quarta-feira, 9 de abril de 2008

1º direito

1º direito.
Toco duas vezes. Já sei que demora algum tempo. Os degraus de madeira velha e rija contornam o elevador que nunca usei. Chego á porta. Fechada. Carrego no botão fundo, com força para ressoar lá dentro. Olá. Olá, responde. Sento-me nas mesmas cadeiras dos ultimos quatro anos. Não vejo ninguém. Não preciso. Ali não preciso. O mundo é outro, diferente do mundo do lado de fora das janelas. Tenho medo de me aproximar da varanda. medo que o céu me veja e me caia em cima. Preciso deste quente mais um bocadinho. As cadeiras do mundo direito são rapidamente trocadas pelo puf encarnado, onde largo a auto-censura, deixo de me vigiar...deixo de pairar sobre os meus gestos e actos. Descanço. Deito-me dentro. Ela vem-me chamar, sorri. Sabe o meu nome. Sabe mais que isso. E eu não fujo. Não ali. Não dali. Não dela. Quero que ela não fuja. Que não me deixe fugir. Preciso daquele mundo à parte. De me sentir parte dele, pelo menos dele. Todos os dias penso no ultimo dia naquele 1º direito. A ambiguidade é imensa. quero deixa-lo mas ainda preciso muito dele...e quanto mais sinto que preciso maior é a vertigem de largá-lo.
Tenho medo de o largar sem querer. Ou que me larguem, que me atirem pela janela e me neguem aquele puf encarnado, onde ainda adormeço, deito-me e choro.

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