quarta-feira, 21 de março de 2012

respirar

Hoje é dia de despir a pele de elefante,
é dia de deixar chegar
o abraço,
as palavras em todas as frequências
os decibéis todos
Há dias assim, como num tribunal, em que se promete a verdade e não mais (nem menos) que a verdade.
Doem-me os músculos da real constrição de estar para chegar uma notícia bombástica, de estar para começar A prova, de estar n'A Hora.
Que ela não lhe tenha falado n'aquilo, que o número seja jeitoso e a saída com mais calma, a deixar respirar mais fundo.

terça-feira, 13 de março de 2012

até sempre

Um pé, depois o outro. o braço inverso, depois o outro. Assim. Equilíbrio. Vá. Isso. Estou a andar.
Trabalho. Ensaios. Aulas. Curso de Inglês.
Letra. palavras. frases. texto.
Assim.
Estou a ler.
Não para, não para, não para.
Ritmo. Noite, dia outra vez.
Tudo ao mesmo tempo.
A minha vida.
Não há mais paragens. É preciso resistir, persistir, ser capaz, mais que capaz.
Ninguém disse que ia ser fácil e o importante é não parar.
À noite vem um vento de um sítio qualquer... pergunto-lhe o caminho e devolve-me que o caminho é o que eu faço.
Há uma fortaleza à volta, sem janelas para não distrair, nada mais importa.
Graças a Deus nunca soube nem percebi bem o que significa desistir. É só uma palavra que sai da boca quando não se grita e se irrompe em desespero.
Mas desistir, tirar o "istir" ao existir, ao persistir, ao insistir... é o quê? ficar em casa sem agir? ser um peso para alguém, ser um mono a sustentar? Deus não me perdoaria... nem desistir de outra maneira.
Há uma tatuagem da minha pele, no avesso que não se vê que nunca me deixaria PARAR. Não seria eu, antes outra qualquer.
É uma coragem sem papas na língua, completamente descarada! Não se faz verdade quando o assim-não-vais-ser-capaz entra nos tímpanos. E ainda bem.
Consegue-se, um dia, outro e outro...até ao fim.

quarta-feira, 7 de março de 2012

medo

O corpo chega a doer da carga que a cabeça lhe mete em cima.
As mão eternamente geladas começam a suar, os olhos a arder, os pulmões pedem: AR!
E a verdade é que não há muito a dizer... as coisas estão tortas, desarrumadas. o caos é caos por dentro e do avesso... por mais que se tente arrumar, tem sido assim.
As lágrimas não caem quando se chora e a poeira acumula-se, como se o mundo fosse outro mundo, de outro qualquer.
A tempestade de dento agita-se mais um pouco quando parece não poder ir mais.
Não há controlo, não há sinfonia...
O avesso mete medo de tão disfónico, e não adianta tapar os ouvidos porque o ruído não vem de fora... e quanto mais silêncio, maior o volume... ensurdecedor.
Uma mão.
Não há, nem há lugar seguro para onde ir... Não deixam nenhum espaço ser meu porque o invadem com mil palavras que não posso refutar... porque são...verdade.
Ajuda-me em vez de dizeres que estou estúpida outra vez... acalma-me em vez de dizeres que eu estou a perder tudo outra vez.
Não vejo nada nem quando o sol se agiganta ao dia,
os pés não assentam,
medo
medo outra vez

segunda-feira, 5 de março de 2012

Custa acreditar que o caminho leva algum lado.
caminhar para não parar.
Caminhar só, por não haver outra escolha, que parar é muito pior...
paro.
recomeço.
ao caminho outra vez.

quinta-feira, 1 de março de 2012

Estremecer

de calor, de frio, de medo, de cansaço.
Da insistência inevitável porque viver é um papel que resume outros tantos: ser filha, ser trabalhadora, ser amiga...
A vida enrola-se em si mesma como as ondas... as ondas são o mar a espreitar o seu avesso, de forma tão subtil, entre barulhos gigantescos, que distraem...
O avesso da minha pele tem pó e cordas e gesso e cimento e remendos, tantos.
Não se vê. Não existe.
Não me vejo. Perdi-me.
Para sempre. ?.