quarta-feira, 30 de junho de 2010

Intention, Anscombe

Discípula de Wittgenstein

As intenções, as intenções...

QUAL É A TUA INTENÇÃO?

there is a difference in 'direction of fit' between cognitive states like beliefs and conative states like desire.

She is X'ing intentionally intentional action
She is X'ing with the intention of doing Y
or ... She is X'ing in order to Y
intention with which
or further intention in acting
She intends to Y
or... She has expressed the intention to do Y
expression of intention for the future;
(what Davidson later called a pure intending)

terça-feira, 29 de junho de 2010

Desistir

Uma hora em que estive calada
três ou quatro gotas salgadas e um mar por dentro
"esse silêncio foi sempre a maneira de mostrar a angústia"
esse silêncio não se cala e não me deixa falar
revolta por esta acomodação ao pior de sempre
o caos,
o que entra, no que sai,
a desarrumação total
o chão já te cola os pés... tropeças quando te tentas descolar: decadente
o banco do jardim cola-se a ti...preparas-te para que venha atrás quando te levantares e nem o banco nem tu se levantam: decadente.
empurras a dor do corpo, para que o corpo não sinta já mais que tu...e dessas, só te assusta que alguém veja, e olhas para ti, choras já não pela dor, mas por te teres deixado chegar a ti...
Hoje era capaz de entrar ali, onde nunca fui e pedir que me amarrem dizer que só quero que me obriguem... porque a culpa de querer é imensa. Odeio. Hoje odeio o mundo inteiro, amanhã passa e odeio-me só a mim.
Desculpe, desculpe, desculpe
hoje desisti

Dicionário

Pega na esperança desconjuntada, à volta
injecta-a sem pensar que dói
e se essa dor te doer, ainda estás aqui.
enrola os dedos na corda do céu
balança bem os pés
baralha-te na contagem e retrocede e avança quantas vezes forem precisas
pára de dizer que é agora
para de lutar contra, pára
de ter vergonha de seres vergonha
de seres roxa por parares de respirar para não te notarem, para não te lembrares
liberta a raiva e essa frustração labirintica
é este latejar, este latejar que não pára
o corpo diz-te tudo e agora diz-te de tudo
faz-te sentir: básico, lógico, científico, biológico, fisiológico
e o teu espirito pragmático grita de noite, depois de mais um dia igual: tens de parar tens que parar
Pensas naquele minuto, aquele, do futuro decidido, mas o mais incerto de todos
e não há arrependimento maior que não ter feito tudo e ao mesmo tempo um desejo imenso que o minuto passe, fim e a calma...calma, fim
A dor, esta dor, é um virús desmedido e veloz...tira-te a velocidade do sangue no corpo, dos pés no chão, do cabelo a crescer, das nódoas a deixarem de ser negras... tudo passou a ser dolorosamente demorado...e demorada é a expressão que ecoa por cada poro sem falhar um: foste tu

segunda-feira, 28 de junho de 2010

procura

Perdes o discernimento e o tempo, por momentos,
Voltas refeita e agora só molhada, não lavada... o banho de sal na cara cristalizou-te o avesso da pele...
Esqueci-me do regresso
Não existiu. Não houve regresso. Eu sei que fui.
Aqui outra vez,
mais uma viagem que não fiz,
livros que não li apesar de me ter demorado em cada página
Segredo-me esse sabor amargo e é impossível viver aos soluços
Já nasci e morri tantas vezes... e o tempo em vez de subtrair essas fugas, congela-me e faz-me olhar, sem me lembrar... que morri. Cola-me a ti, dor sem nome e sem cor
Fazes uma desgarrada instantânea...
Grita para aí nesse teu compasso de quem tudo sabe
brinca até te cansares
faz do meu corpo o teu objecto de eleição
e delicia-te nessa sensação de poder
Eu não vou ser-contigo
Chamam-te
E só te sinto
Julgo-me cega,
mas eu nunca te vou ver

põe a mão à frente da minha testa. estou farta de bater na parede

Por que és sempre aquela que se adianta e me toma?

Venha a solidão desmesurada, a loucura-foguetão com destino ao desapego...

eu não vou saber dizer,
ouve, ouve o que eu preciso de te pedir...
alguém
alguém...

domingo, 27 de junho de 2010

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Fim

Mais um fim feio
deste saio em vilã enfurecida, de voz oscilante entre uma oitava acima e outra abaixo do normal...
Desfigurou-me a tua insistência a tua insensibilidade e até a tua burrice de não entenderes nada de nada de nada,
Fui bruta quando passaste do ponto,
Fui agressiva quando pisaste a linha e invadiste o espaço que te proibi...o Meu espaço. O Meu tempo. A Minha dor.
Ri-te da minha intolerância, até porque já não terás de lidar mais com ela.
Chateia-te, revolta-te, odeia-me e sai daqui... por favor pára de me chamar "meu amor" e de falares como se tudo o que te disse da forma mais sincera não tivesse qualquer valor, fosse apenas um devaneio da minha insanidade...
E por cá... os meus, força... podem finalizar a piadinha "isso ainda dura? tu?"... tinham razão, toda a razão... posso ter mil "dotes", jamais serei parte de alguma coisa com cheiro a futuro.
E tu, para com esse controlo...conseguiste tocar no ponto que não permito, nem a t que chegaste ha meia duzia de dias com a maior dedicação e amor... Eu não o quero, eu não te quero. E hoje odeio-te, graças a ti. Ah, e obrigada. Foi bom. Chega. Fim. Adeus.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Pontuação

Apetece-me o fim,
Não trabalho mais nele nem em nada,
Apetece-me um ponto final, um parágrafo.
Chega de vírgulas, de ponto e vírgulas demorados,
Não é este o espaço nem este o tempo, nem esta a a praia, nem este o som...
Os olhos ardem demais,
tudo pesa demais...
Ontem o cabelo pesou e eu já não sabia o que fazer com a cabeça...
E não, não é novo, é de um 'há muito tempo' que eu pensava que nunca mais ia voltar.
O que é que eu faço
O que é que eu te faço?
Nada.
Ponto final.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

um bocadinho de pai

Não percebo tantas vezes o nosso choque...
Era a tua menina e não me importava nada com aquela expressão de "a menina do papá". Pedia-te colo para ouvir a conversa dos adultos, não queria brincar... Hoje não sei se eram mais as conversas que me interessavam se era o teu colo forte, eras tão grande, és tão grande. Eras a única pessoa que me fazia sentir sempre pequenina quando me começavam a chamar 'gazela' por ter crescido primeiro que as outras meninas. Na formatura eu ficava sempre no fim, longe das amigas, era por alturas e eu ficava ali ao fundo a observar os cochichos quando ninguém podia falar.
Nunca me trataste como uma menina, mas como uma igual a ti. Grande. Mas tu também nunca te levaste muito a sério, ainda te pesa imenso a adolescência que gostavas de ter tido e ficas aí, a ruminas essa angústia em vez de aproveitares a vida que conquistaste... Não me ensinaste que a vida podia ser prazerosa...não que não mo tenhas dito, mas dizem os psis que as crianças aprendem pelo que vêem fazer e não pelo exemplo. Não te critico minimamente...tu também não foste ensinado...
Lembro-me das conversas adultas, de te ver a chorar sem veres lágrimas, das coisas que me querias dizer mas que eu não te podia deixar dizer porque uma miúda não pode ouvir essas coisas.
Lembro-me de te descobrir e não te contar, lembro-me de tudo o que me querias dizer e nunca disseste porque não sabias como dizer. E lembro-me de ficar tão magoada pela forma crua e despida como dizias aquilo que depois, quando me vias a chorar, colmatavas com "não era isso que eu queria dizer"... Conhecemo-nos há 23 anos mas não podes exigir que eu te oiça e que transforme as palavras no que tu estás a pensar mas não dizes à espera que eu adivinhe. Vou-te contar um segredo: isso enlouquece as pessoas...
Disseste um dia que sentiste que aos 11 anos fui fazer uma viagem e só voltei muitos anos depois... doeu, porque eu senti exactamente o mesmo... a viagem que fiz foi por ausência de abrigo aqui... e sei que estiveste cá sempre, mas eu não sabia dizer, queria só que me pegasses ao colo como eu pensei que fosses fazer para sempre.
Sempre me irritei contigo quando te ouvia falar com aquela acomodação que sabes que não suporto, sempre te orgulhaste em segredo por discordarmos em tantas coisas, por veres desde muito cedo a minha consciência politica e social... Sempre olhámos um para o outro com uma cumplicidade que absolutamente mais ninguém entende...e ela sempre teve ciúmes, ambos sabemos.
Por seres o único que me faz desatar a chorar e tens a capacidade de me estragar o dia quando és inteiro desilusão sobre mim, por não perceberes nada do que se passa mas assumires isso, por sempre me teres dado toda a liberdade mesmo quando eu não a deveria ter, por nunca te teres oposto mesmo quando sabias que escolhia o caminho errado, por me ensinares, por não teres jeito nenhum para ensinar o trivial, mas o resto... por aprenderes comigo mesmo nunca admitindo... por ver o teu orgulho em mim, de soslaio...por continuar a precisar de ti...
Gosto tanto de ti.
Passei tanto tempo a tentar conquistar o teu amor que me perdi tantas vezes, chorei tantas vezes... às vezes podias dizer...
Gosto de ti
Eu não sou essa fortaleza que julgas, eu também choro papá... e gosto de dizer e de ouvir coisas bonitas, eu sou mesmo uma pirosa de vez em quando.
Hoje é o teu dia
Parabéns pai

terça-feira, 8 de junho de 2010

Grito

Às vezes sentes que andas às voltas,
A fugir do inevitável, que desejas e que não podes dizer alto...
Porque a "outra" odeia-te e trata-te mal quando os teus pensamentos deixam de ser só pensamento, quando passam a vontades claras na tua cabeça...
Tu sabes, no fundo tu sabes para onde tens de ir.
Não sabes se resultaria porque ainda não adivinhas o futuro,
mas sabes que as voltas todas que já deste te deitaram no chão...
Olhas para a parede-das-tentativas e só vez cruzes, o sinal de "caminho a evitar" dos jogos de pista. Foste tu que lá puseste as cruzes porque o teu espirito aventureiro te fez experimentar.
'cada falha equivale a uma obrigação de nova tentativa' foi o que tu disseste, e fizeste...
Mas agora o tempo urge, o buraquinho na ampulheta abre-se e o tempo corre mais depressa a fazer arranhões ao vento...
No fundo tu sabes que não tens muito tempo, embora te iludas que o tempo todo não vai dar cabo de ti. Odeias isto, queres aquilo e não lhe chegas...
"Aquela" energia não é mais aquela energia, a força deixa-te tantas e tantas vezes... poucos se apercebem, só alguns dos que mais te amam...mas não podem fazer nada. Estás longe, demasiado longe... e não saiste do lugar. Andas às voltas, és a de ontem... pela primeira vez sentes-te capaz de dizer "vou", dirias "vou, agora" se te dissessem "tens de vir" em vez de te perguntarem...
Tens medo e ao mesmo tempo um dedo de esperança quando entrares no novo sítio da verdade. Contas a história toda, sem os eufemismos de que és perita. Ouves e prometes-te a ti mesma e a ela... e falas, e olhas nos olhos sem esse medo e essa vergonha.
E se ela perguntar dizes para responder por ti...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

subtracção

Arrumou-te a um canto, encarquilhaste, mirraste, desfizeste-te.
De vez em quando acordas e esticas um braço...
(ninguém imagina o esforço para pores um pé à frente do outro)
Ela cresceu, e gritou-te: "sai daqui, isto é tudo meu"
Entregas-te como se fosse o teu grande amor, mas a diferença é que não disseste o "sim!", não disseste nada, nem tão pouco querias... nem sentes amor...és uma devota sem escolha, sim, sem escolha. Não percebes como ficas...mas a verdade é que não tens para onde ir, porque foi ela que ocupou a tua sala, o teu quarto, a tua casa de banho, os corredores todos para ires de um sítio ao outro.
és violentada noite e dia, nos pesadelos, e estás sozinha, mas não te sentes sequer sozinha, porque não te deixa ouvir o silêncio...no limite ouves o som da morte.
Não, não és vítima de agressão nem podes ir fazer queixa. Porque está aqui...e quantas vezes não te distingues? quantas vezes duvidas da voz, se é tua ou não...
Quantas vezes verbalizas vontades que não são tuas como se fossem aquilo em que mais acreditas?
Vontade de te subtraíres deste jogo cru,
porque o teu espaço é cada vez menor... estás numa caixa sem te conseguires mexer...
Manipulas tudo, boicoteias tudo...
O que eu quero sei,
O que eu quero eu não consigo
continua a ser a única coisa que nunca consegui.

é essa a solução?
obrigue-me

quarta-feira, 2 de junho de 2010

correr

Tirem-na da corrida,
ela vai cair,
vai fazer uma lesão grave
nunca mais vai poder voltar à competição nem treinar, sequer.
Tirem-na da corrida,
ela vai bem, numa marcha agressiva, com cara de medalha de ouro, mas ela não vai aguentar,
ela sabe mas não vai ser ela a parar, os pés correm por ela
Tirem-na da corrida
não, ela não olha para o lado a ver quem lhe vai passar à frente...
Ela não corre com ninguém, nem vê a meta: não há meta
o olhar de soslaio é um grito tão grande que ninguém ouve
levanta-te da bancada
tirem-na da corrida

terça-feira, 1 de junho de 2010

pedir com vergonha

Todos os dias te curvas e dizes, em silêncio, "ganhaste".
Todos os dias repetes e já nem te dás ao trabalho de dizer "foi a última vez".
Tu sabes da tua fraqueza de espírito, enquanto bem sabes que não vale a pena contrariares aqueles que falam da tua força como se ela fosses tu...
Eles não sabem que o que te acorda é o hábito e não a força.
Eles não sabem que o que vêem teu é uma luta imensa em contra-relógio para fugires ao que tu "és"...
Eles não sabem que os elogios te doem infinitamente sobre a pele e o avesso, que te desnudam...que te percorrem os pesadelos e te fazem chorar.
Porque tu sabes que já não és tu que vives...
E eles pensam que cresceste por aguentares sempre mais... por seres hoje capaz de tanta coisa que nunca foste... por deixares pessoas entrarem e ficarem na tua vida... Não te sentes tão invadida, mas a verdadeira razão é por já não sentires que a tua vida te pertença... Antes tinhas medo que entrassem porque tinhas medo que te deixassem, hoje não o tens, porque simplesmente esse abandono que temias não faz sentido... Acontece a chegada e a partida, acontece simplesmente... e despojaste-te de tudo... tudo.
Já imaginaste a despedida, aquela em que podem falar e tu já não ouves... e hás-de poupá-los a essa perda de tempo...
Enquanto o relógio continua tonto, nestas voltas compassadas e desenfreadamente calmas, levas a tua calma...às vezes desesperada, às vezes com esperança que não dês pelo tempo...
O desejo mais solar que tens é que o tempo passe sem dares por ele...
Deixaste de querer o mundo em três dias... porque amanhã não há-de ser muito diferente de hoje...Viajas, ganhas mundo, vês e fazes coisas de gente grande, com vida... mas tu, tu, tu és igual... o desejo de fuga persegue-te, mas no fundo sabes...vai ser igual... combates esse pessimismo de costas direitas, e aconteces igual, és tu...
E queres, e dói-te quando dizem que não estás a querer. Tu queres, mas já não és tu quem manda...
Apercebes-te quando te dão a escolher, seja o que for... e custa perceber que não és capaz de escolher...a voz nao te sai, a vontade é turva...vem de vários lados da cabeça. Tu nunca foste assim...não és tu...e não, não é desculpa.
Hoje tens um desejo junto a este momento de lucidez...

ALGUÉM, alguém ouça o que não sabes dizer...

quando eu me calar é porque não quero mentir
quando eu não disser, é simplesmente porque não sei dizer.

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