terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Natal

Há muitos anos que o Natal se tornou ambíguo....Não falo do consumismo decadente, nos olhos das pessoas transformados em euros porque têm de dar àquele, à outra e ainda uma lembrancinha a não sei quem "para não ficar mal visto"...
Dessa parte já passei do amor ao ódio, um processo que só a idade(?) permite... eu adorava receber presentes, para mim era o máximo quando ficava desde as 7 da manhã a ver tv e a escrever num papelinho quais - dos anúncios - é que eu ia pedir. A escolha era difícil, e eu nem ligava ao esforço que os pais faziam para nunca me "desiludirem"... à meia-noite, rasgava os embrulhos, e só queria ficar a brincar... pedia sempre em silêncio para não ter sono, só esta noite...mas o pedido talvez fosse pedido fora de horas e acabava sempre por adormecer...mas não falhava: cedinho, bem cedinho lá estava eu e os brinquedos... depois vinha a mãe ensonada a trazer-me nestum bem ralo (a mana é que gostava de o comer super empapado). Eu deixava aquilo ali a arrefecer, e a mãe voltava para a cama depois da sua tarefa cumprida de alimenta a sua cria - eu.
Desde que fui atacada por esta monstrinha-amiga-da-onça-carinhosamente-e-totalmente-dominadora... o Natal mudou...Foi na transição de receber presentes diferentes, em que pouco ou nada pedia...porque o meu presente preferido não constava na lista do pai Natal nem do menino Jesus... o cheiro da casa, da cozinha no Natal, passou de reconfortante a vigilante....o conforto deixou de o ser... o medo era mais que muito. Lembro-me de se zangarem comigo pela falta de entusiasmo quando abria os presentes - e nunca pude dizer que não era pelos presentes....é que a mesa era grande, e por mais que eu metesse doces nas bocas das outras pessoas, a mesa parecia sempre cheia... e eu cheia de contradições e medos e a sentir-me profundamente sozinha... e nunca contei o segredo...que bom era ter a família junta - sempre fui de juntar gente em minha casa nestas Festas, porque acima de tudo, para mim são festas de família... Mas de sonho, às vezes realizado pela minha persistência, passou a pesadelo... eu estava ali, mas não estava... inventava maneiras de me "enturmar" numa equipa que já era minha, mas que a "outra" me roubava o lugar.... tentava tocar viola, brincar com os mais pequenos...mas muitas - tantas vezes - ela ganhava...e o final da Noite de Natal era igual a outro final qualquer - talvez só com mais lágrimas, mais raiva e muito mais sozinha.
Este Natal celebro também o meu nascimento... Não é uma Páscoa para mim, não ressuscitei... nasci de outra maneira e atrevo-me a dizer que me apetece que chegue o Natal, a família... a mesa vai lá estar na mesma...mas não será a maneira de lidar com ela que vai ditar o que vou sentir... Abraços, quero abraços! virar os meus sobrinhos de pernas para o ar, dar-me a oportunidade de gargalhar com eles, de lhes montar os brinquedos novos, e de rezar, agradecer a Graça que me foi dada...Esta sou eu, a .

5 comentários:

Anónimo disse...

O Natal era o dia em que eu me sentia mais só no meio de tanta gente e mais desamada no meio de tanto amor... por mais que os sentimentos existissem á volta eu estava na tal redoma/prisão da doença..
o inicio da doença coincidiu com um forte agnosticismo, a par dum forte racionalismo claro e isso - após o 1º embate com uma doença totalmente desconhecida, sem rosto e sem nome nos anos 80, que quase me levou á loucura, pk por mais voltas que desse à razão nao encontrava causas para o aparecimento desse montro - por uma questão de sobrevivencia, obrigou-me a ser duas pessoas numa: a do SOCIAL (amavel, simpatica, dando aos outros o que nao dava a mim mesma e sem esperara nada em toca, porque era a unica forma, enquanto farsa que era, de me sentir com direito ao ar que respirava) e a da DOENÇA, de inicio incomodada, ao passar do tempo completamente acomodada e até considerando-a como companheira fiel e amiga, enquanto ela sorrateiramente ia roubando cada vez mais do que era suposto ser da minha Peronalidade...Nessa altura, agnostica indiferente ainda, na ligava até mt ao Natal e fazia de conta que era um dia em que a hipocrisia reinava no seu maximo... Mas quando a doença foi tomando as rédeas da minha vida e me transformei totalmente submissa a ela e vi que os filosofos que eu eregera em meus deuses, nao tinham respostas para as minhas desesperadas incompreensoes, só me restou uma busca desesperada: procurar ALGUM FILOSOFO/DEUS QUE ME ACIETASSE COM TODAS AS MINHAS IMPERFEIÇOES, SEM ME CONDENAR, QUE ME DESSE APENAS A MAO NO ESCURO QUE SE FAZIA SENTIR.. E AS NOITES DE NATAL PASSARAM A SER AS MAIS ESCURAS DO ANO, NAS QUAIS EU OLHAVA PARA O CÉU E QDO VIA UMA ESTRELA PEDIA "MENINO PF ONDE QUER QUE ESTEJAS NAO ME DEIXES SOZINHA, DÁ-ME A MAO".. e foi no meio dessa busca, mt mt dolorosa, mas rica de descobertas tb, que a minha mudança começou...
bj gde m querida e qcredita que as lagrimas ainda correm enquanto escrevo e sempre que celebro o meu Natal lembrando do que foram os natais antigos e que sao os natais de tantas mas tantas pessoas que peço ao Menino passem tb a descobrir o quanto antes que Ele só quer que lhe aluguemos o nosso coraçao naquela noite e em todas as noites das nossas vidas... e olha qeu foi de fundamental importancia para a m descoberta de Natal uma mensagem dos foruns do Clix do Sentir amargo/riscos em que o Menino dizia "deixem-me passar esta noite convosco". E ainda ha quem diga que na net tb nao ha milagres..
bjs AB/RAio Verde

disse...

minha querida Raio,
Este foi um Natal diferente, não o que eu queria, mas a caminho desses...ainda caio e recaio...mas cada vez me levanto mais depressa e é nessa pressa que reside a minha vontade de ter o direito de ter um Natal calmo, assim como imagino o do menino Jesus, sem caos, esse caos que ainda se instala na minha cabeça. Ontem foi mau, hoje foi bom...mas nem tão mau como antes, nem hoje tão bom quanto eu considerava "antes" ser um bom dia...Os meus desejos vêm cada vez mais ligados às minhas acções e ainda assim não chega...só quem passa sabe o que é, e quem ultrapassa saboreia a vitória de dominar este monstro...obrigada minha querida

Anónimo disse...

querida té eu acho que agora será pela repetiçao, cada vez mais repetida (perdoa o pleonasmo) dos habitos saudáveis, que irás vencer por completo a doença...insiste nessa repetiçao de habitos, no incumprir o menos vezes possivel as regras... porque acho que foi isso que tb me salvou.. lembro que levei para o internamento livros de filosofia e num deles tinha uma frase que me marcou e que tb ja tinha visto nos foruns do "Riscos" no clix, em que dizia mais ou menos que da acção nasce a vontade e da vontade surge o caracter..qdo dantes o meu raciocinio era excatamente o cotnrario: partir dum mundo perfeito a nivel das ideias e tentar consturi-lo num mundo caotico.. era uma luta insana, nao dava mesmo certo minha querida.. acabei por seguir a orientaçao da equipa: reaprender a comer com regras e depois a minha vontade foi-se reerguendo, ao mm tempo que começou a mimar o corpo...
bjs e estou sempre aqui..
Ab/Raio Verde

disse...

Sinto-me meio desamparada...é tudo tão perto, está tudo tão perto... parece que se deslizar um bocadinho nunca mais vou ser capaz de me reerguer. Tenho imenso medo, e a responsabilidade é maior, também sinto esse peso, como se devesse alguma coisa a alguém..
Quero seguir, não interessa se o caminho não é perfeito...não é, e eu também não sou...mas gostava de ser só mais um bocadinho...

Anónimo disse...

Té sabes que esta época é sempre mt complicada TABÈM por causa da comida: a pferta é demasiada quando ainda estás vulnerável. Eu propria noto que de ano para ano vou ficando mais segura nesta época, e embora nunca tendo falhado (G a deus e aos medicos e à força de vontade!) o facto é que para quem acaba de sair da doença, ou para quem está a sair, como é o teu caso, nao é facil..mas virão dias emlhores em breve ACREDITA. e procura sempre as tuas medicas, eu aconselhava-me sempre antes para saber como lidar com o "excesso de oferta" nestas épocas..
bjs e vai com calma, a ansiedade só atrapalha
AB/RAIO V.