sábado, 19 de abril de 2008

Aconteceu

Ela pensou que não queria, depois pensou que não querer era querer de outra maneira. Envelheceu e continua a não querer mas cai, recai no erro da sua recusa.
O impulso inexistente do erro corta-lhe o resto do impulso de vida que ainda tinha.
Esqueceu-se de não querer e volta à morada proibida sem muito esforço e poucos euros. Continua com medo e quer fugir. Mas já entrou e fechou demasiado bem a porta para poder sair a correr. Agora não há nada que ela possa fazer. A inevitabilidade sempre lhe facilitou a vida...Ama-a como nunca conseguiu amar alguém. Sabe disso e esse saber implica um sofrimento com nome igual ao seu, com letras mais carregadas, cravadas no avesso da pele. Passou a barreira do medo, está para lá dele e não consegue dizer a ninguém como é esse mundo. Não consegue, simplesmente, não encontra palavras neste mundo para descrever o outro, onde agora vive durante quase todo o tempo. A inevitabilidade sempre lhe facilitou a vida.

2 comentários:

Cris disse...

Gosto realmente do que escreves. Não sei se interpreto como devo, ou pelo menos como tu interpretas ao escrever. Mas gosto da minha intrepretação. Também sinto que muitas vezes prendo-me à facilidade do inevitável, ao deixar que as coisas vão acontecendo sem querer "dar-me ao trabalho" de as mudar. Porque fazer as coisas para ser feliz dá trabalho. Porque às vezes até um simples sorriso, que pode mudar o dia, dá trabalho.
Neste momento estou a tentar deixar de estar acomodada ao que o tempo vai trazendo. Todos estes meus anos de doença e de "acomodação" deram para perceber que a felicidade (a cura) não chega, por acaso, num determinado dia, sem fazermos nada para isso. Não basta esperar. É necessário acreditar que só é inevitável aquilo em que não queremos "mexer".

Mais uma vez parabéns pela forma como escreves. Acho que a arte de escrever bem não tem a ver só com o conseguir transmitir exactamente uma determinada ideia, mas principalmente com o conseguir que as mesmas linhas sejam sentidas de forma única e diferente por cada uma das diferentes pessoas que as leêm.

Um beijinho grande.

Anónimo disse...

Não se alguém que está fora consegue compreender.
Infelizmente consigo compreendo cada palavra.

Está muito bem escrito. Gosto mesmo de ler o que escreves.