quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Milagre

Sinto-me vítima pela primeira vez na minha vida.
Vítima de um milagre.
Aconteceu.
Pensei que seria para sempre uma grande mentira cheia de capítulos, traduzida em esquemas eternos para fazer o que sabia não ser certo e que eram a minha  verdade mais crua.
Depois de tantas vezes tentar e falhar em seguida com intervalos mais ou menos distantes, eu tive a minha Hora.
Sem programar, sem querer demasiado porque, afinal, sem dizer a ninguém, eu já tinha desistido.
Ri-me sozinha pela primeira vez. Respirei fundo como tantas vezes desejei e nem em sonhos tinha acontecido. Um respirar profundo, a sentir o corpo inteiro e meu, só meu, sem o fantasma colado.
Os guiões já não são o meu dia-a-dia, nos intervalos daqueles que passaram a ser também o meu trabalho.
E sabem... foi duro e mesmo que volte tudo outra vez, já ninguém me apaga o que estou a viver agora... este milagre.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O peso que tiveste na minha vida

Há tesouros deixados por aí... tantos!
A vida, Deus, o universo estão lá para te apoiar...a sorte é para quem anda nada estrada, para quem desbrava caminhos. Os presentes são para quem se proíbe de viver no passado e para quem não perde demasiado tempo a prever o futuro.
As ideias feitas são para quem não tem coragem de fazer as suas. Aprender é fazer. Mãos na Terra, pés descalços, cabelo ao vento, cabeça levantada...
Crescer, Ser, é uma posição nova do corpo... os ombros direitos ajudam muito a acreditar.
É a tua postura que faz confiarem em ti, o teu sorriso é o teu primeiro texto.
Acelerar nas subidas tornou-se a minha metáfora.
Procastinar foram anos que em vez de datas se fizeram de pesos.
Sou hoje mais leve depois de todo o peso que tiveste na minha vida.

domingo, 15 de dezembro de 2013

15 anos depois

A verdade é esta: estou a viver o que há uns meses tomei como impossível.
Depois de retrocessos seguidos de desistências,
o desamor e a desesperança tomaram conta da vida que deixei numa caixa de sapatos.
A caixa chamava-se vida e tinha dentro muitas fotografias, desenhos, milhares de bilhetes que escrevia para mim e palavras que nunca chegavam ao destino. Muitos planos, convites de festas de aniversário, folhas com as notas maravilhosas da escola, medalhas de atletismo e do quadro de honra. Aquela era a vida que um dia havia sido minha e que eu não queria destruir mais. É duro pôr fim à vida mas para mim era muito mais duro sentir na pele a minha imensa ingratidão. O nada em que transformei o tudo que me foi dado.
Essa caixa ainda existe. Mas a vida tenho-a eu.
15 anos depois.
Eu e o sol erguemo-nos de manhã.
Eu e as árvores damos frutos.
Eu e a lua criamos noites bonitas.
Eu e o fogo transformamos água em chás deliciosos.
Eu e o mar vamos, mas voltamos sempre.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

respirar bem fundo

Quando andamos de olhos postos no chão, sem a mínima força para erguermos a cabeça, atraímos o fundo. De repente iniciamos a viagem numa espiral negativa, de sufoco, de soluços, de constante escorregar. A cabeça lateja, os músculos consomem-se uns aos outros. os ouvidos fecham-se sobre si mesmos e só ouvem o eco do silêncio. De repente a noite vira o nosso dia e as nuvens fazem a distância entre nós e o céu, infinitamente mais pequena. O valor que damos ao não é absurdamente enorme e os ecos multiplicam-se e as dores perpetuam-se e o fim à viagem negra não se avista.
No dia em que ganhamos a coragem suficiente para dar um murro na mesa, mas um murro que se oiça, cheio de si, aí, só aí, nasce o embrião da hipótese do sol voltar a nascer.
E quando o primeiro raio espreita é como se nascêssemos de novo. Se quisermos.
O eco continua a existir mas na frequência oposta.
A sintonia encontra-se e a multiplicação sucede-se.
E eu estou, orgulhosamente nesse processo, a dar graças pela enorme graça que me foi concedida de (re)começar.
Hoje foi dia de reunião e de nova proposta de emprego. Sabe tão bem quando gostam de nós e, para quem bem me entende, quando gostam de nós sem aqueles sufixos ligados ao passado que me viram acontecer.
Tenho a certeza que é o meu sorriso a despertar-me na cabeça de quem se lembra de mim e em quem confia porque - agora sim - pode confiar. Estou em pé de igualdade com todas as outras pessoas que podem falhar pelas contingências naturais. E sabe tão bem não duvidar que só e só o meu trabalho e a minha criatividade são reis quando chega a altura de escolher as cabeças para os novos projectos das grandes empresas em que trabalho e trabalhei durante este processo tão duro e tão complicado dos últimos anos.
O valor que dou ao suspiro desmedido é imenso...
que bom que é...
obrigada, obrigada

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Batido

Há uma luz nova. Um brilho com cheiro a liberdade e uma vontade que vem do alto do céu.
Há lágrimas que se choram sem cheiro a bafio, e há longe sem saudade.
Hoje há pés que pisam o chão inteiramente. Sem medo de se fazerem ouvir. Sem medo de incomodar. Sem pedir desculpa por existirem.
Hoje há um compasso na voz que faz parte do resto.

Existo.

É isto.

Só.

Tanto.

Há almoços e jantares com sabor a música clássica.
O ontem, o hoje, e tenho a certeza que o amanhã fazem parte do mesmo livro.
Já não sou uma manta de retalhos nem uma boneca de trapos. Só um corpo, só um sentir com a melodia que for preciso tocar. Os graves e os agudos. A confusão e mesmo o silêncio. Já não há manhãs imersas no pânico de não pertencer sequer àquela cama.
Chegou a Hora.

As provações, os desafios, o arriscar constante, os medos vencidos dia a dia, hora a hora. A mesma cabeça coberta de frases feitas e tão bem conhecidas... hoje já não mandam nem me comandam os passos, os caminhos, a correria, as quedas.

Sou mais. mais forte. Conheço-me como pouca gente se conhece. As manhas e armadilhas, a resolução sempre igual...

A verdade é que pouco mudou e eu estou tão diferente.

Não, não podes mudar o que sentes, mas sim o que fazes com isso. Chegou-me a procastinação que me roubou 15 anos.

Bebi um batido de vida. Saí de casa dos pais, trabalho para me sustentar a todos os níveis. Tenho uma cabeça cheia de gavetas novas e pretendo manter tudo arrumado. Sabe-me bem chegar à uma da manhã a casa e ainda me encher de ideias para deixar tudo mais bonito... e tudo para mim.
Para mim.

domingo, 25 de agosto de 2013

rocha

Depois o nó prendeu e o canal secou.
Assim, sem que um antes tivesse forçado nada, absolutamente nada.
E as gaivotas voaram a escrever liberdade no rasto que deixaram.
Estremeci da ponta dos pés à ponta da alma, e proibi o que já estava a acontecer. Não fui, só tive.

E não passou, talvez por não ser meu... e eu nunca expulsei ninguém de minha casa. Sempre preferi ser eu a dizer adeus... mesmo naquelas alturas em que a paixão tornava absurdo o simples fechar de olhos no acto de pestanejar.

Há dias em que não sei tirar-te do caminho. Há dias que parecem anos por me fazeres sentir na pele a agulha ao passar cada segundo. Há horas que corroem os ossos e os fazem mirrar. Há uma pequenez tão grande quando a dor se agiganta e berra... não há sequer eco porque desapareço no meio e não há onde o som embater para voltar para trás.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

o ninho

Recolher a âncora e seguir caminho. Não interessa muito bem onde porque a rota certa tem a mania de não se cumprir. e eu nunca me dei bem com o GPS.
Há dias em que as pessoas novas se multiplicam e esse sabor enrola-se na língua enquanto nos apresentamos... tenho a sensação de me apresentar a mim mesma quando falo com alguém pela primeira vez. e é bom. sabe a melancia fresca. o desencanto dá lugar à possibilidade sonhada há tanto tempo de começar, finalmente, a viver.

Dei por mim a limpar a ferrugem. a tratar de cada pormenor e a por-me logo ao caminho para não dar tempo à inércia de chegar cá a casa e tocar-me à campainha. Os momentos de nó-no-peito têm a mania de me fazer abraçar a almofada mais cedo e  eu fecho-os na arrecadação que não existe neste meu (sim, meu!) ninho. Ainda não aprendi a calma de esperar pelo autocarro e o passo acelerado trai-me quando quero um bom lugar no maior desafio de sempre. Já não há lugar para as desculpas de sempre para os saberes mais antigos, mas também já não há pressa de fora para resolver os medos de dentro. Os medos vão permanecer e mesmo assim é preciso arriscar corridas de resistência. Agora não há volta atrás. A minha casa. As minhas contas. O meu trabalho. A minha saúde. A minha vida. Não empresto responsabilidade a ninguém nem deixo que acabem as frases que decorei na minha alma. Há muito que fazer e muito pouco que dizer. As palavras, sim, as palavras, tantas vezes me atrasaram as acções. 

Dei por mim a boicotar o meu caminho.

Espreitei-me de fora e cuspi para o lado. Deixei-me-te morrer ali, de pés a tremer e corpo cor de arco íris desmaiado. Não te deixei sequer deitar para acordares horas depois a perguntares o que tinhas feito, o que tinha acontecido. Chega de borrachas ao meio dia. engole antes o teu medo, vira-o do avesso e põe-no ao lume.

Aprendi a apaixonar-me pela pedagoga que conheci aqui dentro.

Hoje foi dia de rebobinar a cassete a meio do filme.

A luz entrou pela janela.

Vais escrever 20 vezes cada palavra errada. decora-as para nunca mais repetires.

Varrer. lavar o chão.

ao lume.

bom dia. veste-te. é dia de trabalho.