segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

passos

Hoje vou ter uma reunião de trabalho, daquelas, à séria (na minha profissão).
Fui eu a escolher o sítio, a organizar as horas.
Antes, o trabalho era o meu pilar de salvação. Se não o tivesse cairia (pensava) na entrega ainda mais total a "ela".
Sempre trabalhei com afinco, a bem da verdade, o mesmo em que ponho a tudo o que vim a fazer ao longo destes anos de puro sofrimento a que eu dava voltas e voltas, só para doer um bocadinho menos... Na altura não dava valor, valor algum a qualquer coisa em que me metera... Os exames nacionais com maçãs, a faculdade com sopa, o trabalho com frutas, jejum, caminhadas imensas, intensas... dores no corpo, almofadas debaixo da cadeira, feridas quando não havia almofadas... e vozes, vozes longínquas... "ela vai morrer" "como é que ela consegue" "dava-lhe 16 anos"... tudo em eco, tudo numa forma em que nem sabia nem interessava se era ou não para mim. Hoje contam-me de como fui e de como afligia as pessoas que mais gostam de mim. Tenho uma grande amiga hoje que me disse há pouco do medo que ela teve em aproximar-se de mim... até os professores diziam que eu ia morrer, e não percebiam... é difícil, eu compreendo...
E piorava, e melhorava milimetricamente...eu não ouvia, talvez por defesa. O medo trouxe afastamento - criava medo - dizem... e eu lia tudo sem saber muito bem para quê. Os dias seguiam-se, um 18 no exame de matemática, a finalidade do curso no tempo certo e com as notas apropriadas, o início repentino do trabalho como se me tivesse caído do céu, a sucessão de convites, a acumulação de empregos... e a cada passo sempre uma pontinha de esperança "é quando... que me vou sentir melhor"... procurei sempre fora e a resposta estava tão perto...
A chave foi a verdade, o primeiro passo a confiança... Ouvir repetidamente as regras, às vezes bem rígidas que desde Setembro são uma espécie de oração... O tempo é diferente. A passagem dele dá por mim à procura de mim, deles, dos que deixei... Só tenho ordens para trabalhar um bocadinho, em casa... mas hoje vou ter uma companhia à tarde para pôr em ordem o trabalho a que quero voltar quando a médica achar que já posso. Ela é que sabe de mim...
Mas estou com aquele frio na barriga, um medo de ser pior agora o que fora antes de recomeçar a trabalhar... de onde vem esta ansiedade? é mais uma ambiguidade, a vontade de me deixar debaixo dos cobertores com o portátil em cima da cama e o início de um novo projecto de trabalho...
Faz parte
Vem aí tanta coisa

1 comentário:

esqueci a ana (ex-ana) disse...

vem aí tanta coisa...boa!
Um abraço