quarta-feira, 31 de março de 2010

Obrigada

Por nunca me ter deixado quando eu fiz TUDO para que dissesse "chega"
Por ter sido a única pessoa a dizer com as letras todas "e acredito em ti"
Pelo Abraço
Pelas conversas intermináveis
Por saber o momento certo em que me podia tirar da espiral
Por ter ouvido e ouvido os mesmos medos, as mesmas certezas vezes sem conta,
Por me ter calado
Por me ter levantado a cabeça,
Por me ter dito tudo, sem medo de me ferir...
Por ter esperado quando eu desaparecia
Por ter-me recebido sempre
Pelos telefonemas
Por ter-me lido,
Por me fazer questionar as lágrimas e a raiva toda,
Por me dizer ... "é difícil!Pára"
Por me ter feito parar quando eu pensava que não havia volta...
Por ter-me dito sempre a verdade...
Por estar quando eu deixo de estar "aqui"...
Por me dizer tudo o que eu não vejo nem encontro... e desculpe, a desilusão, o esforço imenso...Desculpe...

terça-feira, 30 de março de 2010

Mão

Agora não és tu. Estás a ser resolvido a par do tempo... não tenho pressa, não tenho nada...
Hoje é o resto. O resto grande. O tudo, o dia e a noite e os pesadelos...
Falo de ti, do não-eu, do que queria que eu não fosse...
E chamas aos desmaios sorte, porque os sentidos todos se ausentam, pelo menos esses instantes que não sabes precisar no tempo das pessoas, esses...são sem ti...
Nem medo... foi sorte
E se um dia o estado em que voltas te trai?
E se um dia todos ficarem a saber...
às vezes, no desespero, procuras a mão que nunca soubeste pedir, ou que pediste sempre com palavras trocadas, porque te julgas indigna, tu, TU tinhas de ser capaz!
Nada mais te atrai... querias só aquele ponto, nem êxtase, nem felicidade, querias só despreocupação...
Que se lixe!
Nunca, nunca conseguiste dizê-lo...ou disseste, mas nunca, nunca o sentiste...
Vais ter de ser capaz de usar as palavras todas,
é irónico...
Fazes da tua vida o calcorrear de verbo em verbo, escreves apressadamente sem nunca seres suficientemente rápida para acompanhar as frases que te percorrem o cérebro... e quando chega o teu momento, em que te pões a jeito para te ouvirem... BRANCO, silêncio
E a pouco e pouco lá te surgem algumas palavras dispersas... há dias que as dizes, não sem antes as deixares passar pelo filtro do eufemismo...
A gravidade deita-te ao chão. "É grave"... Tornas-te incapaz de continuar...sentes medo e raiva e o coração dispara... depois, apatia... Não sentes mais nada.
Vens para a rua, desarrumas a gaveta... sentes à superfície da pele mas nada te entra...
Chamam-te calma, quando calma é o que desejas e nunca sentiste... talvez porque a gastes toda neles (os que dizem senti-la vinda de ti)...
Não és tu, é o resto, é ao resto: sai
Sai
Preciso de dizer, dizer
Antes que...





A dor

domingo, 28 de março de 2010

dói...

Sai da minha cabeça
Não és tu...
tu também...
Ontem não estavas aqui tanto, mas ficaste...
Confusão e medo, com pitada de raiva...A mistura explosiva que me faz fazer-me isto tudo...
Porquê? que é isto, que é esta ansiedade de chegar não sei onde...
E a vontade insubordinada de querer o Nada, já, agora, aqui...
Calma, só a calma...por favor...
Porque é que nada a substitui...nada, nada...
Nunca será possível assim,
E devia dizer-te já...
Mas não tenho coragem, não tenho...

a impossibilidade de amar

Ainda que nada disto faça sentido
há dúvidas...
Será possível?
Será que esta anestesia passa? E o que vem depois?
Será que trocarei o-do-costume com jantares à luz das velas e conversas infinitas com o céu como tecto?
Será que esta dúvida vai ser sempre a minha única "certeza"?
E será que alguém resiste?...
Um medo atroz do fim do eu-comigo, pânico da hipótese que hoje me obrigaste a por em cima da mesa...
Não me faças isto, não te faças isto...
E de onde vem esta vontade furiosa de te mostrar o pior de mim, aquilo que nem sequer sinto só para que te vás embora e não fiques... Quando nem sequer tenho a certeza que a a tua evasão que desejo...
Invade-me esta dor,
toma-me inteira e faz-me fazer-me mal dos pés à cabeça...
Será possível começar desta maneira?
Será possível?
Odeio, odeio, odeio... Não quero mais isto, não quero que tenha acontecido o hoje nem o ontem... quero ter recusado tudo, que batas com a cabeça na mesa de cabeceira e te esqueças... que percas o telemovel e que não saibas o meu número, que a net desapareça e todas as possibilidades de contacto deixem de existir...
Não, não quero nada disto... mas penso, quero de uma maneira qualquer, ou há um lado meu que quer.. qual? tenho tantos...Tu não queres uma pessoa assim... não queres... Vais-me odiar, chamar-me todos os nomes... E eu vou só pedir-te desculpa por ter aceite os teus convites, por ter recebido o beijo que eu já sabia que não te podia dar, porque tu, depois, te ias arrepender...
Estás tão enganado
Eu não sou nada daquilo...
Deixa-me,
Não me pegues sequer...
Eu nunca vou saber...
dar-te, dar-me.
Odeio tudo, dos pés à cabeça, o meu embrulho e tudo o que guarda...
Odeia-me, peço-te...
Eu nunca vou conseguir
Nunca...
É impossível...
Tudo o que ainda não aconteceu...
E quando souberes do que me ocupo, envergonhadamente, vou dizer-te que sei... é impossível amar alguém assim...

sábado, 20 de março de 2010

ponto de interrogação

sentir que amargamente te corróis...
o fel, que te corrói até sentires bem aquela dor... o corpo ri-se de ti, já não chora.
Chamas sono à exaustão, preguiça ao desnorte, burrice à incapacidade de te concentrares.
e não te chegas a levantar... é um escorregar ininterrupto, porque continuas viva...
semicerras os olhos a medo, a ver se o quarto é o mesmo em que te deitaste nem sabes como, depois de mais um escorregadela-forte-quase-queda.
Até quando?
Acelera-te o dentro do peito e aguentas, tremem-te as mãos e continuas a escrever, a vermelhidão mostra-te o percurso repetido... observas, tocas, vês ainda mais de perto como se fosse um bicho raro... estranho, ausente, pelo qual não te nasce qualquer tipo de sensação ou emoção...
Reves-te mais tarde, no dia seguinte... e pensas no medo que alguem teria se sentisse aquilo que te tomou...
Cai!
estupidamente, desesperadamente,
entrega-te pela primeira vez...

vergonha

Um pedido envergonhado,
tinha de ser.
Não foi em forma de pedido... foi verdadeiro.. só.
Sem contar tudo tudo, foi o suficiente para me devolver o perigo.E surpreendentemente não me deixou sozinha com ele... não desistiu como eu lhe pedi, não me disse nenhuma das frases que me vêm à cabeça gritadas, que eu imagino que me vá dizer porque está farta, porque já não acredita, porque eu já não mereço. E afinal quem está farta sou eu.. sou eu quem se repete que não merece, quem não acredita, acima de tudo sou eu...
mas confesso... custa acreditar.
Custa ver-me ceder, dói observar-me de cima,
Agora, aqui...
A falhar calmamente, dolorosamente...
Não me impeço, não contesto...
Acedo, subservientemente
Envergonho-me e dou voltas e voltas à procura da próxima palavra...
Apetece agradecer e despedir-me, para sempre...
Não, não é isso que apetece, ou é... essa é só a vontade que nasce da vergonha...
VERGONHA
Vergonha do que tem sido cada dia,
do que me ocupa intensamente cada momento do dia,
vergonha de não saber sair, de não saber parar,
Vergonha do espelho, de mim nele, de mim sem ele.
Vergonha de entrar, de contar...
Gratidão por não me desprezar como eu merecia...
e VERGONHA, VERGONHA ao quadrado, ao cubo, infinita...

Medo, acima de tudo...

quinta-feira, 18 de março de 2010

aquela miuda de quem falam

É engraçada a descrição que fazem de ti...
Sim, de ti, porque sou incapaz de me rever...
mas é engraçado, não deixa de ser...
A miúda que marca toda a gente... A miúda mais low profile do mundo mas que a ninguém fica indiferente... A miúda com quem toda a gente quer trabalhar, a mesma miúda com quem toda a gente queria ficar nos trabalhos de grupo... e é engraçado porque não era por ser a marrona que fazia os trabalhos e punha o nome de toda a gente no grupo, não era nada disso... era a miúda que tinha ideias "fora", que preferia trabalhos feitos em video em vez das - demasiado - comuns cartolinas. A que se preocupava mais em divertir toda a gente e imitar os anúncios da planta e do detergente da roupa para por nos intervalos do filme, que eram afinal o trabalho de grupo... Fazem-te elogios à calma gigantesca que faz passar à equipa mais stressada depois de duas directas para o trabalho estar pronto... A miúda que diz a piada fora quando está toda a gente com "cara de cu" e que nem se apercebe que disse uma piada... e a equipa riu-se! Chamam-te desenrascada, profissional, criativa, demasiado despachada para a pouca experiência, muito astuta para a tenra idade... A miúda a quem carinhosamente chamam miúda e com quem ameaçam em tom de gozo chamar a ASAE porque não tem idade (corpo) para trabalhar... Gozam com o desleixo com que às vezes apareces vestida...dizem que as calças (as únicas que consigo vestir quando o espelho manda mais que tu) são do irmão...e gozam quando apareces bem vestida e bem arranjada "mas ela hoje...".
Iludes-te que é tudo ilusão... porque naqueles dias de conversas francas em que não podes fugir quando o tema de repente passa para o teu capítulo... darias mais nas vistas se fugisses e por isso ficas. E falam disto tudo de uma vez, qual sumário dos últimos meses, desde o dia em que chegaste... E com carinho! Apetece-te chorar, por um lado... custam os elogios... apetece-te berrar: não! não estão a ver bem, ou se acham isso sou eu que sou uma mentirosa... e duvidas... será ironia, será que é de outra pessoa com o teu nome?... mas não havia mais ninguém!
Não queres nada daquilo, mas ao mesmo tempo esforçaste-te como te esforças sempre, para que gostassem de ti...
E gostaram.... e tu gostaste que gostassem... mas não aguentas.. custam aceitar...os elogios... e custa que te custem.
E ouves, quando te vais embora, "vamos ter saudades"... e pensas "é o que dizem a todos"...
Mas ligaram, ligam... querem-te ver
A custo vais, a custo ouves de uns e de outros, sobretudo ouves, ouviste das pessoas mais importantes... "és uma miuda que marca"
Obrigada
achas só demasiado ridícula esta ambiguidade de queres ocupar o mínimo espaço possível e do resultado...
Sabes que mais? és uma sortuda!
pois sou
quem me dera saborear, que essa "verdade" fosse Verdade...
Tenho medo de nunca sentir o sabor...
à parte disso... falho e falho outra vez... a esperança mirra, a dor aumenta... e não queres saber de mais nada... nem te importa essa miúda... só querias que ela fosse um bocadinho verdade... a redoma está mais grossa que nunca.
não sei sair, nem sei pedir ajuda...
quem me dá a mão?

um segredo: dói

quarta-feira, 17 de março de 2010

Não consegui

O despertador toca, tiras os 3 cobertores e colcha de cima, tomas bahho, lavas os dentes, secas o cabelo, penteias-te, veste-te apropriadamente para receberes o dia, sais de casa, ligas o carro, enfias-te no transito, entregas o teu melhos "bom dia", ligas o portátil, conversas sobre trabalho e o trabalho ocupa-te. Não o suficiente, mas ocupa-te. Desejas que o dia passe, desejas que o dia espere para fazeres o trabalho do dia, desejas que o dia passe para que seja só o trabalho a ocupar o dia.
Sais e... pesadelo outra vez.
Não te impede de nada, de absolutamente nada... que bom? Não.
O pesadelo até ao final do dia, da noite. O sono que chega bem depois porque és incapaz, incapaz de desligar, incapaz.
Medo outra vez. Amanhã outra vez. E medo.
Eu não quero, eu não quero

domingo, 14 de março de 2010

começar

Não sei começar.
Não me interessa recomeçar.
Quero começar.
Por mais que te pareça, não voltas ao ponto inicial quando estragas tudo e parece que atiraste todas as vitórias ao ar. Começas apenas... se fores capaz.
Porque voltar atrás era não teres passado por tudo o que conseguiste superar até chegar aqui... era não teres conseguido o suficiente para poderes dizer "perdi tudo".
Aprendeste com tudo, és diferente hoje por isso tudo. És mais... pior, melhor... mais.
Era ontem o começo e não foi...
Hoje também não.
Tenho um medo desta roda...
Preciso. Está aí?
como é que eu lhe chego? como é que eu peço? como é que se diz?
medo medo medo medo medo medo medo medo medo medo
tenho medo que o começo nunca chegue. Porque o passo é meu... e não sei, não sei...

(a)pagar

Limpei tudo.
depois de tudo, das lágrimas incluidas,
O mesmo ritual de regresso, sem me lembrar como foi que começou, o que tirou o travão depois do pensamento de que não mais voltaria
Um pensamento demasiado leva ou uma obsessão demasiado aguda para uma fraca como eu a controlar
Irritam-me os passos todos, conhecidos tão bem como... não, nem como a palma da minha mão a que sempre chamo o oposto do que os outros vêem.
Acreditam nos meus olhos estragados
Mas o que está podre é o resto
Tudo, mais que tudo
Quem dera ser... Ser, só Ser, estar...Estar
Deito-me com o peso do que tirei de mim como se ainda cá estivesse tudo, porque o peso da incerteza é gigante
Aquela sensação que me desligou do mundo e de mim por instantes chegou outra vez aqui... e se desconfiei na altura do contexto e até lhe atribuí causa e razão... hoje percebo o porquê: é a máquina a queixar-se sem palavras dos anos todos.
Conto?não conto? a quem? como?
Existe algum medo, alguma vontade e muita, muita vergonha...
Eu sempre disse que não havia de ser por isto. Podia ser por outra coisa qualquer, mas isto não...
Apetece-me confessar-me a dificuldade desta fase.
Gostava de ter alguém aí... alguém aqui...
Foi demasiado dorido aquele percurso escuro e gelado, com mochos a gozarem comigo naqueles ruidos que fazem medo a uma miuda pequena (porque o era apesar de me chamarem "demasiado adulta e crescida para 12 anos). Ainda hoje me dói a falta de ter uma mão e um colo daqueles com quem não tens de falar porque entendiam tudo... lembro-me de pensar "sou eu que estou na adolescência e os adolescentes acham que ninguém os entende e por isso acho que não percebem...mas no fundo sabem de tudo e só não dizem, só não mostram nem acompanham nem perguntam, nem vão à procura, nem obrigam, nem me chamam a razão, nem... porque me amam e acham que esta é a melhor forma" Foi duro ouvir uns anos depois que não faziam ideia e de replicarem: "mas é grave?assim tão grave? mesmo?...mas ela explicava (mentia...) e sorria (o quanto custava) e era ela a acalmar-nos (um trabalho exaustivo de 24h que tanto me desgastava e - desgasta...
Incontrolável é o que continuo a fazer, a fazer-me, e incontrolável é também a procura do preenchimento lá detrás... percebi ontem o que me disse... da frustração, do cansaço, da procura noutros lugares do que nunca vou encontrar... porque era lá detrás e era neles, com eles. Porquê? porquê?
É TANTA! não cabe aqui... e acabo comigo como se estivesse a dar cabo dela e ela não sai, é peganhenta, goza comigo e reinventa-se mais um bocadinho alimentando-se do que me tiro a mim.....
A dor

sexta-feira, 12 de março de 2010

Uma miúda

A miuda está apavorada, a tremer de medo.
Amanhã vai sair e ver pessoas.
Amanhã vai ser um bocadinho pessoa e ausentar-se dos comportamentos de não pessoa... dos pensamentos queria mas não consegue, mas dos comportamentos sim... vai fugir.
Amanhã vai dizer palavras para fora, daquelas palavras que só tem dito para dentro.
Amanhã vai (querer) ser capaz de dizer tudo o que se tem passado, ou quase tudo.
Amanhã vai ter muita vergonha de dizer o que tem feito
Amanha vai contar o que aconteceu e o que desejou que tivesse acontecido
Amanhã vai-se sentar numa poltrona muito confortável e contar (pela milionésima vez) os pelinhos da alcatifa enquanto se prepara para deixar cair a máscara e Ser, só...
A miuda amanhã ai ser crescida e dizer que tem medo.
Amanhã vai ser capaz de dizer que há dias sem fim que não é capaz.
Amanhã vai pedir ajuda com as palavras todas.
Amanhã vai ser capaz de substituir os "não sei".
Amanhã vai dizer que precisa de ser capaz de falar porque o silêncio não lhe chega para dizer o que quer (e precisa).
Amanhã vai ser capaz de aguentar a vergonha de se revelar um pequeno monstro...
Amanhã vai ser capaz de dizer o que não tem sido capaz e de dizer o que se tem tornado capaz de fazer e que tanto a assusta.
Amanhã vai contar o desejo que a persegue, os sonhos e os pesadelos.
Amanhã.
Quer que o amanhã chegue. Precisa que seja já amanhã. Precisa de não fugir do amanhã. A miuda.
A miúda está com as mãos a tremer porque é uma asneira nos pés aos cabelos, porque caiu hoje outra vez e magoou-se... E a última vez que tinha caído havia sido... no dia anterior,e no outro antes, e no anterior a esse.
A miúda tem a clarividência total do perigo e mesmo assim vive num estado de procrastinação...ainda não, ainda não, ainda não...
A miúda precisa de adormecer e de acordar amanhã

quinta-feira, 11 de março de 2010

A dor que nunca te saberei contar porque não se pode dizer

quando era pequenina, talvez no 1,20m, coleccionava autocolantes. Pensava em colá-los nos cadernos para ficarem mais giros, nos livros da escola para lhes dar o meu toque, na secretária para ficar mais "fashion"... coleccionei-os sim, mas nunca os colei em lado nenhum porque não os queria gastar, não me queria precipitar na escolha do lugar para os pôr, achava sempre que teria uma ideia melhor, um lugar mais especial para os colocar... e esse lugar nunca chegou, passou só o tempo de os usar e hoje já não têm a importância que tinham, os cadernos, a secretária e os livros nunca ficaram tão giros quanto poderiam... No entanto ainda os tenho, os autocolantes! - porque a secretária, os livros e os cadernos já não existem. Depois pensei que um dia os daria aos meus filhos - lembro-me que queria seis, não fazia a coisa por menos...nessa altura já devia ter 1,43m, pela altura em que fiz o meu 1º bilhete de identidade!
Talvez eles já nao lhe dêem valor, talvez eu nem sequer tenha filhos, talvez não consiga ter filhos, talvez não haja sequer pai para eu me perder no desespero de não saber se lhe poderei dar um filho.
Talvez.
Talvez devesse ter arriscado e usado os autocolantes "naquele" momento...talvez. A verdade é que passou também a altura de coleccionar autocolantes e outras coisas palpáveis...
E ao fim de algum tempo apercebi-me que havia colecções bem mais interessantes, com prazos de validade, intransmissíveis embora "partilháveis".
Lembro-me de querer e de concretizar e lembro-me da confusão que me fazia ouvir "quem me dera ter jeito" "quem me dera ter tido oportunidade, quem me dera ter aprendido..." bla bla bla...
Lembro-me do dia em toquei viola pela primeira vez
lembro-me de ir emoldurar a minha primeira pintura a óleo
lembro-me de fazer a capa para o 1º livro que escrevi
lembro-me da 1ª medalha que ganhei no atletismo
lembro-me de sonhar e de acontecer
lembro-me de como coleccionar sonhos era divertido. Não tinha nada de espectacular, nada de magnífico. Era natural, uma espécie de jogo, de ocupação, de desafio.
Era engraçada a sensação de poder chegar onde quisesse e fazia-me comichão a forma como toda a gente se acomodava à vida que não gostavam e deixavam os sonhos lá no sítio deles (que nunca soube onde era, porque os meus vivem na palma da minha mão.
Lembro-me de tudo ser acompanhado de um desejo ardente de me distrair. Enquanto seguia os sonhos, o outro lado adormecia e eu vivia um bocadinho... O que ninguém podia ver continuava a não existir, e eu era só o outro lado... este era mentira porque era só a minha verdade.
Tinha vergonha do que não era e saudades do que nunca fora.
Os pesadelos começaram a ser verdade antes de eu os desejar e talvez por isso tenha deixado te ter sonhos e de os perseguir.
Cheguei a chamar sonho ao que se tornou o maior pesadelo.
Quando lhe chamei pesadelo apercebi-me das camadas amendrontadas de mim que estavam por trás dele.
Tudo o que escondera escancarara-se perante a minha ilusão de que o que o os outros não viam, não existia... esqueci-me do resto... não existe para eles, os outros... mas para mim, sim.
Hoje quero querer sonhar e quero não querer o que me grita na cabeça, no coração e na mão dos sonhos.
Toda a destreza da cabeça se esvai no necessário.
Tentei e reinventei formas de me dar outra e outra hipótese de me julgar digna de poder tentar outra vez, hoje sabe-me a despedida sem medo cada abraço e cada sorriso...
Não tenho medo do que já fora um pesadelo
Talvez esse seja hoje o meu maior sonho.
Talvez seja em forma de estrela o meu agradecimento a Deus,
E o meu sonho é que o perdão me chegue em forma de abraço...
Não sei ser mais

terça-feira, 9 de março de 2010

Tira-me

Não quero mais.
Não aguento mais.
Não tolero mais.
Não consigo mais.
Não sei mais.
Não suporto mais.
Esgotam-se os recursos e as cartas na manga.
Nem reencantar, nem resgatar. nada.
Juro que não pedi, nem procurei, nunca, nunca desejei.
Soubera eu a fórmula de aqui chegar...
talvez na causa encontrasse a forma de sair, de me pirar daqui para fora.
Ao invés,
retenho-me,
detém-me
fica comigo inteira
Não quero mais nada
mais nada
tira-me tudo, absolutamente tudo,
deixa-me sem nada se for preciso...
mas tira-me a única coisa que eu jamais saberei subtrair-me...
O único motivo que hoje me faz querer não querer.

quarta-feira, 3 de março de 2010

certeza ocupada

"não posso, não vou conseguir falar sobre isto, precisava só de dizer..." foi desta maneira, de palavras mudas.
Despedi-me... até ao regresso.
Embarcarei em silêncio, descolarei com "aquele-sorriso", "feliz".
Na verdade com esperança que é desta que me descolarei do vício irreparável.
sentir nas asas as nuvens a saber a algodão doce, docemente acordar longe. Não na cama de sempre, nem descer as escadas as escadas de sempre rumo ao degredo de sempre.
na cabeça desenham-se a meio as formas de evitar, o coração desejar com o fôlego todo que não seja capaz de obedecer...
Dói-me até ao infinito esta rotina.
Talvez tenha razão quando me diz que o desejo é aniquilar as partes, essas... e talvez esteja sempre a fugir do errado, talvez...
Recordo-me do dia em que vi pintada em mim a raiva...o sabor de sentir, a delicia de me acontecer do início ao final...
prazer nenhum, desejo intenso.
Preciso de parar e reparar-me.
Não sei como voltarei e isso agrada-me,
gosto da expectativa e gosto até do medo de que tudo permaneça igual...
por enquanto é só medo e neste estado tudo é melhor que a certeza,
será? não será?
preocupo-me. Preciso dessa ocupação.

terça-feira, 2 de março de 2010

não sei pedir com as palavras todas

Tive um amanhã igual ao pesadelo
Aquele que acordada me dava o riso irónico, histérico por dentro, a saber a fel...
Odiei tudo, e a zanga toda em forma de nada foi só o necessário para a sensação de duas horas de um dejá vu.
Odiei o que disse, o que impedi de acontecer e dei-me inteira, mais uma vez á única sensação inteira, à única emoção que detém tudo...menos o medo.
Evitei a vida, rendi-me por antecipação...calei o desejo rendi-me à vontade, não à minha, mas que vem de mim, que existe no âmago de onde eu me retiro para observar o estado degradante a que te expões...a ninguém, a mim...só.
Chega o dia em que a cama te toma até não te aguentar mais e te despejar dela...só que ela não chora como tu, quando te despejas inteira...mais uma, e outra...vá só mais uma...ninguém vê.
eu vi..tu? ninguém... ok, continua...mais uma.
Adormeces desterrada, despersonalizada. Vi-me adormecer.
Revoltas-te por dentro, ó por dentro porque o corpo pesa demais para qualquer manifestação.
Fugir...
A vida acontece-te no dia a seguir. finges que refazes. tu? ah, ninguém...pode ser.
Outro lugar, as pessoas de sempre, a máscara xpto que já não serve. inventa-se outra pelo caminho. vai haver tempo... ali não acontece.
E é desta forma absurda que te julgas impotente e incapaz. Mentes-te descaradamente e reoltas-te nas lágrimas que já não existem. porque n ã o é s c a p a z.
Ri-se a outra, paralisas tu.
Pagas para poder ser verdadeira, é um preço que vale a pena, não vá a loucura tomar-te inteira e nada mais servir...
chamam-lhe vida.
Adoras toda a capacidade de expelir verbos pela boca. dos "outros", dos teus, em relação a ti...a ti? ah...ninguém... serve...encaixam todos porque não há medida. o início e o final anularam--se ha muito, jamais saberás o termo de ti.
Desejas infinitamente, que uma milésima de da verborreia te assentasse...
Felizmente a imaginação não voou e se mentes, que mintam de ti... fecho os olhos, é quente essa ideia.
bom trabalho miúda.
está feito?
posso parar agora?
leva-me agora para lá?
já?
o sonho das estrelas cadentes é só esse...
desculpe, não tenho coragem de lhe pedir com as palavras todas.