domingo, 15 de dezembro de 2013

15 anos depois

A verdade é esta: estou a viver o que há uns meses tomei como impossível.
Depois de retrocessos seguidos de desistências,
o desamor e a desesperança tomaram conta da vida que deixei numa caixa de sapatos.
A caixa chamava-se vida e tinha dentro muitas fotografias, desenhos, milhares de bilhetes que escrevia para mim e palavras que nunca chegavam ao destino. Muitos planos, convites de festas de aniversário, folhas com as notas maravilhosas da escola, medalhas de atletismo e do quadro de honra. Aquela era a vida que um dia havia sido minha e que eu não queria destruir mais. É duro pôr fim à vida mas para mim era muito mais duro sentir na pele a minha imensa ingratidão. O nada em que transformei o tudo que me foi dado.
Essa caixa ainda existe. Mas a vida tenho-a eu.
15 anos depois.
Eu e o sol erguemo-nos de manhã.
Eu e as árvores damos frutos.
Eu e a lua criamos noites bonitas.
Eu e o fogo transformamos água em chás deliciosos.
Eu e o mar vamos, mas voltamos sempre.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

respirar bem fundo

Quando andamos de olhos postos no chão, sem a mínima força para erguermos a cabeça, atraímos o fundo. De repente iniciamos a viagem numa espiral negativa, de sufoco, de soluços, de constante escorregar. A cabeça lateja, os músculos consomem-se uns aos outros. os ouvidos fecham-se sobre si mesmos e só ouvem o eco do silêncio. De repente a noite vira o nosso dia e as nuvens fazem a distância entre nós e o céu, infinitamente mais pequena. O valor que damos ao não é absurdamente enorme e os ecos multiplicam-se e as dores perpetuam-se e o fim à viagem negra não se avista.
No dia em que ganhamos a coragem suficiente para dar um murro na mesa, mas um murro que se oiça, cheio de si, aí, só aí, nasce o embrião da hipótese do sol voltar a nascer.
E quando o primeiro raio espreita é como se nascêssemos de novo. Se quisermos.
O eco continua a existir mas na frequência oposta.
A sintonia encontra-se e a multiplicação sucede-se.
E eu estou, orgulhosamente nesse processo, a dar graças pela enorme graça que me foi concedida de (re)começar.
Hoje foi dia de reunião e de nova proposta de emprego. Sabe tão bem quando gostam de nós e, para quem bem me entende, quando gostam de nós sem aqueles sufixos ligados ao passado que me viram acontecer.
Tenho a certeza que é o meu sorriso a despertar-me na cabeça de quem se lembra de mim e em quem confia porque - agora sim - pode confiar. Estou em pé de igualdade com todas as outras pessoas que podem falhar pelas contingências naturais. E sabe tão bem não duvidar que só e só o meu trabalho e a minha criatividade são reis quando chega a altura de escolher as cabeças para os novos projectos das grandes empresas em que trabalho e trabalhei durante este processo tão duro e tão complicado dos últimos anos.
O valor que dou ao suspiro desmedido é imenso...
que bom que é...
obrigada, obrigada

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Batido

Há uma luz nova. Um brilho com cheiro a liberdade e uma vontade que vem do alto do céu.
Há lágrimas que se choram sem cheiro a bafio, e há longe sem saudade.
Hoje há pés que pisam o chão inteiramente. Sem medo de se fazerem ouvir. Sem medo de incomodar. Sem pedir desculpa por existirem.
Hoje há um compasso na voz que faz parte do resto.

Existo.

É isto.

Só.

Tanto.

Há almoços e jantares com sabor a música clássica.
O ontem, o hoje, e tenho a certeza que o amanhã fazem parte do mesmo livro.
Já não sou uma manta de retalhos nem uma boneca de trapos. Só um corpo, só um sentir com a melodia que for preciso tocar. Os graves e os agudos. A confusão e mesmo o silêncio. Já não há manhãs imersas no pânico de não pertencer sequer àquela cama.
Chegou a Hora.

As provações, os desafios, o arriscar constante, os medos vencidos dia a dia, hora a hora. A mesma cabeça coberta de frases feitas e tão bem conhecidas... hoje já não mandam nem me comandam os passos, os caminhos, a correria, as quedas.

Sou mais. mais forte. Conheço-me como pouca gente se conhece. As manhas e armadilhas, a resolução sempre igual...

A verdade é que pouco mudou e eu estou tão diferente.

Não, não podes mudar o que sentes, mas sim o que fazes com isso. Chegou-me a procastinação que me roubou 15 anos.

Bebi um batido de vida. Saí de casa dos pais, trabalho para me sustentar a todos os níveis. Tenho uma cabeça cheia de gavetas novas e pretendo manter tudo arrumado. Sabe-me bem chegar à uma da manhã a casa e ainda me encher de ideias para deixar tudo mais bonito... e tudo para mim.
Para mim.

domingo, 25 de agosto de 2013

rocha

Depois o nó prendeu e o canal secou.
Assim, sem que um antes tivesse forçado nada, absolutamente nada.
E as gaivotas voaram a escrever liberdade no rasto que deixaram.
Estremeci da ponta dos pés à ponta da alma, e proibi o que já estava a acontecer. Não fui, só tive.

E não passou, talvez por não ser meu... e eu nunca expulsei ninguém de minha casa. Sempre preferi ser eu a dizer adeus... mesmo naquelas alturas em que a paixão tornava absurdo o simples fechar de olhos no acto de pestanejar.

Há dias em que não sei tirar-te do caminho. Há dias que parecem anos por me fazeres sentir na pele a agulha ao passar cada segundo. Há horas que corroem os ossos e os fazem mirrar. Há uma pequenez tão grande quando a dor se agiganta e berra... não há sequer eco porque desapareço no meio e não há onde o som embater para voltar para trás.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

o ninho

Recolher a âncora e seguir caminho. Não interessa muito bem onde porque a rota certa tem a mania de não se cumprir. e eu nunca me dei bem com o GPS.
Há dias em que as pessoas novas se multiplicam e esse sabor enrola-se na língua enquanto nos apresentamos... tenho a sensação de me apresentar a mim mesma quando falo com alguém pela primeira vez. e é bom. sabe a melancia fresca. o desencanto dá lugar à possibilidade sonhada há tanto tempo de começar, finalmente, a viver.

Dei por mim a limpar a ferrugem. a tratar de cada pormenor e a por-me logo ao caminho para não dar tempo à inércia de chegar cá a casa e tocar-me à campainha. Os momentos de nó-no-peito têm a mania de me fazer abraçar a almofada mais cedo e  eu fecho-os na arrecadação que não existe neste meu (sim, meu!) ninho. Ainda não aprendi a calma de esperar pelo autocarro e o passo acelerado trai-me quando quero um bom lugar no maior desafio de sempre. Já não há lugar para as desculpas de sempre para os saberes mais antigos, mas também já não há pressa de fora para resolver os medos de dentro. Os medos vão permanecer e mesmo assim é preciso arriscar corridas de resistência. Agora não há volta atrás. A minha casa. As minhas contas. O meu trabalho. A minha saúde. A minha vida. Não empresto responsabilidade a ninguém nem deixo que acabem as frases que decorei na minha alma. Há muito que fazer e muito pouco que dizer. As palavras, sim, as palavras, tantas vezes me atrasaram as acções. 

Dei por mim a boicotar o meu caminho.

Espreitei-me de fora e cuspi para o lado. Deixei-me-te morrer ali, de pés a tremer e corpo cor de arco íris desmaiado. Não te deixei sequer deitar para acordares horas depois a perguntares o que tinhas feito, o que tinha acontecido. Chega de borrachas ao meio dia. engole antes o teu medo, vira-o do avesso e põe-no ao lume.

Aprendi a apaixonar-me pela pedagoga que conheci aqui dentro.

Hoje foi dia de rebobinar a cassete a meio do filme.

A luz entrou pela janela.

Vais escrever 20 vezes cada palavra errada. decora-as para nunca mais repetires.

Varrer. lavar o chão.

ao lume.

bom dia. veste-te. é dia de trabalho.

domingo, 21 de abril de 2013

Ressaca

Não resolver a dor da mesma maneira, nem o desalento com sai e e entra que ocupava aquele tédio que podia ter sido preenchido, mas não foi.
o tempo que levava cada ritual, as leituras repetidas de todos os sinais, a imaginaçao cheia de rodas e pirâmides. E depois os números, sempre os números.
Ninguém disse que se ressacava desta maneira... Há dias que quase apetece fazer a vontade e dar-lhe o corpo sem perguntas nem pedidos. Como se a seguir voltasse tudo direito ao caminho...mas já sei que não. Nessa não me apanhas outra vez.
Dói a cabeça, o peito cola-se às costas...tudo rijo e tenso para não ceder...
Será verdade que para isto não existe ajuda?
Onde é que ficaram as promessas do início? ...que a cabeça ia mudar...o humor ia melhorar, seria mais capaz e competente!
Não vejo mais nada a não ser o tempo a passar, farta desta luta injusta, que me manda ao chão e nem sequer me deixa esconder...vêem e agarram como nunca agarraram nem viram.
Esconde-se a cara como se se escondessem os sentimentos e a agitação
Mas eu não quero voltar, não quero...

sexta-feira, 22 de março de 2013

querida té

Minha querida Té,

Hoje falei-te baixinho, 5, 5 e meia da manhã... Pedi que sossegasses, que voltasses a dormir e embrenhares-te no sonho que desta vez não era mau nem metia medo. Um cigarro, uma pastilha, um pouco de um filme, de um livro... Nada, estavas irremediavelmente acordada e a vida começara mais um dia de sol com o frio que rasga. Gostava que seguisses o teu plano diário, que dividisses o tempo entre dormir, os descansos  necessários, avançar com o trabalho, com as promessas de pintar novos quadros e escrever novas histórias. Sabes, Às vezes gostava que tivesses um botão. Um não, alguns. para desligar tudo, para o piloto automático, para sentir, para pedir...aquilo.
É meio dia, tenho de ir fazer o almoço para a família.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Só há um problema filosófico verdadeiramente sério: o suicídio. Julgar se a vida merece ou não ser vivida,  é uma questão fundamental da filosofia. o resto, se o mundo tem três dimensões (...) são apemas jogos; primeiro é necessário responder. E se é verdade, tal como Nietzshe o quer, que um filósofo, para ser estimável, deve dar o exemplo, avalia-se a importância desta resposta, visto que esta vai anteceder o gesto definitivo...

Camus

sábado, 9 de março de 2013

A tentação é humana, a tentação. A tentação é uma vontade sem dono mas cheia de ganas de se tornar passado...ser feita num ápice onde o presente já passou.Dizem que as pessoas fortes não cedem às tentações e que as fracas não aguentam sequer. Aguentar até o desejo acalmar, até a fogueira e as labaredas serem só brasas e depois cinzas. fechar os olhos, tentar adormecer - em vão - adrenalina atinge os máximos...e chegou o momento da escolha (mesmo que não dês por isso) E escolhes, não me venham com tretas. ceder ou não ceder é, mais uma vez, uma questão de escolha

sábado, 2 de março de 2013

Não sei por que este blog me continua a fazer tanto sentido... eu lembro-me muitas vezes de passar aqui, dizer daquelas coisas que a nossa voz diz sem som e só ecoa saído dos poros e de todos os buraquinhos do corpo...
Rebenta quando o saco do "aguentar" já não aguenta mais nada, mas cada recaída em queda livre me mete mais medo...um medo igual ao dos avós quando dizem que preferem morrer a ficar cá sem qualquer capacidade física e mental. Eu tenho 26 anos, mas tenho a certeza que essa sensação não é muito diferente da que tenho.
Porque às vezes me sinto virada e atravessada por tanta coisa, coisas que me enche e eu aguento e aguento porque há uma esperança qualquer de não ir ao fundo...pelo menos tanto...
Desta vez não houve o corpo a gritar... não houve sinais de transmitidos de gente em gente. Foi a força toda para dar tudo nos meus dias e desgraçar-me nas noites... e nada me importava, só queria assegurar que tudo iria correr pelo melhor... até que começaram a resvalar lágrimas e sangue e tudo. Até que os meus dias verdadeiros eram as minhas horas de consulta, até que os meus dias passaram só a ser  noites.
Como eu achava que depois dela não haveria quem me mandasse ao chão,
porque eu lhe respondia com um prato de massa, um haggen daz...as maiores armas não chegaram.
E mês e meio depois, de volta a casa, apercebi-me que ela nao estava tão longe, aprendi que tenho de dançar sem beber de tudo e encher-me antes que o vazio tome o seu lugar de obeso mórbido.
cheguei
e já não me importo assim tanto. talvez ainda haja qualquer coisa que faça sentido, e talvez eu só precise parar de procurar...