sexta-feira, 6 de junho de 2008

Pele

Já está. Ou quase.
Tenho um monte atrás de mim, de tralha sem prazo de validade...despejaram-me as gavetas, as mais pequenas e as maiores, e deixaram-me sozinha... Fui eu. Não. Melhor, era mais fácil que não fosse...balbuciava um "não fui eu" e olhava de soslaio a barafunda imensa que ameaça prender-me os pés, desprendida, de saída.
Está certo, não é justo. Deram-me as instruções todas e muitas vezes fiz-me desentendida dessa linguagem mecânica, precisava de pele.
Tenho um monte atrás de mim. Às vezes tento pôr-lhe as mãos...de repente os braços crescem, entrelaçam-se e deslaçam-me a vontade de rearrumar tudo de novo...Ah! o erro. É incrível e apetecivelmente preversa a tentação de pôr tudo outra vez dentro da gaveta, fechá-la e dar um ar limpo...afinal, o "monte" já não é. Foi, só. Mas é minha querida, é. Não desparece, antes se desfaz e metamorfoseia-se com ácido em vez de sangue.
Revolto-me com a teimosia e agradeço-lhe o fardo da antecipação um pouco sofrida, pré ocupada: "as gavetas têm de ser «arrumadas» algum dia...
Fico nua, com frio, feliz pelo frio na pele, pela pele e pelo que a roça desconfortavelmente, sem pressa, pela primeira vez. Tenho medo e não toco nem esfrego...Frágil, nova, ou talvez recém-nascida. Prefiro porque sinto.
Não ouso sequer chegar-lhe ao avesso...saboreio o direito, por direito meu.

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