Calma? (preciso de silêncio urgentemente)
Uma grita pelo "joão manuel dos santos silva". Repete, com cada vez mais raiva, cospe-se, abre a boca inteira a mostrar uns dentes de criança que faltam e os outros são pequenos demais.
deve estar nos 40. Uma injecção, apertada por mais três auxiliares, tanta gente e tanta força, para amarrarem a fragilidade de um corpo com uma cabeça tão determinada quanto louca.
Entra outra.
Para a minha frente... quis logo fugir, não quero conviver com elas, não quero ser parte do "grupo".
Entra outra, mal-criada. Pede o lanche...Graças a Deus.
"não vou vestir essas calças, não vou andar com a roupa do hospital."
"mas uma pessoa vem para aqui e não lhe dão lanche??? "- não vou partilhar contigo o meu iogurte, o meu pão nem a compota". Refilona, mal educada com o cabelo áspero que a tinta loira te deixou.
A tua cama, a tua mesa de cabeceira, o teu cacifo: "não pode mandar limpar isto tudo?
Está limpo...
Ridícula. Saio e não deixo a porta bater... 3 novas e deixam a minha ala mais completa do que estava.. gostava do vazio do silêncio que os comprimidos provocaram nas outras... era aí o meu minuto... acho que esperava sempre por ele para adormecer...
Este caos aumenta-me a pulsação. Este caos faz o meu cérebro gritar-me cá dentro FOGE!!!
Vou pelo corredor a criar a terceira fila. Ouço a Dra a dizer que vai tratar do internamento... atrás dela um pai cansado, cabelos brancos a balbuciar qualquer coisa que a filha manda calar... a conversa é terminada por ela: "não me chateies". Seguem à minha frente...ela com um andar arrapazado, um olhar misto de raiva e tristeza...mais raiva que tristeza...
Ainda não entrou, mas vai para perto das miúdas, como nos chamam...
Fujo a sete pés das amizades... fiz uma e acho que vai durar... entendemo-nos e não partilhamos o quadro do que nos trouxe aqui dentro. Talvez tenha sido só por isso. E por termos chorado juntas , fiz o nosso retrato, está na minha cabeça... e é incrível desenrolar novelos cheios de pó...
Das "outras": distância... na minha calma simpatia, percebem que não tenho paciência, nem preciso ter...
Aqui experimentei dar um berro a quem merece, sair sem dizer nada, fazer o que me apetecer ou não fazer absolutamente nada. Aqui tudo é permitido... mas as nossas regras são as mais difíceis de todas... Os outros, acham estranho, outros percebem, outros não querem saber, outros são como o mundo inteiro que nos olha com desdém: miudas caprichosas cujo-problema-se-trata-no-McDonalds.
Não me interessa nada... mas no meio deste caos ainda me perguntei o que estava aqui a fazer??
E sim, apeteceu-me entrar consultório dentro e pedir ALTAAAAAAAAA...
Subio o nível do nome desta ala com redes entre as escadas, cujo elevador se apanha à frente de uma porta com letras grandes: SHINDLER...à...é a marca dos elevadores.
Daqui a 3 dias passa um mês.
Tenho medo destas pessoas.