terça-feira, 15 de novembro de 2011

amanhã

O tempo não passa e o corpo pouco muda, à espera do tempo, talvez...
As ideias baralham-se, o coração acelera como acelera a chumva lá fora, que eu não vejo, mas que sinto.
mão dormente,
fazer força para o ar entrar,
sonhar com a vida lá fora
e temer-me na vida lá fora...
As certezas são muito poucas, e que prepotência a minha de achar que o futuro pode ser ditado por mim agora...
Quero o amanhã,
mas só depois do hoje...

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

reuniões e afins

Como é que se faz?
Entendo as palavras,
percebo as frases mas não percebo o seu significado... na realidade também não pergunto, mas a única maneira que tinha para poder perceber era: pode-me explicar o que está a dizer?
Tem dois minutos?
mais...
obrigada

domingo, 13 de novembro de 2011

ela

Há muito tempo que te quero dizer adeus,
há muito tempo que te odeio, mesmo quando nada mais existe no mundo para além de mim e de ti...
Há muito tempo que estas palavras parecem mentira,
que os meus gestos me contradizem,
que os meus dias são mais do mesmo sempre a querer, nunca a fazer...
E quando o nunca se enfrenta lá vem o dia em que tremo dos pés à cabeça, do dia à noite...
Não é segredo meu que te odeio,
mesmo quando tu me amas incondicionalmente e ainda mais quando fraquejo e te faço a vontade.
E eu odeio-te mesmo quando parece que me aconchego no teu colo,
E os outros julgam que me dou a ti e a mais ninguém como a ti...
Mas estão errados, mesmo que nunca lhes consiga provar...
Quero e trabalho todos os dias para que seja o último, para que seja o primeiro,
É neste querer e não poder que tudo dá conta do que nunca cheguei a ser e muitos julgam que sou...
Eu odeio-a
E amo-vos

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

laboratório

O peito despedaçado,
A alma calcinada, calcificada... não lhes sinto as mãos e as palavras, o frio tem a mania de tornara calcificado o que já foi mais moldável...
O medo aprisiona,
Como as palavras que dizemos sem as pôr em causa.
Querem que o muro quebre, mas o muro está gelado demais para sequer lhe chegar próximo e tentar ouvir quem está do lado de lá.
O frio do corpo arrefece ainda mais antes de me deixar deitar a manta por cima,
o aconchego não chega... demora...
E será tudo muito rápido: uma experiência em laboratório em que se conhece todos os procedimentos, todos os utensílios e reagentes.
Aplica-se a forma e saio com o resultado...
Que esta se aproxime mais...
Que esta seja a minha...
Que eu seja para ela...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Interromper.
A rotina deserta, o olhar compassivo, a atitude prosódica, milimetricamente rezada, conhecida em ritmo, desconhecida no conteúdo verdadeiro porque, de aprendido, muito pouco escutado. Interpretação zero. Olhar embaciado, brilho ausente, intenção e emoção roubadas pela obrigação.
A estagnação de horas a mais que um dia inteiro, horas inteiras de espera... desesperada na vergonha da resposta que se esperava, conhecer mais cedo...
O telefone não toca e a resposta não chega.
E a interposta reacção é já certa... anulada só pela ausência da questão premente.
Ela disse que não se desiste, que não faz sentido desistir enquanto houver uma vida pela frente que pode ser vivida de maneira diferente... tem a sua questão arrumada mas que de nada serve se quem tiver de decidir deixar este futuro nas mãos de quem desaprendeu a andar.
E ela, a de todas as semanas disse logo, também, que a sua razão era desperta demais para deixar passar em branco um futuro que pode não chegar a ser...
Mas mais uma vez de nada serve a conclusão, de nada serve a vontade de pegar o futuro nas mão de quem não sabe atravessar a tábua com o cuidado suficiente para não cair e oferecer a carne aos devoradores...
Quem tem a palavra faz-se de surdo e o futuro encurta-se. Quem tem o poder de decidir interessa-se antes pelo castigo de quem já teve as suas hipóteses... como um réu que repete o crime... só que em vez da repreensão e da detenção, é deixar ao vento... que o vento magoa quando sopra forte demais e pode ser que alguma coisa lhe quebre a cabeça e que esta avance noutro sentido... chamar-lhe-ão negligência.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Bailarina

rodopia com grande sorriso.
black out. Luz morna e suave.

Sou uma bailarina.
Sou uma bailarina das caixas de música.
Abrem a caixa, a música toca e lá estou eu.
Seja a que horas for.
Seja quem for.
Seja para quem for.
Rodopio no mesmo compasso, com o mesmo sorriso. Irrepreensível. Eternamente graciosa, bonita, perfeita, divina.
E o que é que se podia esperar mais de uma bailarina da caixa de música?...

- Tem uma? A sra. também? - pois... de quando era mais jovem!... Mas o que é que acontece quando abrir a caixa?
Exactamente!
Música... a perfeita e eterna bailarina. Luz e também um espelho.
Consigo ver os braços, o tronco, as pontas.

E vejo: os braços, o tronco, as pontas.

E nunca me vejo...Inteira.

Quando cai a noite... desculpem. Quando a caixa se fecha e o escuro, aquela noite completamente sem lua nem estrelas me toma...
Aí sinto. Aí sinto-me... não me vejo... Mas... Alguém se vê??

E tenho medo, porque é desconhecido... tenho medo do avesso da minha pele. E do meu espaço entre a pele e o resto.. onde eu. Eu. Onde eu moro.

Está escuro quando me encontro mas é aí que sou verdadeira. Só aí, só aqui, sou inteira.

Ninguém imagina o quanto me custa... ser bailarina. O quanto aquela leveza me pesa, o tanto que este - aquele - sorriso corrói.

Mas no fim das contas.
O que é que isso interessa?? Sim, dói arde, custa, mói!

Mas quem é que se importa??

terça-feira, 9 de agosto de 2011

viagem

O corpo entra em ebulição de tanta inércia.
A anestesia contrai-se... não relaxes nem dormes, nem te encontras naquela moleza de apetecer não sair dali...
Não estás bem nem aqui nem lá,
Não te encontras a ti nem a ninguém.
O processo é moroso e cada dia que passa sentes na pele o aumento da velocidade com que querias querias que tudo acabasse..........................
E perdes-te no vento que se faz de tempo, sem ouvires nem veres nada porque é impossível manter os olhos abertos. Querias voar com ele, ir para outro lugar...aquele...
E remóis sem nada entre nada,
a cabeça fica a doer mais e mais...
rebenta por dentro e ninguém vê.
deixas de saber falar,
deixas
deixas-te...

sexta-feira, 29 de julho de 2011

desenho

O tempo aqui anda de maneira diferente
A agenda é por demais invariante, avariada, desvairada.
As horas deixam de fazer sentido rapidamente.... pelo menos atiro o relógio ao ar, atiro-me a mim também...nem que seja naquela meia hora supersónica em que o tempo voa com o vento que nos faz arrancar rapidamente, chegar ao fim da meia hora que tem menos minutos que as meias horas todas, de todos os dias e de todas as noites.
E se as horas lá de fora deixarem de correr assim?
E se o tempo também se virar contra mim e decidir gozar comigo?
E se...
Depois o acordo não for cumprido e eu me abeirar da liberdade dos sonhos negros, par mim de cor-arco-iris?
What you do is what you get...
quem dera que fosse tudo tão simples...
O caminho está traçado - esse.
Não importam as coordenadas... primeiro para este até achar que se pode parar, virar para sul ou para norte...
Sem dupla, só na procura de um não-lugar.
A minha utopia,
A minha esperança
A calma

quarta-feira, 20 de julho de 2011

um intestino

O medo de ser expelida da máquina onde a teoria é mais forte que as pessoas...
Se a teoria não se aplica, quem está mal foi quem chegou em última...Eu.
A teoria já funcionou muitas vezes, se não me conseguem trabalhar nela, se os resultados não são o que esperam, então quem está mal sou eu!
E peço para me deixarem ir,
e pedem mais um exame, mais um resultado, mais um "ohhhhhhhh" em uníssono para demonstrarem a surpresa, o "caso para estudar", a fora, o alien o OVNI...
Querem continuar a duvidar, precisam de mais provas? Podem agora acreditar que eu não estou a mentir??
E agora que o mito se desfez, e n m fazem nada, também nada estou aqui a fazer...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

verbo

O caminho é sinuoso, aqui não há ruas nem becos, nem degraus... linha recta. várias linhas mas sem muito por onde andar. O conhecimento é uma bíblia que daqui levo e depois cabe-me abri-la sempre que tiver dúvidas e tratá-la como tratam as crianças pequeninas o seu boneco preferido... adormecer com ele e relembrar-me de tudo, de tanta gente, de mim, aqui...
Nas dúvidas, perguntar
Na ansiedade, procurar
No pânico, confiar...e fazer uma visita, fazendo-me de malcriada que entra sem a terem convidado.
Tenho medo, é verdade.. Tanto, tanto como no primeiro dia, tanto como sempre.
É um medo que dói, é um medo peganhento e que se agarra à dor, do pé à ponta dos meus cabelos.
Qualquer coisa me tolda as pálpebras, e reaprende-se a chorar, a orar, a ter o mesmo medo mas ainda assim ir em frente... esta é a única maneira de o deter, a única forma de fazer os 100 metros com ele e chegar primeiro... Como é que sei? porque tentei todas as outras...
Certezas não há...quem dera saber se assim o medo fosse embora... ter aquela certeza, uma das certezas que preciso para avançar.... como sempre, com medo, mas pela primeira vez a CONFIAR

segunda-feira, 4 de julho de 2011

The place

Até ontem: St. Mary's relax & spa hotel

ALA II

Calma? (preciso de silêncio urgentemente)
Uma grita pelo "joão manuel dos santos silva". Repete, com cada vez mais raiva, cospe-se, abre a boca inteira a mostrar uns dentes de criança que faltam e os outros são pequenos demais.
deve estar nos 40. Uma injecção, apertada por mais três auxiliares, tanta gente e tanta força, para amarrarem a fragilidade de um corpo com uma cabeça tão determinada quanto louca.
Entra outra.
Para a minha frente... quis logo fugir, não quero conviver com elas, não quero ser parte do "grupo".
Entra outra, mal-criada. Pede o lanche...Graças a Deus.
"não vou vestir essas calças, não vou andar com a roupa do hospital."
"mas uma pessoa vem para aqui e não lhe dão lanche??? "- não vou partilhar contigo o meu iogurte, o meu pão nem a compota". Refilona, mal educada com o cabelo áspero que a tinta loira te deixou.
A tua cama, a tua mesa de cabeceira, o teu cacifo: "não pode mandar limpar isto tudo?
Está limpo...
Ridícula. Saio e não deixo a porta bater... 3 novas e deixam a minha ala mais completa do que estava.. gostava do vazio do silêncio que os comprimidos provocaram nas outras... era aí o meu minuto... acho que esperava sempre por ele para adormecer...
Este caos aumenta-me a pulsação. Este caos faz o meu cérebro gritar-me cá dentro FOGE!!!
Vou pelo corredor a criar a terceira fila. Ouço a Dra a dizer que vai tratar do internamento... atrás dela um pai cansado, cabelos brancos a balbuciar qualquer coisa que a filha manda calar... a conversa é terminada por ela: "não me chateies". Seguem à minha frente...ela com um andar arrapazado, um olhar misto de raiva e tristeza...mais raiva que tristeza...
Ainda não entrou, mas vai para perto das miúdas, como nos chamam...
Fujo a sete pés das amizades... fiz uma e acho que vai durar... entendemo-nos e não partilhamos o quadro do que nos trouxe aqui dentro. Talvez tenha sido só por isso. E por termos chorado juntas , fiz o nosso retrato, está na minha cabeça... e é incrível desenrolar novelos cheios de pó...
Das "outras": distância... na minha calma simpatia, percebem que não tenho paciência, nem preciso ter...
Aqui experimentei dar um berro a quem merece, sair sem dizer nada, fazer o que me apetecer ou não fazer absolutamente nada. Aqui tudo é permitido... mas as nossas regras são as mais difíceis de todas... Os outros, acham estranho, outros percebem, outros não querem saber, outros são como o mundo inteiro que nos olha com desdém: miudas caprichosas cujo-problema-se-trata-no-McDonalds.
Não me interessa nada... mas no meio deste caos ainda me perguntei o que estava aqui a fazer??
E sim, apeteceu-me entrar consultório dentro e pedir ALTAAAAAAAAA...
Subio o nível do nome desta ala com redes entre as escadas, cujo elevador se apanha à frente de uma porta com letras grandes: SHINDLER...à...é a marca dos elevadores.
Daqui a 3 dias passa um mês.
Tenho medo destas pessoas.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Na sala onde tanto acontece

É difícil sentir quando tudo é novo e antigo ao mesmo tempo... a rapidez é intensa, imensa... e mesmo quando as horas parecem não passar há sempre alguém, sempre alguma a despertar o céu cá de dentro e a fazerem-se estrelas para eu parar e ficar a olhar, deitada para elas...
Este tempo não tem tempo nem números, estas palavras querem-se todas inteiras para ficarem cravadas e nunca mais as perder... e quando imagino,
quando olho para um dia melhor, lá ao fundo, volto a perguntar-me, cheia de medo, se tenho direito, se ainda tenho direito...
E desfaço-me antes de entrar e arrisco-me antes de eu própria carregar no travão com todas as forças...
Os meus pés,
As minhas mãos,
os meus ouvidos, boca, pele, coração...
Há dias em que o coração fala e há dias em que o coração só dói...
E eu fico com medo,
enrosco-me como um bebé... adormeço acordada, porque tudo começa logo a seguir...
ouvi dizer que lhe chamam vida, e que está à minha espera.
Vontade e medo, sonhos e pesadelos de não perceber muito bem onde acabam e terminam, onde está a minha estrada e os meus passos... há dias em que não me vejo a caminhar sequer... mas depois vejo que cheguei mais à frente...
levaram-me ao colo,
embalaram-me, adormeci e ganhei força para pôr novamente um pé firme no chão.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Outra coisa

Segunda feira sei o dia em que vou tentar mais uma vez.
Novas pessoas, nova maneira de ser cuidada, muita vontade de lhe provar que não vai ser igual... Também lhe quero provar a si que consigo acontecer de maneira diferente,
nas entrelinhas dos sonhos mora esta esperança... pequenina, frágil... mas quero lá chegar, ser capaz de confiar, confiar cegamente...porque afinal, qual é a pior coisa que pode acontecer?
Houve tempos em que julguei que o descontrolo seria tanto que nunca mais pararia... ainda tenho medo... mas tenho tantas provas que "sei" voltar atrás... a diferença é que desta vez não quero!
Não quero mais ouvir na rua os comentários mais despropositados, não quero ser uma preocupação mas uma pessoa, uma filha, uma tia, uma madrinha, uma pessoa que ama e que se deixa amar, sem medos, sem amarras... será assim tão difícil? Se sempre fingi, e houve alturas que esse fingimento era a minha verdade mascarada, hoje nada que eu faça ou diga, desvia os olhares...os passos, o medo... porque o corpo fala...e eu só ainda não sei o que é que ele quer dizer...
Vou ali e já venho...

terça-feira, 31 de maio de 2011

amor

Põem-se as hipóteses em cima da mesa... a conversa meio-séria, parece ter-te chamado à Terra... transformam as tuas hipóteses solitárias em verdades sérias e graves. E decides, sozinho, ser, estar, fazer parte, ser companheiro, comparsa, amigalhaço das horas todas...
De algumas aceito... sempre gostei de algumas conversas e sempre me deixas-te escolher o tema, ou fugir àquele que era o teu primeiro propósito. Esse teu medo não faz sentido... talvez fizesse se eu, de cabeça quente decidisse... mas também parece não conheceres esse meu lado de cogitar a mil à hora, bem antes de anunciar a decisão, a minha... e tu opinas antes, durante e depois... e esperas, sentado, porque leva tempo, até ouvires a minha decisão... aquela que não foi tomada por ainda não ter arrefecido o suficiente para a poder expulsar e revelar... Fazes disso um filme quando quem trabalha com os filmes sou eu... e sempre, sempre a ironia - aquela que me ensinaste era eu muito pequena e sem a capacidade de ver dois planos numa frase - a existir e co-existir entre a minha pele e o ar que te separa de mim...
nunca entendeste a minha pela e, ironicamente, dou-te essa sensação e sorrio quando me julgas igual a ti... esqueceste é das frases que te tornaram homem, que desfizeram o pai-herói para passares a ser pai... Tenho orgulho em ti, mas muito mais naquilo que nem tu próprio conheces de ti... talvez este pensamento seja demasiado pretensioso, mas eu sempre quis ir mais além... mas nunca em competição com os outros... aliás, acho que houve sempre um caminho paralelo que me impediu de querer atingir a meta de alguém, porque sempre me senti fora do mundo onde os meus pares viviam...
Não venhas sem seres chamado, acredita que me estás a deixar seguir o meu caminho... acredita, eu sei que consegues como sempre o fizeste... e continua depois, quando o que tiver de acontecer, acontecer na realidade, que fui eu quem não deixou... essa frase já não pesa... e, afinal, não somos assim tão iguais?? qual é a surpresa?... Às vezes parece que pensar te cansa... mesmo quando dizes que só me tens a mim...ficas com um ar baralhado, alucinado e na minha cabeça, a tua imagem é de um miúdo que queria muito um brinquedo que ficasse para sempre ligado a ele... que lhe lembrasse do quanto era boa pessoa, amigo... virtudes de que falas, mas que na realidade não acreditas... Se quiseres faço-te uma lista, mas não me interrompas durante o meu monólogo em que és tu a personagem principal... não te negues, porque lembra-te sempre e para sempre... eu sou igualzinha a ti...
resta saber em quê...
E assusta, e dói, mas ao longe... quando dizes nunca teres sido feliz, nunca teres desejado mais aquela mulher do que contrariares a tua família, de te teres acostumado e viveres na ideia que estás somente a ser um bom samaritano.
Estás mais que a tempo de viver a tua vida... e percebo, acredita que entendo na perfeição a necessidade de estares fisicamente... mas sabes, essa companhia sempre foi a que eu não quis, nem precisei... os dois planos que me obrigaste a saber entender, ditaram-me o que era estar presente...
E tu sabes bem o que é... esse entendimento sabêmo-lo sem o dizer...
E como sempre, eu resolvi.
A escolha, agora, é minha.
E sabes... AMO-TE

sábado, 28 de maio de 2011

foto em família

Chamo-te sem vergonha nenhuma na cara "egoísta"
Não tenho vergonha de o fazer tal como não tens vergonha de me desarmar quando sais da mesa e nem tens coragem de olhar para mim a fugir sei lá ao quê?
Onde é que está essa vontade toda de "ajudar"? se é a fugir, foge... deixa-me, obriga-me, faz-me sair de casa para não estar contigo.
Jamais te culparei por uma sílaba qualquer...dita ou por dizer... dou-te os parabéns por teres feito sempre o teu melhor, o melhor que nunca chegou por teres estado tão longe. E agradeço-te com a maior das ironias quando dizes ter tido medo que eu fizesse qualquer coisa...sim, os 12, 13 anos de uma criança que nunca pisou o risco são demasiado assustadores para teres pegado nela e dizeres e fazeres tudo o que estava ao teu alcance... até porque vivemos longe dos médicos, a 10 minutos de Lisboa...
Hoje tenho a desilusão bem marcada no coração e peço-te imensas desculpas, porque nesta família nem isso se pode sentir... somos um retrato feliz. Daqueles estanques, que não mudam a hora...que estão sempre de dia mesmo quando a noite é escura demais para se conseguir aguentar sozinha... desculpa ter medo às vezes, nesta família em que não se pode sentir... Chorar é um drama, ter medo não faz sentido, ter raiva é inaceitável... os beijinhos são secos, os abraços não demoram, o culto das regras "familiares" são muito bonitas e para serem cumpridas...depois mete-se o cumprimento num liquidificador, e passa tudo a um sentimento de união ou de outra coisa qualquer, não interessa...
A família cor-de-rosa, passa a preto e branco pela lonjura...por tudo ser demasiado antigo e cheirar a mofo...
quer falar comigo? força, diga o que tem a dizer e depois opine, faça das minhas respostas, novas perguntas suas porque, lamento... o que tive a dizer disse-o na altura em que fazia sentido...
E se os voltar a perder, os sentidos, não fique comigo nos braços, por melhor que seja esse sentimento de me ter... vá, mas chegue tarde... eu já lhe disse o que quero, e, pela última vez, faça pela primeira, a minha vontade...

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quem me dera

Quem dera que chegassem as palavras para explicar,
as emoções saídas nas lágrimas tivessem letras a construir um puzzle ao qual já nem o conhecimento detenho...
Quem dera que o mundo fosse só o mundo, e a vida a-minha-vida-com-outros.
Quem dera que os dias passassem sem eu dar por eles e que os vinte, os trinta, os quarenta, não fossem peso, mas um não-dar-conta...
Quem dera ser capaz sozinha,
quem dera, quem me dera acalmar no balanço quando me embrulho em mim própria a tentar adormecer porque a vida lá fora está a custar demais...
Quem dera que a vergonha fosse por erros e não por impossibilidades às quais nenhum argumento serve porque "sim, tem razão".
Quem dera que amanhã haja frutos doces e chegue o fim das maçãs envenenadas...
Oxalá tenham coragem,
porque as minhas últimas gotas acabaram...

sábado, 21 de maio de 2011

em cena

Virou-me ao contrário e agora não há volta atrás.
Impedi-me de ser livre... mas foi muito depois de ter perdido a responsabilidade...
Já tenho tudo preparado na minha cabeça, como sempre... concluo o guião antes de o escrever... e darei as didascálias, uma por uma, a estes novos actores do improviso...
Compreendo a necessidade... e não o fiz por mim, mas por si, porque vai ficar "aliviada" depois da conversa... como um "passar a bola"... depois... Não sei.
A minha raiva e frustração têm tendência a ligar-se e a fazerem silêncio, tal é o furacão que vai aqui dentro... Não fui capaz de confiar mais, não fui capaz de me desmascarar a partir desse momento...
Vão entrar em cena para quê, se em 12 anos nunca o fizeram verdadeiramente... ?
E vão julgar-se muito capazes, curtir a o controlo, orgulhar-se de cada passo e pensarem "fomos nós.. sem nós ela não se safava"
É injusto e já sei que vai haver discussão... passado uma semana, como sempre, vão deixar de estar, ou quem se vai embora sou eu...

quinta-feira, 19 de maio de 2011

solidão

O tempo anda à sua livre vontade.
Acelera, retrai-se.
Como fazer mais se num instante me tombo sem saber de onde vem o excesso de gravidade?
O controlo, a auto-censura, a completa noção de prever e antecipar tudo a todo o tempo, acabou.
Acabou a farsa e vingou a clarividência do momento exacto, em que o corpo não me tem a mim.
Regressei a ele já duas vezes pela repetição do meu nome e a sensação não existe... o sentimento sim, mas esse não se pode dizer, porque quando o sentimento e o pensamento se fundem, assustam quem não está preparado para ouvir uma simples explosão de dor.
Causo-me náuseas de tanto falhar, tenho repulsa a esta determinada acomodação que se revela num estar inerte, um pouco longe e deslocado...
Cá dentro a diminuição da chama... aquela luz pequenina que eu própria acendi antes de me afastar do chão.
Fui para a Lua e avisei a toda a gente... sempre sem palavras como fui ensinada desde muito nova... as palavras são desnecessárias quando há coisas importantes para dizer. Revolvo-me nesta ultima frase e percebo a solidão em que isso me fechou.
Hoje sei e não existo..fugi daquela dor, e ela encontrou-me...disse-me que viveria para sempre aqui...
E tanto que lutei,
Faltam agora as forças,
mas um dia, um dia será diferente.

terça-feira, 3 de maio de 2011

corpo dorido

dói...
Tanto que não sei de onde vem. custa sentar, acordar, encostar... os membros estão nengros como se me apedrejassem violentamente.
Como é que se faz? onde é que eu fiquei?
Tirem-me daqui, não vejo nem oiço nada, não consigo reflectir, recomeçar, reencartar-me
"Quando é que deixaste de te amar"
Desculpe... não me lembro...

segunda-feira, 25 de abril de 2011

"eles" e eu

É no mínimo sarcástico o meu trabalho actual...
E o que escrevo para "eles", escrevo-o na minha pele também...
Mas neles, há a garra que me falta, as desilusões não devem andar afastadas... mas os sucessos são visíveis, dignos de um aplaudo em uníssono de Portugal e do mundo inteiro.
Passo entre eles, a dar mais uma dica e outra a quem diz as palavras que escrevo. Não consigo olhá-los nos olhos, mesmo que isso não seja necessário... A gigantesca montanha que nos separa coloca-nos praticamente no mesmo lugar... eu de um lado, eles do outro...
Os números, a balança, a vontade...
A vitória, as quedas e a derrota.
Longe de mim invejar-lhes a pele, mas a força, essa sim... daria tudo para a ter agora...
O risco que corro agora é mais alto do que o deles neste momento.
Não parei ainda, não entrei ainda no meu corpo para o tratar, para aprender a amá-lo, a amar-me.
A semana passada tive um susto e livrei-me de outro...as percentagens assustadoras não me tocam nem chocam como deviam... e esta semana, voltei ao número impossível.
tenho uma semana para voltar a levantar-me. pelo menos a ficar no ponto onde estava, ou sei lá onde... já recorro aos métodos de emergência e é difícil gastar dinheiro para aguentar quando "não há tempo"... Não é o dinheiro que custa gastar, é eu ter de munir-me para aguentar, mais um dia, só mais um dia, só mais um dia...

domingo, 24 de abril de 2011

são os dias

Queria uma concha, deitar-me embrulhada em mim,
adormecer...
Fugir do ruído todo, das preocupações dos outros sobre mim... Eu sei... mas nada mais posso dizer, a não ser "não te preocupes, estou bem"...
Custa a repetição, cansa... mas não cansa mais do que carregar o peso deste dia-a-dia, cada vez com menos esperança, cada vez com menos sonhos, menos prazer, menos lágrimas... pela inevitabilidade que agora parece a única saída...
Já soube lutar, já me armei com tudo o que tinha e não tinha, já me desarmei inteiramente e entreguei-me a quem me pediu para confiar...
A vida corre como os passos da corrida, um pé à frente do outro, qualquer que seja o destino... e às vezes pensar: para quê pensar? que futuro?
A minha carreira limita-se à sorte de ter quem me queira activa, com a determinação e empenho que este meio me conhece...
Mas... para quê?
Para quem?
Para quê?
Deixei de matutar nestas questões que só me atrasavam as horas...
Estou aqui. Estou viva. Pago o irs e a segurança social. Não dependo de ninguém, não peso a ninguém...
O Futuro?
O futuro...

quinta-feira, 21 de abril de 2011

a noite do dia

Alguma coisa ou alguém,
uma corda, uma mão, um abraço apertado e quente...
O frio entrelassa-se nos ossos,
e a termogénese protege-me do congelamento total...
O cérebro não age, reage,
os músculos dão conta do recado mas pedem-me as contas ao final do dia, e castigam-me.
O coração avisa-me da lentidão que necessita a cada passo que dou e eu respiro fundo...
espero que o oxigénio me renove as forças e estou mais presente do que nunca em cada fase de todas as funções vitais...Como se a pele fosse tão fina, tão transparente...
Engano o resto,
ou penso que o faço...
Riu-me simpaticamente das poucas frases que dedicam à preocupação de quem nada sabe do que se passa.
um passo mais
um músculo pede ao vizinho para trabalhar...
O dia acontece, a noite rouba-me e o escuro protege-me...posso ser EU, com todas as dores...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

a rede

Sem rede e a tentar subir alto, alto...longe do chão, do fogo no chão do chão que desaparece assim que o pisas...
O medo, de não ter rede é o resultado da queda...de mais uma queda depois de cair tantas vezes... e magoa, cada pedaço...dorido, aleijado, sofrido...
E ninguém imagina, quando a gazela corre, o quando lhe custa erguer, saltar, para o pedaço de terra a seguir... ou a aterrar ou atrapalhar-se nas suas próprias patas e cair... ser atacada em vez de fugir ou atacar para sobreviver.
Hoje,
tirar-me-á a rede?
Vai deixar-me?
Sem perguntar é tudo aquilo que quero ouvir,
e uma esperança,
um nó,
um aperto profundo em que todos os órgãos se retorcem...
Hoje talvez espere os números de amanhã
E saiam,
em debandada do cenário de guerra aberta...
direi só que percebo,
que entendo,
chorarei depois...

quarta-feira, 13 de abril de 2011

chega?

Preciso de ir. de partir.
Preciso de ter a sua palavra a confrontar e calar as minhas. preciso de ordens e não de sugestões.
Preciso de assumir o meu 'hoje'. Preciso de largar o passado e construir no amanhã o meu futuro, se for para o futuro existir.
Preciso da sua visão pragmática que tanto me escapa por ora,
Preciso de assumir que é mesmo do cansaço e que não 'emburreci' nem fiquei mais lenta por alma e graça do Espírito Santo.
Preciso que o corpo pare e que a cabeça comece a trabalhar.
Preciso de desligar o piloto automático que me mete a 100000 à hora... o resultado já nem é como era...
A máquina queixa-se
O corpo grita a cada dia...
Tem toda a razão.
Onde é que fiquei?
O que é que aconteceu?
Quando é que o desamor se colou à minha pele?
para quê uma pistola dentro da boca prestes a atirar?
Não penso. Ajo, como posso e me obrigo a cada dia, com um esforço vindo de uma força que não é a minha...
parar... parar é morrer

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ambiguidade

Antes de adormecer fecho a janela até meio.
Quero que o sol me diga bom dia já que o corpo está amuado comigo e não temos conversado...
Confesso que também estou zangada com estas dores de virar a anca de um lado para o oposto...
Estou zangada,
Estou furiosa,
Estou acordada.
Gosto dos dias maiores, dilatam as horas.
Odeio o crescer dos dias, durmo menos e a dor dura mais...
Preciso de uns olhos, preciso...
(Não peço)
Tenho medo do próximo encontro e é incrível como tudo o que tenho escrito são encontros onde acontecem coisas tão importantes que mudam o rumo... do jogo...
é entretenimento, é programa, é televisão... mas são pessoas...
Sempre me custou pegar em pessoas e transformá-las... mesmo que sejam elas a vir, muitas a pedir...muitas a querer só aquilo que eu fujo... serem vistas!
Este novo trabalho faz-me lidar com vidas trancadas dentro de um corpo que reconhecem e odeiam...(onde está a diferença)... Depois de todos os meus dramas éticos, tratei a forma de ligar com aquelas pessoas - é o poder que me dá escrever - são heróis. Heróis por lutarem, por desistirem e regressarem à luta...
Rendi-me e tenho inveja dessa garra.

domingo, 10 de abril de 2011

o medo invertido

A acertar a ordem e o passo.
Não há outra forma...
As dores da compressão exprimem-se negras, resvalam para o verde até desaparecer, a cor e a dor.
O destino é incerto, o caminho sinuoso,
A falta de mãos e de braços, o aumento do vento a zumbir e a fazer-me coçar as orelhas compulsivamente, pela impressão que deixa cravada.
As pernas levantam-se, uma de cada vez, os pés pousam um de cada vez... e o cansaço, a maldita fadiga de quem só tremeu de nervosismo e não fez sequer um km.
Há uma parte orgulhosa por me ter posto ao caminho, por ter saído da gruta onde o escuro me toma e me cega...
Abri os olho e vi, quis ver e quis levantar-me...
O medo...o medo...
pelo menos por agora virado para o caminho certo..
não tenho de ter medo do que antes havia tido, do que tenho na maioria das vezes, do que me persegue horas e horas, o meu trabalho a 24 horas.
Ganhei pela primeira vez o medo certo,
e por mais estúpido que seja, gosto deste medo e preciso dele...
Sabe bem este medo... há uma cumplicidade, menos solitária nestes medos que todos temos...
Este medo aproxima, este medo é o medo dos outros que me olham...
Deixei por ora o outro medo, mas sei e estou preparada para voltar a recebê-lo...nada, nem o medo passa assim...
E ainda assim, sei que nada nem ninguém, o pode mandar fora e despedir-se dele senão eu...
E ninguém melhor que eu para se despedir... Por milionésimas vezes me despedi... disse adeus, tantas vezes sem palavras... É duro gostar e mandar embora... mas foi preciso, ou julguei que o era...
Essa é a solidão controlada.
A outra... na outra, eu não tenho mão...

terça-feira, 5 de abril de 2011

4, 3....

Abaixo do limite,
muito abaixo,
nem lhe disse hoje depois da "ameaça" da semana passada...
E eu quero, juro que quero, mas ninguém acredita porque as pessoas são as acções e eu fico, só a ver, só a deixar o tempo correr... e cada esforço é cada vez mais em vão, como se o corpo me estivesse a "ajudar" a dar-"lhe" tudo, a dar-"lhe" a minha vida... de uma maneira tão simples, de uma maneira tão francamente simples e veloz...
E eu não tenho já forças para correr e me apanhar.. e não paro... e não ajo todos os dias como Quero, como QUERO... e ninguém acredita... mas eu QUERO...
Que me arranquem do corpo, que me levem, que me abracem...que me devolvam o meu eu de dentro, que me ajudem a encontrá-lo....perdi tudo... do 4 para o 3.... não era nada disto...nada disto que eu previa...e tenho medo, tanto medo... embora aja como se não o tivesse, embora esteja em cada dia como sempre estive... mas sou eu cada vez menos sem mim... Quanto tempo é que sobra?
Às vezes não sei se prefiro que o tempo acabe já...
Porque o medo é que dure a vida inteira...e isso é demasiado tempo...

domingo, 3 de abril de 2011

Primavera

O sol aparece mais, os dias duram mais, as flores, estão mais bonitas, o mar chama-nos... A primavera - e a quaresma para quem Acredita - são ou deveriam ser a preparação e o começo do renascimento, de quem ficou a dormir, voltar a acordar, de quem ficou no escuro voltar a espreitar a luz... de quem ficou na caverna, pôr a cabeça de fora. Sim É isto. Só isto. Tudo isto. Acima de tudo, começar de dentro para fora, do ninho para a imensidão do céu... Tenho saudades da primavera (não me julguem estúpida porque já estamos, porque sim, nela) mas da minha primavera... Sei que os passos terão de ser meus, sei que tenho de ser eu a espetar no cimo da montanha essa bandeira. Onde é que ela ficou, onde é que eu a deixei?

terça-feira, 29 de março de 2011

menos um

Foi o que ela disse.
Foi o que disseram depois como que a acertar no ponto, a verem através da pele bem mais do que as veias...
O limite, outra vez o limite...
O querer e o não fazer, o desespero e a harmonia do acto, como se estivesse tudo para o mesmo rumo e ninguém percebesse o quanto quero sair daqui de dentro.
As mão acompanham o cruzar dos braços.
Olho de baixo, do fundo...
e anuncio ao invólucro que não tem mais mãos que o toquem...
será o chão. A terra, a tijoleira ou a alcatifa a ter-te inteira, num sítio qualquer, num instante qualquer... porque nada disso importa, nada disso existe...
A cabeça diz que não, o corpo conforma-se e adianta-se à pressa de não ter tempo para deixar tudo pronto antes de partir... de cair, de desfazer-se como um puzzle onde faltarão sempre peças para ser completado.
"Quando é que foi?"
"porquê?"
Perguntas e perguntas baralhadas num cérebro de pássaro que já não se reinventa para encontrar a história e as marcas...
O boicote persiste, hipoteca-te, destrói tudo...
e no fim, depois de todos os lamentos, pedidos, dores de quem só observa...
é como a queda do Ícaro no quadro do Brueghel...
cai, afoga-se... e a vida continua (sem ele), continua... segue em frente,
mesmo que um dia alguém lhe sinta a falta... é só um lugar desocupado, preenchido depois pelo espaço a menos que se queixam sem dizer quem dele precisa para Ser.
É a antítese... o futuro promissor e um passado demasiado dorido para sequer um passo em frente... (onde é a frente?)
E pouco a pouco, as pistas são cada vez menos, os pesares, os pêsames depois...
E um pedido que nunca será satisfeito... o pedido das desculpas.

quarta-feira, 23 de março de 2011

o corpo e a alma

Faz do corpo uma mensagem.
Assustadora, ou pacífica por sempre terem conhecido, mais ou menos, assim...
O que faz perder corpo ao corpo, o que faz voltar a descer vertiginosamente, a voltar onde jurei nunca mais ficar um segundo que fosse...
O resultado não será o mesmo e por isso não posso chamar-lhe retrocesso... é uma descida assustadora, porque os pés deixaram de ter chão para pisar.
Hoje disseste-me "Gosto muito de ti", mas de que "ti", se nem sequer sabes o que se passa cá dentro... se vês por fora o que te faz ter medo de vir a ter ainda mais medo por aquilo que pode acontecer... e tu nem fazes ideia do que pode mesmo acontecer... nem eu. Mas a mim contam-me, e ouço-o como se estivessem a falar de outra pessoa qualquer.
Não é frescura da juventude, de pensar nestas idades que se é imortal, que a vida é longa de mais ainda, para se pensar num fim... Mas não é isso (quem me dera)...
É a experiência de anos, de cair e levantar no momento a seguir, de estacionar nas urgência e de no dia a seguir estacionar à porta da faculdade para fazer um exame, de estacionar no dia a seguir para mais uma maratona de horas de trabalho, de muito trabalho, sem fim...
O corpo aguenta bem mais que a alma, mas esta não se vê... só eu a sinto graças a Deus.

terça-feira, 22 de março de 2011

até ao fim

A descida vertiginosa acontece. Sem a provocar, sem sequer pensar muito nela...
O tempo acontece, acelera agora que não dou pelos dias passarem e até me esqueço de pagar a segurança social...e lá vem a multa!
Este novo trabalho não será multado por mim, vou aguentar, não quero saber o quanto custa ou o que posso hipotecar com isto. A minha vida não vai mais parar, vai com o tempo, rápida.
Não me interessa nada, fora ou dentro de mim... Eu aguento como sempre aguentei e faço absolutamente tudo o que for preciso e apenas o que for capaz de fazer. São momentos que me esperam e são momentos a que eu vou fugir sempre que for preciso.
Não vou ao chão, não vou cair,
aguentar-me-ei até ao fim
até ao fim...

sexta-feira, 18 de março de 2011

O sempre amanhã

Por mais anos que passem, o dia anterior será sempre com batimentos cardíacos desregrados e e guardanapos molhados de água e sal.
Saber O número, saber a mudança, como se ela acontecesse num só dia, interessa aquele dia, aquele número poderoso e agressivo.
Tenho medo e tenho ansiedade a mais para esta altura...
digo coisas parvas só para não ficar calada e pensar menos,
porque amanhã é O dia.
estou cansada destes dias, de ouvir e dizer sempre o mesmo, de sentir-me a morrer por subir e depois inspirar, não ter tempo para pensar se quero ou não ter os olhos abertos. Querer e não querer ver, querer e não querer, desejar, repudiar inteiramente tudo. Tudo.
Querer não sair dali, que sejam 10 a mais, já ou 10 a menos de repente e me levem, me tapem a boca e me achem inapta para tomar qualquer decisão. Não querer ter de querer saber...
Ir só.
Chegar só.
Conversar só.
Despedir-me, só.

quinta-feira, 17 de março de 2011

A Ti, sorte em ter-Te

Sinto um fio que me atravessa a espinal medula e ultrapassa o rijo crânio...vai até lá acima, acima das nuvens, acima do que é visível aos olhos...
A alma cabisbaixa e mesmo assim o fim não rompe.
Deus ama-nos independentemente de tudo, está para além de tudo e perdoa e dá colo a todos.
Ter fé, acreditar em Deus é uma sorte. Eu sou uma sortuda e desejo sempre que partilhem desta minha sorte... Há dias em que o mundo acaba e o sono nos leva, e mesmo assim ele está lá... nunca me zanguei com Ele, mas poucas serão as pessoas que tantas vezes como eu pediu o seu perdão.
E peço perdão a cada dia, e peço a cada dia que me tire o dom que me fez nascer mulher, cidadã, filha, trabalhadora, futura mãe, esposa, avó... Peço sempre perdão pelos papeis que não sou capaz de ter um "excelente" na sua execução.
Quando a cama parece o único abrigo seguro, la vem Ele, dar-me mil telefonemas com propostas de trabalho, uma força impulsiva de me inscrever num curso novo... e quando o trabalho fica feito e a dor aumenta de novo, lá vem ele, dar-me mais um projecto para desenvolver, e quando ainda sobra tempo em que as lágrimas não param lá vem Ele dar-me aquilo que me dá prazer fazer, em que o dinheiro é um mero instrumento para ajudar quem precisa...
Passo a vida a considerar-me sortuda, por tudo o que me acontece, por tudo o que não procuro mas me encontra...
Sou sortuda sim,
Sortuda por ter fé...por acreditar nEle acima de todas as coisas.
E espero...
respiro fundo...
e há dias em que não aguento e Tu já sabes o que te vou pedir... o único desejo que nunca concretizaste... e pergunto-Te encharcada por dentro e por fora... e Tu não respondes, Tu esperas e obrigas-me a esperar...e os pequenos milagres acontecem...esse fio que tu seguras, e que só vais puxar no fim de tudo... mesmo que te implore, o meu tempo é Teu. E peço-Te perdão outra vez.
Vou precisar de ser forte para o que aí vem, desta vez não vou deixar que o corpo me atraiçoe, vou cuidar dele o melhor que sei e consigo, mesmo que falhe, mesmo que a perfeição que desejo não chegue..porque ela, só a Ti pertence...
Tu sabes o meu medo, eu sei-Te aqui, mesmo quando parece que me deixaste.
Sorte em acreditar em Ti, sorte em ser conTigo e de esperar pelo dia em que me pegares ao colo para finalmente poder descansar...
Por favor, continua a acreditar em mim.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Quando tudo cai

Ontem senti-me assim, desamparada, abandonada, incompetente, escrava, no fim...
Ontem fui espancada por dentro, arrancaram-me a esperança e deitou sangue, ficou em ferida... Não chego lá para a tratar, para pôr creme, para desinflamar..
Ontem apagaram-me a chama... e no fim fiquei pedra, rija...
Ontem vi-me de fora, como se o corpo partisse de mim... porque eu saltei e ele não veio comigo.
Espero o corpo a apagar-se outra vez, espero que não esperem demasiado tempo, espero que vejam que não sou eu quem lá está, no corpo...
Não me rendi mas não consigo arriscar...
Mostro tanta força, mas é só medo virado do avesso.
Ontem deu por mim o fim, uma hipótese de ficarmos por aqui...onde resta amparar os passos para não acabar de vez... Ou esse pequeno espaço de vida ou a vida inteira caso me carregue até lá chegar.
Ontem resumiu-me a uma decisão... e eu não conheço as palavras das respostas...
Conduzi para casa de baixo de um dia de sol, mas com uma chuva torrencial que depois percebi,
eram os meus olhos e a solidão.

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Mais.
Ninguém vê, vêem antes o que eu não vejo e depois pedem-me coisas que não percebo.
Não estou habituada a esperar, antes a lutar e conseguir, furar o chão até ao centro da terra com a minha bandeira.
Preciso de laços e que os abraços não fossem cada vez menos,
Há uma sensação de dureza nos passos, uma rigidez feita dor de cabeça para não desviar do caminho... e quanto custa...
Nunca esperei parabéns nem me exalto com as congratulações dos passos em frente.
Quero mais,
Quero já ou quero nunca!

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

abandono e desamor

Lembro-me da esperança inteira,
às vezes ainda coloco as mãos a fazer de concha...e está lá, mesmo que vá caindo por entre os dedos...
Não me amo e abandonei-me numa praça de um sítio qualquer cheio de gente,
quero sentir o mar, inteiramente
quero apanhar chuva e molhar-me inteiramente,
quero sentir que eu sou minha, inteiramente...
Não sei onde fiquei, de onde vem tanto medo, tantos travões a fundo.
A verdade é que o que te sai da boca não te sai do coração,
e magoa, abre uma ferida bem grande, cheia de falhanços, escondidos pelas crostas sobrepostas.
As noites são iguais, ou são diferentes mas com um final igual,
sem apetecer amanhãs, sem acreditar, cada vez com mais dúvidas, mais desamparada, com menos braços que amparem a queda.
Ninguém sabe,
esqueci-me sempre de contar tudo...
e a minha história vai-se fazendo de capas e contra-capas diferentes... já não tenho livro sem capa.
já não sei rir por estar feliz,
não consigo chorar por estar triste.
E a vida lá fora continua sem mim.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

cubo de gelo

Estou com um pé no ar e outro a pender para a frente. Meio desequilibrada, ainda com um caminho longo pela frente... não vejo o fim mas o caminho já não é tão escuro. Quando as estrelas todas se escondem por trás das nuvens, fica mais frio, mas em vez de cega fico muda, e é esse não saber dizer, não entender que me revolta. Pergunto-me tantas vezes porquê... Dou os melhores concelhos como se tivesse estudado e decorado um dicionário de trás para a frente. Quando me tenho à frente, tudo se esvai... É certa a tendência que temos a valorizar mais os erros que as vitórias, como se as vitórias fossem a nossa obrigação e por isso não faz qualquer sentido serem elogiadas ou sequer tidas em conta.
Em Setembro não era neste ponto que julgava estar no fim de Janeiro... mas o calendário sempre teve a mais que eficaz maneira de me trocar as voltas...talvez por serem também feitos de números. Nunca acertei... mas se por um instante isso me alivia, esse alívio logo desaparece na próxima subida "à maldita".
Vim com as regras, e hoje está tudo melhor, melhor para mim, a minha querida médica também sabe disso... Porque cumpri, porque a cada resvalo se segue um retorno ao que havíamos combinado. Mas é como se estivesse estagnada, num cubo de gelo que me faz ter tanto, tanto, mas tanto medo...
Tentámos dar-me mais tempo, para ver se eu conseguia relaxar e deixar-me levar pelo que tinha aprendido e me tinha feito sentir melhor...
Todos os projectos que fiz para este tempo, não aconteceram e tenho medo de ficar sempre aqui.
Lembro-me de dia 5 de Setembro em que falei com uma grande amiga e que combinámos doar toda a minha roupa ridiculamente pequena, para eu nunca mais a poder vestir, para eu nunca mais comparar, ou num momento de fraqueza sentir "saudades"....
Não comprei mais roupa que é suposto não me servir, mas também não pude cumprir aquilo que combinei de sorriso nos lábios e uma força verdadeira de "é desta!", eu vou vencer porque EU quero.
E Eu quero.
Mas eu não sei onde é que eu estou...

cubo de gelo

Estou com um pé no ar e outro a pender para a frente. Meio desequilibrada, ainda com um caminho longo pela frente... não vejo o fim mas o caminho já não é tão escuro. Quando as estrelas todas se escondem por trás das nuvens, fica mais frio, mas em vez de cega fico muda, e é esse não saber dizer, não entender que me revolta. Pergunto-me tantas vezes porquê... Dou os melhores concelhos como se tivesse estudado e decorado um dicionário de trás para a frente. Quando me tenho à frente, tudo se esvai... É certa a tendência que temos a valorizar mais os erros que as vitórias, como se as vitórias fossem a nossa obrigação e por isso não faz qualquer sentido serem elogiadas ou sequer tidas em conta.
Em Setembro não era neste ponto que julgava estar no fim de Janeiro... mas o calendário sempre teve a mais que eficaz maneira de me trocar as voltas...talvez por serem também feitos de números. Nunca acertei... mas se por um instante isso me alivia, esse alívio logo desaparece na próxima subida "à maldita".
Vim com as regras, e hoje está tudo melhor, melhor para mim, a minha querida médica também sabe disso... Porque cumpri, porque a cada resvalo se segue um retorno ao que havíamos combinado. Mas é como se estivesse estagnada, num cubo de gelo que me faz ter tanto, tanto, mas tanto medo...
Tentámos dar-me mais tempo, para ver se eu conseguia relaxar e deixar-me levar pelo que tinha aprendido e me tinha feito sentir melhor...
Todos os projectos que fiz para este tempo, não aconteceram e tenho medo de ficar sempre aqui.
Lembro-me de dia 5 de Setembro em que falei com uma grande amiga e que combinámos doar toda a minha roupa ridiculamente pequena, para eu nunca mais a poder vestir, para eu nunca mais comparar, ou num momento de fraqueza sentir "saudades"....
Não comprei mais roupa que é suposto não me servir, mas também não pude cumprir aquilo que combinei de sorriso nos lábios e uma força verdadeira de "é desta!", eu vou vencer porque EU quero.
E Eu quero.
Mas eu não sei onde é que eu estou...

domingo, 9 de janeiro de 2011

voltar

Não te sentes perto nem de parte,
mas o à parte é esse olhar de fora, como se fosses uma câmara oculta que detecta os movimentos corporais, faciais, que querem dizer coisas que não sabes muito bem o que querem dizer...
Há contentamento, mas não há aquele calor que querias...talvez ainda não tenhas feito o suficiente para isso...
falas de ti, dos projectos, aliás, sempre foram "os projectos" o assunto híbrido que tenhas para contar e falar uma noite inteira se fosse preciso...
Hoje tentas-te tornar mais humana, mas não é fácil integrar essa vida na tua vida, aquela, própria, dos teus minutos e segundos inteiros.
Fazes parte, tu sabes que fazes parte ou não te chamariam nem convidariam para continuares a fazer parte...
mas chega ao fim e dói um bocadinho, não sei bem onde, muito menos por quê.