se conseguiu, simplesmente porque o centro se desenraizou.
Agradeço-me a hipótese de falhar.
E que bom é reerguer de uma queda diferente...
Que bom se o chão for já outro e a queda for mais demorada.
Minto se disser não me importar com a recusa...
Mas a desilusão é só fruto de uma expectativa sem nada que a sustente.
Dou-me ao luxo de me iludir...porque o resultado - sem fim à vista - me deixou chegar.
...aqui.
O longe mede-se em esperança.
Sinto a força da diferença e sinto-me diferentemente forte.
O pesadelo dos pés pesados ainda mói e atrasa,
mas de vez em quando já largo as botas, e lá vou eu: pés descalços para a chuva.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Espirro

Apetece imensamente largar as amarras todas,
ser inteira e de repente,
ser...apressadamente.
E tudo o resto que pisava ainda o vestido de gala, e manchava e molhava a sua cauda - o vinho derramado da festa - evapora-se agora. Não fazes falta. Um obrigado, um beijinho, muitas felicidades para ti como para toda a gente. Simplesmente não quero saber-te. Sabe bem...
O medo, tanto...
A liberdade é fresca e faz espirrar de vez em quando...eu gosto sempre de pensar neles, nos espirros, como necessidade fisiológica de expulsar o que atrapalha.
Tenho-me espirrado incessantemente.
Às vezes parece que vou ficar vazia, outras que por mais que espirre nunca sai "aquilo" de que eu me queria livrar.
O desafio é novo e deixa-me a tremer - só por dentro. Queria, quero...mas quando se está em risco de conseguir...é como no resto...naquilo, de sempre...
É outra coisa.
Não mistures.
Não deixo que se enlace a velha errada forma de fazer e tento renovar-me sendo a de sempre...surpreendentemente aquela que tanto tempo esteve ausente...

domingo, 23 de novembro de 2008

A Galope

Tento de uma forma mais calma, às vezes mais agressiva, outras nem tanto...outras tento mentir-me acerca da tentativa como se, saber que tento, me tirasse a capacidade de sair vitoriosa daquio que não é mais que uma simples hipótese.
E estaciono no erro como nunca parei para me sentir contente por ter conseguido.
E não consigo e amplio aos dias seguintes tudo aquilo que faz parte de um erro permanente, de uma sobrevida permanente de enganos e mentiras sobre qualquer coisa a mais que eu, que no fundo, me tem vindo a subtrair de uma forma galopante...
E a galope sigo as pistas do erro e apago o rasto...
ninguém
E grito depois por cima do cavalgar e demito-me da personalidade do berro histérico, do pedido a pedido do que levo dentro...que às vezes me esqueço...eu.

sábado, 22 de novembro de 2008

Forçar

Sentir que falta ainda a força suficiente para afastar a repetição inquestionável...cair, cair, fundo, profundamente enlameado...
Eu queria
não consigo
Apetece-me gritar a palavra que nem consigo dizer
E apetece-me dizer a única palavra que nem sequer o direito me dá de a ter como minha, num instante qualquer...
E dói sem me doer, porque a anestesia toma-me de cima e envolve-me como uma teia...
não me desvio nem a evito,
chamo-a em segredo a mim,
desafio a sua pressa,
olho de soslaio o mundo e o resto que se ausentou de mim
Descanso
...Foi assim.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

restos

Talvez como tu,
querer-te de uma forma egoísta
...a parte que me fez querer-te pela primeira vez.
Tive medo
E Amei esse medo com a esperança que tudo o resto para além do medo fosse mentira.
Vesti-me de culpa,
Só depois tirei a mentira que decidiste despir...para quê?
Para quê veres melhor aquilo que já sabias que não te chegava...
Agradeço-te o valor que me negaste, hoje sei que afinal não era mentira
Esse "resto" que é meu...
que é meu
que é meu!
que é meu...

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Testar ao limite, levar tudo ao limite com a calma agraciada e levemente levantada do chão, de salto-alto, agulha mergulhada, tão fina de se não sentir.
O pé fino da fina perna em cujas verdes veias se fazem sobre elas labirintos de perdição desmesuradamente ausentes de malícia... A terra tem por mania chamar-me da maneira conhecida e crua,

e cais outra vez, só...
só para te voltares a erguer.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Querer-me

A vontade de saber melhor,
de cor cada passo e cada vento novo...
A assustadora novidade tem nela a ironia extrema de se fazer crer melhor do que na realidade se sente
...porque é novo,
porque é diferente,
outra coisa qualquer para além de tudo o resto, conquistado ou perdido...
Mil vezes mais do que alguma vez pude sequer pensar,
é tenebrosa a intensidade do medo de perder qualquer coisa que nunca tive,
que temo e tremo pela certeza de ter e me angustía a sensação de poder perder...
É forte e demasiado grande para esta pequenez gigante,
A união em dúvida pela linha ténue que separa um extremo do outro...


só porque querer-te é querer-me a mim também...

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A Ágora

Nada mais que um mero parecer, uma aparência desleal de se ser substancialmente menos...de Tudo.
E quero mais e exijo mais e deixo de sonhar com o "mais" porque o quero Agora.
De menos.
Não chega.
Não é suficiente.
Está atrasado.
Passou o prazo.
E passada do prazo reencontro o invólucro estragado e, apodrecido, o que lho rompe, de dentro...
A partir do centro, esse simulacro, ou essa verdade.
Que interessa saber?
A soma do tempo, essa sobreposição sem cautela gera distracções que roubam o próprio tempo à necessidade de destronar a simulação que dói mais mas que é...Agora...verdade.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Da subtil diferença

A diferença entre o que se imagina e o que acontece... da ideia àquele estado do tempo a que alguém decidiu chamar: "Realidade". Na imaginação certifica-se tudo à volta, pressiona-se cada carácter retardado e, em dúvida, acolhemos a pior hipótese, na esperança que de alguma das dúvidas o resultado seja melhor e se possa ficar, francamente, surpreendida. A repetição do método, a inevitabilidade do hábito a que o ser humano se afeiçoa com a pele leva ao arrepio de apenas pensar em mudar...mais uma vez a ideia atraiçoa, e a mudança não passa à tal "Realidade"...presa outra vez...presa da realidade mais que da imaginação...ainda assim, na realidade, prisioneira do hábito, mais conhecido que fácil... Invento-me na realidade imaginada e não foi nada assim. Perdi o rasto ao entusiasmo e preferi-me. Ouvi-me, ditei-me o dogma que sinto desde que adormeci de olhos abertos e pose: sentada, perna traçada, pé entrelaçado na perna de apoio ao chão. Habitual resultado depois da dor, ou da falta de quente...esteve frio e o peito deslaçou-se e... eu sem mim...

sábado, 6 de setembro de 2008

Deixei de dizer

Aconteceu pelo lado mais básico.
Primeiramente revelado pela não-assumpção de ser a 100%.
Não disse que queria e o desejo concretizou-se, um desejo não formulado, não assumido como tudo ou nada...O nada disse mais que o que queria dizer, e secretamente tagarelava por dentro, como que a distrair o intelecto do sentir...Só nessa altura a clarividência se apróximou do espaço que o corpo parecia habitar....sem muitas certezas, que para o caso também não importam.
E em vez de tudo, totalmente se imiscuíu do demasiado tempo do "para sempre" e fiquei só feliz por hoje poder dizer "ainda" e por fazer desse hoje um Hoje que comunga e se lembra do espaço que lhe pertence,
Foi o melhor possível e melhor seria impossível...
Obrigo-me a agradecer-me o esforço que regateio em forma de obrigação...Se é ou não...que importa agora? Chega, retornada pelo tempo que a mandou embora de si...recebo-me Hoje, revoltada e revolvida inteiramente, sem conhecer melhor por isso cada recanto...
Desafio o cantar
reafirmo cada passada
volto...
Adormeço acordada

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Sentir-se a vida!

Quero querer.
Só isto
ou tudo isto
...nada mais a mais
que o que poderia deixar de pedir sem um pedido
antecipado ao tempo
...do querer...
Crer,
pela enésima vez feita primeira,
apaixonar-me pelo desejo e importar-me inteira nele,
com ele...
a consequência mais negativa
é desejo
crer que se quer... viva...

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Da impossibilidade de se ser sem...

De repente.
Assim, sem mais e sem menos, sem pedir, sem reclamar, sem sentir qualquer réstia de compaixão pela tanta luta e tanto sufoco, sucessivamente animado de vontade.
Assim, de repente.
Mentirosa.
Tu nunca quiseste outra coisa.
Mas repeti-me, repeti-me a repetição instruída fora do corpo, para ele, nele, aquele a mais que tem de existir quando se quer ser só...um pouco menos.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

nada para poder parar

Primeiro a tentativa desarmada de tirar o chão ao lado negro: nada para poder parar.
Antecipei qualquer hipótese e cansei-me propositadamente, estupidamente, decididamente. Desta vez não me pus à prova, sabia que parar era deixar a porta aberta, sabia que parar era deixar-me abrir a porta, deixar-me e cuspir-me...
olhar-me de fora...
Revistei cada falha anterior e coleccionei todos os erros num álbum: a cada um injectei-lhe a certeza automática, gritada e sem som, uma só palavra... aquela,
do querer,
do saber que se quer,
o caminho escolhido, pisado e repisado, almejante do fim... do princípio verdadeiro de tudo o que é só Teatro...
No desejo de querer chegar-um-pouco-mais-longe programeu ao milímetro quadrado cada minuto desta eternidade estendida entre um período que parece a vida toda e a incógnita do resto a que se chama "para sempre". E falho.
E falho.
E paro depois do erro e saboreio toda a raiva, toda a mágoa e todo o medo.

domingo, 10 de agosto de 2008

de peito embalsamado...

A consequência do desorgulho do saber que se cumpriu e fez, exactamente na proporção esperada e desarmada de esquemas para voltar atrás depois do sim, mesmo desalinhado do resto de dentro... A respiração afundada debaixo, abaixo do peito segurado, embalsamado pelas horas todas do dia e metade das horas da noite, até ao pedido rápido, silencioso para não ser perturbado, que o sono me leve até à alvorada seguinte...E acordo, e acordo-me e ergo-me mais uma vez...e o dia começa e termina antes do próximo e a força e a vontade tem de ser, senão, parecer a mesma vontade de qualquer coisa diferente, do outro desejo que nunca se deixa dizer.
E diz-se sem palavras no tempo intercalado em que a respiração profunda e ofegada pelo cansaço fazem picar os olhos de quem me olha...E desorgulho-me, quis tudo inteiro sem querer sequer a parte...E repetia e dava-me sem vontade...assim, ao mesmo, à mesmas...parecer, aparecer para viver...

sábado, 26 de julho de 2008

Copo de Alma

Depois a apatia,
a inexistência na berlinda,
O apagão que faz barulho entre o silêncio de tudo aquilo que não sou capaz de dizer.
Sei,
não quero saber, não quero ouvir, não quero conhecer, não quero obedecer...pára!
Não pára nem eu me demito da posição mascarada, da fortaleza de lhe fazer frente. Ao mesmo tempo o maior desejo e a maior fuga, a dor e o prazer, a felicidade, a plenitude e o fim.
Demasiadamente maiores que eu...não da fragilidade do corpo, mas da debilidade do resto, o lado incomensurável e ilimitado, não mais pelo tamanho que pela invisibilidade.
Sou sem,
Sou vazia,
depois inteira,
depois desequilibrada entre a presença e a lua,
um pé, o dedo e a pele de fora,a carregar no chinelo o peso do mundo,
em cima dos ombros,
em cima do tronco, das pernas e deles...
A pele congela entre o calor dos corpos transbordantes de tudo...
Invejo, quero, imagino, construo o filme...cada frame.
Afirmo, grito-me...
injusto injusto injusto...
Uma espécie de brinde com o copo vazio.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

À Austeridade.

A austeridade.
Penitencio-me, de joelhos, frente à revisão acelerada, só para caber tudo.
Olhos baixos, cabeça curvada. Eu sei, eu sei, eu sei. Não sei como.
Desta vez não questiono, nem detecto microscopicamente o erro, não me sirvo dele para o impulso...Nem o esqueço nem o nomeio, pelo receio escorregadio que se sinta homenageado por mim. Guardo só a força que o anterior assalto não resgatou. Metamorfoseio-a e metamorfoseio-me, ergo a pele mais separada do corpo, visito o jardim dos afectos que tem a mania de se esconder por baixo dela, não pego sequer na chave...ver de fora chega-me, senti-lo inteiro, de cores e de cheiros.
Hoje, nova aurora solarenga sem a janela sequer aberta. Sol ou chuva, ou vento, ou frio...Interessa-me mais o jardim, aqueço-me nele. Em ti, em ti e em ti, um beijinho, um pedido maior de orvalho com aroma a ti e a ti e a ti. Fecho os olhos e o o ar expira-se pelos poros desentupidos de dor...O vácuo tem a mania de fazer-se de solidão, perversamente...A excelência do intacto...também a perfeição inumana de querer o amanhã igual, não, Igual ao ontem.
Quem dera o vento se atrevesse a passar sem se arrepender ao primeiro choque da diversidade entre o que se pensa e se sente.
Austera a mudança imunda da semelhança de nome sempre igual.
Suplico a última vez, cumpro a promessa e chego a fazer batota, a ver se cola, a ver se pode ser...
Inútil. Indiferente à mudança, indiferente às dores do corpo, pelo esforço... Querer mais, infinitamente mais...nem mais do meio, nada a mais que a metade me chega enquanto o cume não sentir a fina bandeira fazer-lhe parte do corpo. A exigência de só isso chegar, a existência ajoelhada e a clemência da humildade espraiada.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

E ainda não me conheces.
Incrivel.
Preferi durante muito tempo demorar-me na crença fácil, de contestar mas aceitar por dentro, uma espécie de birra de miúda que se ampara nas tiradas sabichonas dos crescidos.
Dizia que não e corria para longe a proteger o que acabavas de dizer.
Sabias-me melhor e eu confiava nessa tua visão Raio X porque era quente a segurança de acreditar que admiravas o bom que eu duvidava e acalmarias a dor invisível.
Não deste por ela, nunca. A seguir à crença veio a dúvida, mas era tarde.
A nódoa negra cresceu, contagiou o embrulho na tentativa desesperada e de tomada de inconsciência de se mostrar.
Angustiantemente.
Pediste-me as mentiras em espiral, as cor de rosa, as engraçadas
Eu mentia alegremente, anestesiada do resto nesse instante, estava a fazer o melhor para ti mesmo que me estivesse a culpar do egocentrismo que implicava essa criação do argumento, realização e interpretação, três em um,três em mim...
Era essa verdade a única que estavas disposta a receber, mostravas-me o desespero e culpavas-me por ele cada vez que o deixava de fora do figurino a minha roupa.
Continuavas a dizer que sabias a verdade, que me sabias muito melhor que aquilo que eu pensava... E de confortante isso passou a revoltar-me... Preferi acreditar que te enganavas...
Pela ignorância não te podia culpar
Melhor acreditar na frase que em miuda não tinha eco cá dentro
Ainda não me conheces.

domingo, 13 de julho de 2008

Voar

Sonhei-me numa asa.

Senti-me no vento sem me ver...liberdade

Das portas todas abertas, até essa...E dói, e confunde, baralha...Organizadamente, sem pressa.

A asa passa-me frente a cada entrada, sem nome e sem morada, sem moradores, só transeuntes albergados do sol...
Voo-me na asa aconchegada pelas bárbulas invisiveis, feitas penas...Precipito-me para a curiosidade de saber melhor o mundo a que a asa me roubou...não roubou, mas eu julguei que sim, só porque é mais fácil dar que guardá-la inteira.
Há quanto tempo meu Deus, quantos intermináveis momentos se contagiaram uns aos outros para me ausentarem... E a dificuldade de explicar a facilidade masoquista do isolamento inteiro do corpo e do seu "dentro", muito maior, transbordante, e questionador da média permeabilidade da pele.
Tudo em questão. Querer, precisar de um caminho ou dos pés neles...Ainda não sei. Já soube e felizmente soube-me também enganada...Obrigada. a Certeza,
Tua.
Eu sou para Ti.
Ergo a cabeça e rodopio em cima da asa que voa a rondar o mundo inteiro...Sei melhor dos passos embora ainda custe muito pisar as pegadas. Fixo nelas o olhar, deixo de precisar do resto que não quero, que odeio, mas que amei alguma vez por julgar do pior o possível para mim. Saber-me amada. A liberdade.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

inDiferença

Desta vez bato na boca e não me deixo dizer...Só que a voz de cabeça, irritante, diz-se e ri-se de me poder impedir de a calar.
Eu não queria dizer que era a última vez, porque nas outras vezes todas em que o disse, não foi.
Eu não queria dizer mas ouvi que era a úlltima vez. E mais uma vez, não foi.
Destruo o pensamento e faço-o à mão...desageitadamente genuino, arteanal. Dizem que à mão dura mais, é mais caro e tudo...Pagam-se as mãos para além do artefacto. Engraçado.
A feitura desenvolve-se ao mesmo tempo que o caminho se pisa. Nunca do príncipio gasto...parte-se antes de outro sítio qualquer, sempre mais à frente, enganadoramente adiante. Esqueço a hipótese, a dúvida e reafirmo o "adiante". Somo-lhe a cabeça erguida. Melhor assim.
Ocupo o tempo da contagem de partida com um primeiro passo mais impulsionado. Ar, ar, ar. Chão outra vez.
A cabeça é agora assustadoramente pesada. O corpo inverte-se. Só cabeça.
Amordaça-me, magoua-me, bate-me. Peço e repeço e repito outra vez. Não confies, por favor.
Encontro o corpo meio perdido e a cabeça longe.
O som teve mais significado e a superstição deu por si mais próxima do ponto em que se enunciava.
Odeio-te com toda a força que o corpo me pede. Gasto a energia na armadilha que a força maior me nega, a rir-se.
Ausento-me à raiva de sempre.
Qualquer coisa diferente.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Olhar

1ª vez: finjoque não te ouvi.
2ª: desperta-se o medo, há uma possibilidade.
3ª: o lado hipotético assume-se fortemente, agiganta-se ao meu lado.
Pés no chão, nada a temer...as ideias têm a felicidade e o desespero de não se verem...
Demonstram-se, já foi assim...Tanto.
Revejo cada ponto do perigo, habito os segundos. Nada a temer, estou ainda no mundo.
Chamo a terra aos pés, aperto bem cada um dos atacadores.
All star durante a noite sempre deram jeito...Gosto pela primeira vez do tempo que demora a retirar cada pedaço do atacador pelas ilhoses. Elegantemente.
Não há pressa, há ainda uma distância de segurança.
Sento-me na terra e ela ampara-me. Na Terra, agarro-me aos pés, enterro nos seus dedos os dedos das minhas mão e impulsiono-me para a frente. De cócoras estendo as duas pernas em simultâneo. Estendo os gémeos ao limite, arqueio a culuna naquela posição. Sorrio no recordar: "Miuda!Como é que fazes isso?", O instante acaba logo e a coluna segue quase sem mim. Para cima, como se quer, a funciona graviticamente ao contrário...Sempre tive alguma dificuldade com as leis da Natureza. Sem dúvidarporque ela é de Deus para nós...
Peço repetidamente perdão...Adormeço lavada e salgada, acordo num sonho, desperta, novamente ao contrário do direito...daquele conquistado...A dor fez-se matéria e aliviou-se em mim...Ausentou-me à terra e tenho, de repente, os pés endeusadamente limpos. Corro atrás da terra, grito...Ninguém, ninguém...tanto e branco, tanto e ...dor...
Acordo e respiro.
Acordo e fujo antes de abrir os olhos...
O cume da ansiedade atinge-se rápidamente, devolve-me o sono porque desgasta...Medo, medo, medo, medo, medo, medo...
Qualquer coisa ou alguém

sábado, 28 de junho de 2008

sexta-feira, 27 de junho de 2008

A palavra

Apetece-me que o fim do dia seja só o cansaço e as sensações no corpo dos passos.
Apetece-me não me apetecer mais nada depois.
Apetece-me que o tempo não me pressione nem eu a ele...Não quero o resto igual a ontem e a antes e a quase sempre desde o dia em que me recusei pela primeira vez. Digo que não quero e obedeço à ausência com o empenho da aluna dotada para corrigir as inequações mais dificeis.
A matemática aqui está errada...1 e 1 são sempre mais que 2...Porque sobra, e o restante aprisiona-se ao bloco de ser que te diz "estás viva"...A metafísica substitui-se à matemática, peço para adormecer, mas as palavras e os significados têm uma correspondência diferente...o querer dormir, a vontade de dormir, revolve-se e devolve-me um esejo secreto, cru e ácido...Aceito a vontade e recuso-me a dar-lhe esse título...Não, disso não...Nunca.
Apetece-me apetecer outra coisa...qualquer coisa que seja a palavra e o significado deste lugar de hoje, juntos. Deixa-me querer. Deixa-me Crer.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Peça

Pé e chão pegados, amordaçados um ao outro. Não largo, obedeço ou rebelo-me. Grito antes do silêncio.
Preciso de ouvir, menos de escutar, mais de fazer do som o trilho e rastejar se for preciso. Aguento, aguento como nunca, recuso o tic-tac, grito-lhe por cima...ah, esse...Repetidamente feito hábito do desconjunto.
Torno às regras, releio ponto por ponto. Dou-me a certeza de cada palavra, atribui a cada som um eco e um sentido, uma pista nova. Nunca se começa do mesmo ponto. Perde-se antes a noção completa do tempo e do espaço...Agradeço o caos, habituo-me ao vento até não ser difícil ter os olhos abertos, escolho uma posição ao acaso, não digo o que a cabeça manda porque sou, momentaneamente, supersticiosa.
A pressa não tarda, adianta-me os pés às ideias.
Disseste que sim, miuda! Só pensaste depois.
O que é a vontade?
Prefiro a dúvida... por enquanto e enquanto me parecer mais fácil obedecer ao pensamento. Duvido da vontade posterior ao impacto e ao contacto...a pele costuma ter mais razão e eu sempre tive medo do toque
A dificuldade teima em ser protagonista da distribuição dos pontos de avanço

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Sísifo



Igual.
Menos força,
Mais forte sem ela porque ela supera-se a si mesma e anula-me...
Esqueço-me e a pedra rola.
Acima do corpo, porque a deixei mais além e me vim embora, montanha abaixo a colher mal-me-queres selvagens, dos mais bonitos...
O braço lembrou-se antes de mim...incrível como o corpo tende a anteceder-se...em tanto...
Foi o braço quem parou a pedra antes de ela me passar por cima, amparou-a e fê-la ressaltar com o impacto da energia cinética que lhe vinha integrada...
Os restos do corpo juntam-se, só a força os desacompanha...
Graviticamente atraente, a pedra...
Exijo chamar-me ao corpo, mitifico só a vontade que nunca me respeitou.

segunda-feira, 16 de junho de 2008

Tela

Dou-me ao vento.
Desprendo-me inteiramente, largo-me do controlo que aperta mais que segura. Avisto-me só, mais longe, só um pouco...Um pouco mais só, menos solitariamente acompanhada. Não te agradeço.
Danço, balanço...não conto as voltas, esqueço até os números...só por instantes, ainda são muito vivos, os inteiros, os com vírgula, os negativos, os fraccionados.
Passo à frente, passeio-me no corpo inteiro, desafio a alma a transbordar-me, habito-a, sinto-lhe os poros. Agradeço-lhe ter ficado.
O vento amaina-me a dor e canta, encanta o tempo e eleva-me o corpo...Leve, leve agora, leva-me longe, sonha-se a cores claras com nuvens de algodão.
Acordo.
Desço escadas, só demasiadas, sem número.
Entro.
Pego.
Compro.
Volto com o corpo e com a tela,
Pinto a cores,
Agradeço a vida.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Tortura

Pára, por favor. Já está a doer.
A dor. A dor.
Ela e ela,
só ela sem mim,
mais ela que eu,
ela e eu uma na outra,
entranhada, espezinhada.
Precisei de a sentir para saber que sentia.
Agora sinto e não suporto senti-la.
Tanto.
Demais.
A Mais.
Qual o princípio?
Esta sede revira-me na procura perversa do ponto sem "a mais".
Vai estar sempre a mais. Sempre, enquanto ela estiver aqui. Sempre enquanto este grito for tanto e lhe deres de ti mais do que a ti ou a qualquer coisa ou a alguém. Sempre a mais. Quando eras menos, mais "a mais" ainda... Regozijo de riso sarcástico eternizado nessa voz...
Essa não és tu.
Não é de ti nem para ti.
Eu não sou para ti...

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Lagarta

Passo, passo, passo. Chão. Ar. Vazio outra vez.
Caí do outro lado, ausentei-me do chão e nesse "ausentei-me" disse...tudo.
Resgato-me. Acordo. A tentativa foi só no sonho, do lado de cá sou menos forte...os músculos não obedecem ou talvez a vontade não lhes seja suficiente.
Minto? Digo a verdade? Confesso? Iludo-a? iludo-me? Melhor para fazer com que seja verdade, melhor para... Tudo desculpas... A ti. Desculpa.
Medo. Medo, medo, medo. Raiva outra vez... Era tão fácil! Vá lá, renega a pieguiguice, resigna-te à única saída: conseguir.
Não há, não há outra hipótese nem outra meta nem outro sol nem outro respirar acalmado pelo clima temperado com o carinho de Deus.
Mais um vez.
Mais uma, de outra maneira.
Pensa, pensa qualquer coisa diferente, qualquer coisa que te faça diferente, que te faça começar de uma maneira diferente. Já sei. Respiro pelo nariz: faço o ar tocar o fundo das narinas e entrar directamente para a barriga. Dizem que é a respiração correcta. Observo atentamente a primeira, depois reparo na atenção para a respiração demasiado perfeita. Errado, errado, errado. Não precisas de saber. Vá!
Concentro-me na árvore ao fundo, descentro-me.
Não dei por nada. Sinto. Está a contar.

domingo, 8 de junho de 2008

Número

DEMASIADAMENTE GRITADO!
Sinto que não cabe. Mas que está, aqui. Faz faísca em cada toque, balança-se o número da forma mais recta que imaginar se possa. Recta, linha, aresta cristalina que não esconde nada, não ocupa. Cresce o número, orgulha-se e incha-se para se me mostrar melhor, grita-se a si próprio na direcção interna.
Não quero, JURO.
Está-me agora mesmo a dizer que tem de ser, que tenho de voltar àquele lugar porque agora vai ser diferente.
Não quero, juro. Não mando.
Os caminhos encerram-se todos ao mesmo tempo, vedados de mil troncos sobrepostos em pilhas. Só um espera... Cheira bem, é bonito. Bonito de mais para ser verdade. Parece novo mas há um sabor amargo crescente na aproximação que lhe faço. Sentido único e aquele número.
Terreno plano, ilusoriamente plano e que é, afinal, um escorrega molhado... Sento-me à beirinha...
Perdi-me. Perdi as pistas. Caminho nenhum, demasiados passos ausentes de direcção.
Vou?
Fico, desta vez espero o tempo. Vou conversar com ele, perguntar-lhe o que acha... Sempre que o espero, qualquer coisa acalma.
Chamo a noite.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Pele

Já está. Ou quase.
Tenho um monte atrás de mim, de tralha sem prazo de validade...despejaram-me as gavetas, as mais pequenas e as maiores, e deixaram-me sozinha... Fui eu. Não. Melhor, era mais fácil que não fosse...balbuciava um "não fui eu" e olhava de soslaio a barafunda imensa que ameaça prender-me os pés, desprendida, de saída.
Está certo, não é justo. Deram-me as instruções todas e muitas vezes fiz-me desentendida dessa linguagem mecânica, precisava de pele.
Tenho um monte atrás de mim. Às vezes tento pôr-lhe as mãos...de repente os braços crescem, entrelaçam-se e deslaçam-me a vontade de rearrumar tudo de novo...Ah! o erro. É incrível e apetecivelmente preversa a tentação de pôr tudo outra vez dentro da gaveta, fechá-la e dar um ar limpo...afinal, o "monte" já não é. Foi, só. Mas é minha querida, é. Não desparece, antes se desfaz e metamorfoseia-se com ácido em vez de sangue.
Revolto-me com a teimosia e agradeço-lhe o fardo da antecipação um pouco sofrida, pré ocupada: "as gavetas têm de ser «arrumadas» algum dia...
Fico nua, com frio, feliz pelo frio na pele, pela pele e pelo que a roça desconfortavelmente, sem pressa, pela primeira vez. Tenho medo e não toco nem esfrego...Frágil, nova, ou talvez recém-nascida. Prefiro porque sinto.
Não ouso sequer chegar-lhe ao avesso...saboreio o direito, por direito meu.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Novelo

Reencanto o recanto mais uma vez.
Encantadoramente hipnotizo os passos. Não penses, não penses, por favor.
Sigo só, desacompanho-me dela...Tão presente ainda.
Reergome ao sol, recomeço, agora não do começo...doutro sítio qualquer. De outro lugar, de outro som... O ruído surge com cheiro a ferrugem. A acidez.
O suco renova-se, as veias acalmam as superfícies arredondadas que se riem perante a ameaça de rebentar. O medo é grande, nunca maior que o outro, o latejar constante que ordena e impede. Talvez esse outro não tão grande como o outro ainda...Qual? Perdi-me antes de o ver, desenrolei o novelo felpudo e emaranhei-me inteira sem deixar a ponta à vista. Há nós que não se desfazem sem cortar... Resolvo o novelo obsessivamente depois da certeza, aquela certeza tão à vista, esmagadora, crua e por fim...real: é preciso cortar.
Digo que sim, repito-o. Não quero pensar mas precipito-me...Penso sem querer...remedeio pensando com as mãos. Lucidez. Sei, quero...Sei tão bem o que quero. Desacredito-me e cumpro, obrigo-me. Sou a minha madrasta má. A agressividade toma-me por conta e tempo, somo-lhe a dor... A desilusão em forma de gente. Alegro-me ao fim do dia, desesperadamente contrariada dou "parabéns", afago sem braço nem mão com o tal carinho... Inundo-me.
Já Passou, adormece...por favor.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Processo

Quando é que chega?
Desconfio do tempo...todo a mais como o palpável, o resto maior.
O medo envelhece mais rapidamente e a velhice morre de medo que a vida piore ainda.
A superfície arredonda-se e endurece-se de uma dor aguda e ácida.
O saber corrosivo chega mais longe e ressuscita mais do que eu pedi.
Juro, não fui eu quem desejei.
Culpo-me do desejo.
Volto a culpar-me dele com os apêndices todos...O processo é maior neles que no corpo.
Kafkianamente demoro cada interlúdio e floreio-lhe o já de si demorado tempo. A mais, a mais como o corpo, demasiadamente enrolado e tendido, ininterruptamente como o resto colado a ele.
Demoro-me a chamá-lo, recuso-me na chama e queimo-me a cada precipitação para o caminho que sei ser mais certo. Interrompo cada passo concreto, justifico cada incerteza com a minha falibilidade, demoro outra vez, outra e outra. Culpo-me agora mais da demora e demoro-me mais a culpá-la que a restringir o tempo sempre a mais que se lhe vai juntando. Envergonho-me da culpa toda junta, tão grande para alguém tão menor.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Balançar

Barulho.
Som e movimento, a impossibilidade de habitar duas realidades ao mesmo tempo. Eles dizem que é possível, eu sei que me mentiram.
Pego no peso inteiro antecipando a colocação meticulosa, mas sem ver, das luvas de Latex.
Tudo esterilizadamente sujo, cirurgicamente inverdadeiro.
Acompanho o balanço, pego-lhe no princípio que eu própria nomeio, obrigo-me à prontidão.
Vá! Começa!
Esqueci-me e entretanto envergonho-me do esquecimento e invento melhor que da ultima vez que julguei que sabia.
Seca, seca de mais, gretada até. Deserto. Tudo árido.
O vento não existe.
Insisto no balanço, crio pela primeira vez: Vento.
Balanço-me nele, emociono-me na minha consolidada ignorância em bloco que afinal, não existia...Duvido primeiro, esqueço depois. Hoje não, amanhã repenso se a dança se ritmar por si e o peso se dissolver no vento que agora transborda pelos poros da pele inteira.
Amanhã talvez...sem adormecer...sono, não me embebedes agora, preciso desta sobriedade até que se agigante e possa tocar-me no vento. Chega! Só porque ainda não cheguei.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Tremor

Peço num instante às mão que dêem um instante aos dedos. Não me ligam, talvez gozem até...
Guio a ansiedade para o lugar mais calado, forrado a caixas de ovos e cortiça e tudo aquilo que possa impedir o som de sair. A combustão lança-se mais para deintro ainda, numa forma espiral, porém gasosa...inodora, incolor.
Digo que não quero.
Hoje não quero.
Não vou.
Não faço.
Não.
Não digo nenhum dos nãos e afirmo sempre a positividade decadente em que me faço transparecer na passagem inquestionável dos momentos a seguir aos anteriores. É sempre o próximo, no róximo, para o próximo.
Nunca foi.
Nunca fui.
Adormeço e acordo.
Acordo a desejar a póxima hora de adormer.
Acordo. A vida.
Na vida.
Apaixono-me e dou razão às teorias sociais e de contexto das emoções. Sou exemplo na cultura dos afectos e retiro aos animais aquilo que na verdade me faz sentir inferior a eles. Envergonhadamente abro os olhos na manhã seguinte. Primeiro triste, depois contente de ser já manhã e de não me ter demorado nas insónias ruidosas e sufocantes.
Mais um dia para cumprir.
Preparo meticulosamente a falha e compenso-a. Culpo-me mesmo ainda antes de falhar e retiro à culpa a sua identidade para lhe devolver a minha. Acalmo 0 tremor, dou-lhe nome, trato dele como nunca ui capaz de tratar de mim...
Choro as nuvens do céu inteiro e pela primeira vez sinto.
Afinal...
Agradeço.
Sim, vou.
Caminho intensamente, roubo os passos às pessoas todas das ruas todas aqui perto.
Toco à campainha, subo dois degraus de cada vez.
Apercebo-me que pela primeira vez, hoje, parei com umpé ao lado do outro. Entro, cumprimento, sento-me... Não digo nada...Ela ouve.
Obrigada.

segunda-feira, 26 de maio de 2008


Assisto à discussão acesa e sinto-lhe o crescente aumento da temperatura.

Culpam-se. Gritam. Agridem-se sem se poder tocar apesar de estarem juntinho desde que nasceram.

Quem é que começou? Respondem ao mesmo tempo e nem um nem outro quer dar a parte fraca.

Enrigecem e eu sinto a melhor das dores. A do corpo, com nome.

Músculos e tendões debatem depois de chegarem à conclusão que nenhum vai ser ilibado. Condenados e ainda por cima juntos.

Voltam as costas uns aos outros, os vários. De meio da perna ao alto do pescoço... parece que o sangue não circula e só uns restos chegam ao cérebro para processar bem a sensação, acentuá-la e justificá-la. Dou por mim a viver o masoquismo, a descansar obrigada, nele.

domingo, 25 de maio de 2008

Escorregar

Há qualquer coisa a fazer-se mover por mim. Foi tão cru, tão transparentemente cruel das outras mil vezes anteriores que agora... Paraliso. Imóvel de corpo digo para dentro: pára, por favor! Chega. Não quero tudo outra vez, tudo de novo já tão velho. Identifico os passos, releio o manual da sequência ritual de androginia exilada. Desta vez a sina diz-se por si, atravessa todo o percurso descendente e detém-se na inevitabilidade do reerguer. A sensação é demasiado forte para me julgar capaz de a arrancar de novo, mesmo sabendo que é esse o caminho que vou seguir. Para cima, para o alto, para Deus. Descobri o meu inato reflexo daquilo que me julgo incapaz, o impulso que me tem feito escorregar a vida toda, curta mas inteira ou quase. Escorregar é mais perto do andar em pé, mais perto do que ficar quieto ou de me estatelar no chão. Aprendi a escorregar. Aprendi que escorregar pode ser gracioso e envolver a alma e o corpo e ser a minha primeira comunhão. Recuperar a alma do chão e juntá-la ao corpo. Habitar o corpo, sentir o corpo, escorregar de corpo. Encontrar a melhor maneira de escorregar...porque é só isso: um movimento interior desamparado mas ávido. Ouvir de dentro o destino de escorregar e de demorar nele mais tempo que na queda. Aquilo outra vez, o som, a sensação e o medo a sobrepor-se a tudo. A dor de cair retida na inevitabilidade de voltar a tentar.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Thopos

Pressa. Andar depressa, mais depressa, um pouco mais ainda. Andar e andar, esquecer até o andar, tudo tudo menos a pressa. Não pensar, só pressa. Mais depressa!
Só a pressa, só a pressa importa agora. Esperei demais, demasiado tempo e é a pressa acumulada que me faz correr agora.
Suspendo um instante qualquer, à sorte ou ao azar, não importa...
Ainda não está, não é aqui. Choro por dentro o medo de nunca chegar, de já ter passado e não ter visto, da falta de pressa, da pressa demasiada. Grito por dentro, o medo e a raiva, a raiva de tanto medo acumulado em forma de força exercida no sentido errado. Morro por dentro, encontro a vida e ela goza comigo...em vão em vão e vão. Dor por dentro, demasiada para se conter, congela em pé os pelos do corpo inteiro, acorda o corpo do modo de piloto automático. Não pode cair, nunca pode, nunca soube ser possível cair, ou levantar depois disso acontecer. Demasiado tempo de pressa invertida, de pressa perversa para chegar lá... A utupia feia, mais feia que utópica mas ainda assim...utupia.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Ter pé

Cada vez que cai ressente a queda numa força maior que a da realidade.
Ensinaram-lhe a pensar com a cabeça e a adequação demora a chegar... é que pensar é mais das mãos do que qualquer outra parte do corpo. Ela sabe. Só ainda não sente. É é no sentir que estão as mãos. Mais do que em qualquer parte do mundo.
Demora-se na queda, mais do que no chão ou no estar de pé.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Campainha

A campainha toca.
Alguém a quer à porta.
Alguém lhe pede a presença, o mesmo alguém que pensa que tê-la presente é tê-la inteira.
Ela está abraçada pelos lençóis brancos que a tia lhe deixara de herança, demasiado embrenhada neles, extasiada pelo afecto que lhe roçam na pele.
A campainha volta a tocar, agora mais demoradamente.
Confunde-se se será sonho, o toque dentro do sonho ou o pesadelo da realidade.
Pensa só na campainha, nunca que é alguém que a toca.
Depois desconfia... Tem medo da hipótese, congela o corpo para o vento não ser maior.
A campainha toca mais uma vez, depois o toque... o som do punho cerrado a tocar e a afastar da madeira.
Conta.
Quatro vezes.
O "alguém" ganha corpo e põe-se a pensar em todas as hipóteses, pessoas que poderiam insistir na sua presença à porta de sua casa.
Odeia a pessoa, já com corpo mas ainda sem rosto.
O silêncio diz-lhe que está de novo sozinha.
Sente frio, a raiva da interrupção vira-se do avesso...Oferece cara ao corpo e corre de pés frios no chão gelado até ao hall. Olha-se ao espelho, acredita.
Abre a porta.
O elevador chegou ao rés do chão.

terça-feira, 13 de maio de 2008

Disseram-lhe que quando fica escuro o sinal permaneceria.
Não o encontra... Olha o escuro com os olhos mais abertos que durante o dia.
Tinham-lhe dito. Alguém lhe prometera.
Encontrar o sinal seria a certeza do mundo que pisa ser ainda o mesmo. A dúvida é aterradora mas parece-lhe demasiado ridículo esperar que o sinal se encha luz... ele nunca se apagaria. Será o mundo ainda o mesmo?Ou os passos os mesmos num mundo já outro?

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Sede

Gostava que a pressa se dissesse de outra maneira. Ou então gostava de a dizer mais devagar, de demorar nela mais tempo e lhe sugar o sentido para depois acalmar...A pressa corre-me e paralisa-me até... às vezes. Às vezes só depois de não haver mais nada a fazer ou depois de eu acreditar nisso, na facilidade de não valer a pena ter pressa. Dizem que a pressa é típica dos novos, de quem tem ainda muito tempo, mas eu nunca percebi isso... Não são os velhos quem tem menos tempo para viver? Então?! Tenho pressa, ainda não passou, e ainda bem...mas pressa da outra, da que não faz querer correr, só perguntar...tenho sede.

domingo, 11 de maio de 2008

O mar que enrola na areia

Tenho saudades do mar... Esqueci-me que a primavera vem logo a seguir ao inverno e com ela uma data de gente a invadir a areia, a correr que nem loucos cheio de sol por dentro e por fora da pele. Este inverno foi demasiado rápido ou então fui eu que me atrasei e perdi-o... É no inverno que vou mais vezes ter com ele, com a chuva numa mão e o vento pela outra... Sinto-me acompanhada... da mistura perco-me, esvazio-me da vergonha e regresso... Deixo o mar e troco a saudade pela calma da sua persistência, e é como se ele falasse. Eu calo-me como se essa fosse a única maneira de resguardar os segredos, um pacto entre os nossos silêncios, a certeza da paz, depois...

sábado, 10 de maio de 2008

Montanha

Às vezes a linha recta não existe, as voltas tornam-se não só necessárias como o único modo de fazer o caminho. Enquanto as percorria ocupava-se a pensar na perda de tempo que a inexistência de um caminho mais curto lhe causava. Perdeu toda a energia, consumiu-se inteira por dentro só a imaginar. Anoiteceu mas nunca perdeu, o caminho era demasiado certo e, sem saber bem porquê tinha a nítida sensação de sabe-lo de cor. Um passo, depois outro e outro ainda. Queria chegar. Só o fim não chegava e a ansiedade tornava-lhe o corpo demasiado real para se perder acima da cabeça a prolongar o "se...".Decidiu habitar os pés e envolver-se no som deles a carregar o chão. Aumentou a velocidade e seguiu hipnotizada no seu balançar. Depois de tudo quis parar, mas não podia... não havia nome para a paragem, morava num não-lugar agora. Não sabia ainda o que era a utopia, sabia só que ela era estéril.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Eco

Um grito fugiu na esperança de encontrar um muro onde pudesse nascer, nascer à séria como as pessoas. Chegar ao muro seria como desabrochar, sair da bolsa da mãe, expulso do útero. Não pensou antes de partir e percorria apenas o caminho demarcado na sua fantasia, ainda segredo por não ter sido gritado. Houve um dia que pensou voltar atrás, mas lembrou-se que de onde tinha vindo a única regra era a impossibilidade de inverter o sentido...e, se já tinha saído, não podia voltar a entrar. A falta de alternativas gelaram o grito e quando estava quase quase no fim da queda, demasiado longe, um sopro de Deus devolveu-lhe o rumo, e desta vez...seguiu. O vento parou e o grito quis voltar a encontrá-lo...sentia-se demasiado sozinho. Um dia, pensou na chegada. Pela primeira vez pensou verdadeiramente no ponto final, o objectivo último. Sabia que o caminho não ia durar para sempre e percebeu, pela primeira vez que o muro seria a sua última cama.

sábado, 3 de maio de 2008

Mudar

Às vezes o desejo da mudança vem com ar de "nunca chegues", nunca venhas ou eu morro. A ameaça infantil de quem não sabe o que diz... e ao mesmo tempo deseja, de alma e corpo já adultos. Prefere ficar no limbo, entre o passo que não se deu e a preparação para o fazer. Há dias com certezas, com a força estagnada e em ebulição nos músculos, tudo sublimemente pronto. Ninguém pode tocar. É que a força é por vezes a fragilidade maior, o diamante com alma de vidro. A distracção é invisível, sem corpo. O medo surge em forma de poça da chuva que caiu nos telhados e o pé sabe que lá vai cair...Não vale a pena,não vale a pena tentar desviar o rumo, vais lá cair e ris-te de escárnio do teu pé. Começaste a voar. Chegou o dia da mudança.

Acorda, foi só um sonho.

É preciso muito mais do que isso.

Dorme outra vez.

terça-feira, 29 de abril de 2008

não ter tempo

Acordou sobressaltada.
Lembrou-se da pressa. Não tem tempo. Há qualquer coisa, qualquer coisa ou alguém à espera. Está atrasada, agora demasiado atrasada para correr apressada para o encontro. O tempo é outro e engana. As nuvens não dizem nada nem o dia nem a noite. Não importa, a pressa agita por dentro, revolve o sangue, desperta-lhe o calor. O sangue desata a correr em êxtase no sentido contrário ao de sempre. O sangue quer sair pelos poros, habitar, habitar o corpo, senti-lo, encharcá-lo e largá-lo depois, deixar nele o sangue coagulado, ressequido depois... O cheiro a sangue faz esquecer a pressa. O comboio apita, aproxima-se, chega. Parte. Desta vez, como as outras, para sempre.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Crer

Atracção. Do que é difícil e nem se sabe se se quer. Do que se quis em sonho e deixou de se querer pelo encurtar da distância...porquê? Do sonho ao medo, um acordar que nem precisa dos olhos abertos...vê-se de mais, encandeia. Outra coisa, outra coisa que não esmague, que não sufoque e ao mesmo tempo o aperto de tentar fugir...de escapar como uma miúda pequena ao Encontro. Querer muito e repudiar ao mesmo tempo. A ambivalência transformada em forma de vida.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Se o sorriso falasse

Se o teu sorriso falasse. Que diria? teria eu alguma resposta? O sorriso não fala porque também não quer resposta... O sorriso cala...às vezes a dor de não se saber sorrir... sorrir de verdade. Que verdade? Sorrir é bom... dizem. Gosto do teu sorriso, gosto que gostes dele, porque enquanto gostas dele distrais-te do que sou sem ele.
A perversidade.
Saber que não és nada, que tudo o que és a mais que o nada é... abaixo, fundo. Escuro. Não sabe sorrir, por isso fá-lo a toda a hora, e nunca o viu...ao seu pelo menos. Se o sorriso dela falasse dir-te-ia tudo aquilo que ela nunca aprendeu a dizer... e tem vergonha, vergonha molhada e espezinhada por uma culpa que veio de outro lado...porque ela era só um criança. Hoje culpa-se. Hoje dói-lhe.
Hoje.
Sorri.
E tu sorris-lhe de volta.

Ser de outra maneira Ou outra maneira de ser

de não chegar.
de falhar,
de ser menos
de ser demais
de não aguentar
de não suportar
de desistir
de regredir
de atrasar
de não querer
de não querer querer mais
de não saber
de não sentir
de encontrar
de atingir
de nunca ver
de sentir para sempre
de nunca mais sentir
Medo.

sábado, 19 de abril de 2008

Aconteceu

Ela pensou que não queria, depois pensou que não querer era querer de outra maneira. Envelheceu e continua a não querer mas cai, recai no erro da sua recusa.
O impulso inexistente do erro corta-lhe o resto do impulso de vida que ainda tinha.
Esqueceu-se de não querer e volta à morada proibida sem muito esforço e poucos euros. Continua com medo e quer fugir. Mas já entrou e fechou demasiado bem a porta para poder sair a correr. Agora não há nada que ela possa fazer. A inevitabilidade sempre lhe facilitou a vida...Ama-a como nunca conseguiu amar alguém. Sabe disso e esse saber implica um sofrimento com nome igual ao seu, com letras mais carregadas, cravadas no avesso da pele. Passou a barreira do medo, está para lá dele e não consegue dizer a ninguém como é esse mundo. Não consegue, simplesmente, não encontra palavras neste mundo para descrever o outro, onde agora vive durante quase todo o tempo. A inevitabilidade sempre lhe facilitou a vida.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Creme

Foi só o que ela quis dizer.
Não foi preciso mais para se desfazer inteira no que as nuvens nesse dia não quiseram dizer.
Respira fundo, bem fundo...
Expira o medo quase todo até se conseguir levantar. Dói-lhe ainda a dor maior, já sobejamente intrínseca...suportável na memória de não se saber de outro modo. Nunca.
Volta a acordar no mesmo corpo e na mesma mágoa...Não sabe se aguenta. Isso também já não importa. Não aguenta mais...e mais é tudo aquilo que o andar pesado comporta a cada dia que se soma no calendário. A mais. A mais. A mais. A mais. A mais. A mais. A mais. A mais. A mais. A mais. A mais. O corpo a mais que prende e obriga...Querer ser sem ele e por não poder querer deixar inteira de aparecer, a cores pelo menos.
Viver o limbo, a ambiguidade do desejo: querer romper a pele e no dia seguinte hidratá-la cuidadosamente, no minuto seguinte ao banho.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Gémeos

Acordo meio atordoada entre o riso nervoso e o medo da ilusão verdadeira na concretização do sono do indesejado sonho.
Não, não quero.
Estava de corpo igual, barriga pesada, insuportavelmente grande que nunca niguém conseguiu ver para além de mim. Passaram nove meses e só nos últimos eu tive a certeza. Guardei o segredo como quem se guarda a si própria, sabendo que de nada valia mas sem que isso tivesse qualquer influência no meu silêncio.
Fui a uma loja, com muitos senhores de bata branca e barbas compridas, óculos, altos...todos sentados de postura correcta como quem espera na loja do cidadão e a sua vez dependesse do atento e mais direito olhar. Não quis trocar qualquer sentido com eles. Queria fugir da barrig e enfrentei, ainda que a medo, o passo seguinte. A barriga tinha de se desfazer e eu refazer a minha vida com o seu interior. Decidi os nomes já deitada:Lourenço e Maria. Quando voltei ao mundo na cama da loja, tinha uma senhora de bata branca, muito maquilhada, como quem distribui amostras dos cremes La Prairie na companhia dos perfumes. Foi ela que me assistiu mas, demasiado ocupada para se dedicar inteiramente a mim, deixou-me com o Lourenço em cima da pele...O leite esguichava do peito, eu provei-o, queria esvaziar-me inteira...todo aquele volume era muito mais insuportável que a grande mudança de miúda para mãe. A Maria saiu sozinha, apressada. Ao contrário do Lourenço não tinha caracóis loiros nem falava...ficou a dormir ao pé de mim...a aquecer-me...O Lourenço pedia sopa, eu só tinha leite vindo de dentro. Alguém lhes pegou, vestiu-os...eu sentei-me...agora podia...livrar-me da barriga, devolveu-me a mobilidade. Sou mãe, não conto ao pai...ele não vaiquerer saber. Fico eu com eles, sem pensar se sou ou não capaz... pela primeira vez não me ponho em dúvida. Estou, é um facto.Experimentei ser mãe, ainda que em sonho...Acordo, com o medo que não tinha enquanto sonhava.
Respiro fundo, bebo água...
Volto a adormecer.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

desejo de quente

As pernas pedem calma. A cabeça pede pressa. Continuo apressada e desesperadamente à procura de calma para elas. Latejam, agora mais silenciosamente. Hoje faltou qualquer coisa. Peço desculpa mas desculpo-me primeiro. Não volto atrás. Parto daqui.
As pessoas falam demasiado, mexem demasiado, tocam-se, cumprimentam-se, falam do calor abrasador, fumam cigarros. Eu vejo-as. Vi-as hoje. Elas não sabem de tudo,mas sabem-me melhor qu ontem. Hoje faltou. Não foi a mais. Ainda bem!
Peço um copo de água como quem pede um olhar atento. Mas não quero. Se calhar quero só um bocadinho, se calhar. Tenho mais certeza que ontem mas ainda não a tenho inteira.
Gosto.
Gosto e calo-me.
Tenho medo por tudo o que quero e não consigo, nenhum medo pelo que hoje deixei, não quis conseguir.
A verdade é que não quis. Não querer deixou-me presa ao que deixei de querer, voltada para a irrealidade do mundo giratório em piloto-automático que defini como...possivel.
A menor das ambições refugiou-me numa cela muito escura com uma fogueira pintada a óleo gelado...tremi de frio para me aquecer.

domingo, 13 de abril de 2008

Partida

O sentimento de missão cumprida ainda é novo, muito novo. Prematuro. Chegar e continuar a andar mas com a sensação na boca do sabor agradável, nem mais nem menos intenso do que se quer. Não querer o café a seguir para continuar, prolongar a sensação de ainda se experimentar o ultimo passo do caminho certo nesse dia. A receita é quase tão efémera como o Teatro e o Teatro a única coisa impedida na receita. Sou eu. Só eu e os passos, os pés e o resto do corpo. Hoje segui a receita já sem ver o papel. Ainda me lembro bem de cada passo, o que fazer primeiro e depois. Quero esquecer-me e lembrar-me eternamente que este sabor existe e que eu o posso fazer. Quero ensiná-lo, dá-lo a provar, ser com ele, ser mais que ele. Consumi-lo inteiro, despedaçá-lo por dentro. Sentir que o tenho sem sentir que existe. Ser. Primeiro com medo...hoje o medo faz falta. Depois menos, muito menos de tudo por aprender a ser...qualquer coisa. Qualquer coisa, um alguém diferente, os lábios rasgados, devorados por dentro. Encarnados morango de Verão, mais quentes. Depois o vento, dançar com ele, nele, inteira. Ser qualquer coisa diferente, dar outro passo. Não chegar à meta. Avançar. Só. Ter muito medo, não temer quando o tenho. Agradecer-lhe. Agradecer-Lhe. Aprender a perder e a perder-me. Um bocado. Depois inteira. O sabor de ontem, melhor, apurado pelo passar dos instantes. Seguir. Conseguir.

sábado, 12 de abril de 2008

Rasgo

Qualquer coisa como uma prisão, pior que ela por não se ver...ou pelo menos não se ver com os olhos do resto do mundo. Vergonha de estar e de sentir. Mais que isso...vergonha de ter de fingir. Vontade de ter vontade. Desejo de prazer partilhado com a repulsa do material inquestionável da existência humana. Voltar a ter vontade e o ódio aumentado por não a saber servir nem saber antever o próximo lugar. O barulho acaba e o silêncio magoa mais que ontem. Hoje não sei viver com ele, hoje não lhe resisto aos espinhos violentos...e quanto mais os temo, mais se aguçam e se enterram em mim.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

1,2,3, uma colher de cada vez...

Não digo. Calo-te para sempre, prendo-te no demasiado tempo que se compreende na expressão aprendida há muito tempo, nos contos de fadas antes de adormecer. Prendo-te por dentro das calças, aperto o cinto e deixo cair por cima o casaco, preto, largo. Não demasiado...um pouco mais que o suficiente. Reaprendo o que nunca me ensinaram. Assumo todas as falhas que afinal não tinham o meu nome. Mais ou menos como o Édipo...hoje é mais a responsabilidade que a culpa que fala. Eu não sabia! Mas hoje sei...não escolhi, mas houve uma altura em que arrepiei caminho pelo sentido mais "fácil"...sem saber estava num labirinto romântico, demasiado enamorada dos objectivos que nunca questionei...não sabia que podia. Não sabia. Hoje sei. Questiono um de cada vez, chamo-os perto...as dúvidas são muito mais, avassaladoras, com gengivas de sangue e dentes bicudos. Fazem-me pequena, mas o medo ajuda-me a saber que existo perante elas. São as Minhas dúvidas. Para Eu resolver. Ou não. Um passo de cada vez. Não se muda o caminho errado de tantos anos num passo...primeiro encontra-se um atalho, muda-se a direcção e depois: novamente a caminho.
Hoje tive medo da escolha. Escolhi não ter de escolher nada. Amanhã há sol outra vez.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

1º direito

1º direito.
Toco duas vezes. Já sei que demora algum tempo. Os degraus de madeira velha e rija contornam o elevador que nunca usei. Chego á porta. Fechada. Carrego no botão fundo, com força para ressoar lá dentro. Olá. Olá, responde. Sento-me nas mesmas cadeiras dos ultimos quatro anos. Não vejo ninguém. Não preciso. Ali não preciso. O mundo é outro, diferente do mundo do lado de fora das janelas. Tenho medo de me aproximar da varanda. medo que o céu me veja e me caia em cima. Preciso deste quente mais um bocadinho. As cadeiras do mundo direito são rapidamente trocadas pelo puf encarnado, onde largo a auto-censura, deixo de me vigiar...deixo de pairar sobre os meus gestos e actos. Descanço. Deito-me dentro. Ela vem-me chamar, sorri. Sabe o meu nome. Sabe mais que isso. E eu não fujo. Não ali. Não dali. Não dela. Quero que ela não fuja. Que não me deixe fugir. Preciso daquele mundo à parte. De me sentir parte dele, pelo menos dele. Todos os dias penso no ultimo dia naquele 1º direito. A ambiguidade é imensa. quero deixa-lo mas ainda preciso muito dele...e quanto mais sinto que preciso maior é a vertigem de largá-lo.
Tenho medo de o largar sem querer. Ou que me larguem, que me atirem pela janela e me neguem aquele puf encarnado, onde ainda adormeço, deito-me e choro.

Sónia

Cala-te. Deixa-me.
Não tenho mais palavras para a Sónia, a personificação das noites sem dormir. Como hoje. Outra vez. Não vou beber café contigo, não vou molhar o pé à beira-mar, não vou ficar sentada de olhos espetados para fora a ouvir-te. Importas-te de sair?
Dormir. Desejo.
Quase o maior desejo que alguma vez tive. Dormir sem a Sónia ao lado, de pé, aolhar atentamente para mim. Daqueles olhares que queimam e que te dão a certeza, mesmo quando tens os olhos fechados, que está alguém a fitar-te.
ó Sónia Sónia. Se dissesses alguma coisa interessante até podia acreditar serem sonhos, dos bons... aqueles que são mais ideias que histórias e que servem para as histórias que se escrevem depois, quando se acorda.

terça-feira, 8 de abril de 2008

Aquela senhora

Às vezes ponho-me a pensar como se fala. Sei falar, claro que sim.Claro? Sim, sei. Acho. Gostava de aprender a dizer palavras àquela senhora, palavras que digam menos que o que sinto, ela não entende bem. Ela não me quer entender. Bem, pelo menos. Às vezes não a conheço e fco presa à vontade de lhe conhecer o lado que existia antes de eu existir. Agora é tudo tão menos denso, tão menos grande, tão mais distante. Se as palavras saem da boca, da minha boca, ficam-lhe presas nos poros da pele, reviram-lhe o ânimo, revira-me as palavras da maneira que menos gosta e devolve-mas em forma de culpa por aquilo que eu não disse. Aquela senhora é mais menina que as outras, é mais frágil, como se auto-apagasse a força que mostrou ter e que hoje a transforma em memórias descoladas daquilo em que se transformou.
Dói-me quando aquela senhora se arranha com as palavras que não contenho. Dói-me quando as usa para me usar e me fazer de lixo. Seu. Quando me chama senhora forte e usa essa força para me enfraquecer na dependência peganhenta que me obriga a servir-lhe. E eu. Dou. De raiva engolida e transformada em mil tiros silênciado. Lançados um a um contra as paredes de dentro daquele lugar algures que sente. Ainda. Mas aquela senhora não reconhece, nunca o fez. Nunca quis porque afinal não é preciso. Hoje conheço-a melhor que ontem. Amanhã tenho medo que aquela senhora tenha menos importância e que o esforço cansativo e exagerado de sempre já não exista para aprender a falar-lhe. Um curso a tempo inteiro que deixa muito pouco espaço para o resto.

Bicicleta do E.T.

A sombra. Sempre sonhei com encontro intimo, o resultado de uma procura desesperada. Hoje já não corro atrás dela, também não a acompanho como há uns anos. Desisti. Investi de outra maneira, preocupada com outras maneiras de me ocupar da preocupação que me faltava ter de mim mesma, pelo menos do lado mais claro da lua. Mentiras...tudo o que os teus olhos viram...e hoje até...desconfias das verdades antigas que te confirmei mentiras para acreitares hoje em mim. Cais outra vez, no limbo que me separa o corpo do que tu pensavas que eu fosse. Ontem era diferente, hoje não te sei dizer.
Correr. O limite. Limite do corpo, encontrar o corpo, sentir o corpo até não poder mais com ele. Ouvir ao lado o fôlego suado do senhor que corre com muita muita pressa. Será que ele sabe que não vai chegar a tempo? Tempo. O tempo diferente, mutável, mudado de ontem para hoje, da estar bem para menos bem...o tempo que não chega e o que parece nunca passar.
Ginásio da língua. Falam e peço por dentro que se calem. 60 minutos contados de maneira igual, ou quase. Fim. Dever cumprido, nunca prometido a alguém.