sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Bailarina

rodopia com grande sorriso.
black out. Luz morna e suave.

Sou uma bailarina.
Sou uma bailarina das caixas de música.
Abrem a caixa, a música toca e lá estou eu.
Seja a que horas for.
Seja quem for.
Seja para quem for.
Rodopio no mesmo compasso, com o mesmo sorriso. Irrepreensível. Eternamente graciosa, bonita, perfeita, divina.
E o que é que se podia esperar mais de uma bailarina da caixa de música?...

- Tem uma? A sra. também? - pois... de quando era mais jovem!... Mas o que é que acontece quando abrir a caixa?
Exactamente!
Música... a perfeita e eterna bailarina. Luz e também um espelho.
Consigo ver os braços, o tronco, as pontas.

E vejo: os braços, o tronco, as pontas.

E nunca me vejo...Inteira.

Quando cai a noite... desculpem. Quando a caixa se fecha e o escuro, aquela noite completamente sem lua nem estrelas me toma...
Aí sinto. Aí sinto-me... não me vejo... Mas... Alguém se vê??

E tenho medo, porque é desconhecido... tenho medo do avesso da minha pele. E do meu espaço entre a pele e o resto.. onde eu. Eu. Onde eu moro.

Está escuro quando me encontro mas é aí que sou verdadeira. Só aí, só aqui, sou inteira.

Ninguém imagina o quanto me custa... ser bailarina. O quanto aquela leveza me pesa, o tanto que este - aquele - sorriso corrói.

Mas no fim das contas.
O que é que isso interessa?? Sim, dói arde, custa, mói!

Mas quem é que se importa??