terça-feira, 1 de junho de 2010

pedir com vergonha

Todos os dias te curvas e dizes, em silêncio, "ganhaste".
Todos os dias repetes e já nem te dás ao trabalho de dizer "foi a última vez".
Tu sabes da tua fraqueza de espírito, enquanto bem sabes que não vale a pena contrariares aqueles que falam da tua força como se ela fosses tu...
Eles não sabem que o que te acorda é o hábito e não a força.
Eles não sabem que o que vêem teu é uma luta imensa em contra-relógio para fugires ao que tu "és"...
Eles não sabem que os elogios te doem infinitamente sobre a pele e o avesso, que te desnudam...que te percorrem os pesadelos e te fazem chorar.
Porque tu sabes que já não és tu que vives...
E eles pensam que cresceste por aguentares sempre mais... por seres hoje capaz de tanta coisa que nunca foste... por deixares pessoas entrarem e ficarem na tua vida... Não te sentes tão invadida, mas a verdadeira razão é por já não sentires que a tua vida te pertença... Antes tinhas medo que entrassem porque tinhas medo que te deixassem, hoje não o tens, porque simplesmente esse abandono que temias não faz sentido... Acontece a chegada e a partida, acontece simplesmente... e despojaste-te de tudo... tudo.
Já imaginaste a despedida, aquela em que podem falar e tu já não ouves... e hás-de poupá-los a essa perda de tempo...
Enquanto o relógio continua tonto, nestas voltas compassadas e desenfreadamente calmas, levas a tua calma...às vezes desesperada, às vezes com esperança que não dês pelo tempo...
O desejo mais solar que tens é que o tempo passe sem dares por ele...
Deixaste de querer o mundo em três dias... porque amanhã não há-de ser muito diferente de hoje...Viajas, ganhas mundo, vês e fazes coisas de gente grande, com vida... mas tu, tu, tu és igual... o desejo de fuga persegue-te, mas no fundo sabes...vai ser igual... combates esse pessimismo de costas direitas, e aconteces igual, és tu...
E queres, e dói-te quando dizem que não estás a querer. Tu queres, mas já não és tu quem manda...
Apercebes-te quando te dão a escolher, seja o que for... e custa perceber que não és capaz de escolher...a voz nao te sai, a vontade é turva...vem de vários lados da cabeça. Tu nunca foste assim...não és tu...e não, não é desculpa.
Hoje tens um desejo junto a este momento de lucidez...

ALGUÉM, alguém ouça o que não sabes dizer...

quando eu me calar é porque não quero mentir
quando eu não disser, é simplesmente porque não sei dizer.

... _ _ _ ...

Sem comentários: