segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

simplesmente

É difícil,
está a ser difícil,
não há mais mãos, não há mais gritos vindos cá de dentro...
Sei o caminho mas os pés prendem-se, tropeço em mim,
vou e volto para "a festa".
Não como imaginei, não como lutei... Será justo? poderei eu falar de justiça?
e vou dizer, dizer, não me calo porque esse silêncio ensurdecedor já não me dá nada... preciso de dizer e às vezes é difícil esperar pelo dia e pela hora marcada...
Sim, fiz progressos, mas não era só isto que eu queria...queria nascer também...
Passou o tempo de ser aquecida, cuidada ao pormenor... agora sou eu.. não se trata de uma luta de números - nunca se tratou por mais crente que estivesse - sais ou ficas? vens ou ficas? caminhas ou sentas-te no chão molhado das tuas lágrimas?
Ainda não estava pronta, ainda não estou...ainda tenho dúvidas, ainda tenho muito medo... e de onde é que isto tudo vem? porque é que a cabeça não pára? porque é que dói tudo tanto ainda?
Não estou onde estava, mas este caminho ainda não tem sol suficiente para eu ver os buracos todos...e quando me afundo, quase quase me afogo...

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Natal

Há muitos anos que o Natal se tornou ambíguo....Não falo do consumismo decadente, nos olhos das pessoas transformados em euros porque têm de dar àquele, à outra e ainda uma lembrancinha a não sei quem "para não ficar mal visto"...
Dessa parte já passei do amor ao ódio, um processo que só a idade(?) permite... eu adorava receber presentes, para mim era o máximo quando ficava desde as 7 da manhã a ver tv e a escrever num papelinho quais - dos anúncios - é que eu ia pedir. A escolha era difícil, e eu nem ligava ao esforço que os pais faziam para nunca me "desiludirem"... à meia-noite, rasgava os embrulhos, e só queria ficar a brincar... pedia sempre em silêncio para não ter sono, só esta noite...mas o pedido talvez fosse pedido fora de horas e acabava sempre por adormecer...mas não falhava: cedinho, bem cedinho lá estava eu e os brinquedos... depois vinha a mãe ensonada a trazer-me nestum bem ralo (a mana é que gostava de o comer super empapado). Eu deixava aquilo ali a arrefecer, e a mãe voltava para a cama depois da sua tarefa cumprida de alimenta a sua cria - eu.
Desde que fui atacada por esta monstrinha-amiga-da-onça-carinhosamente-e-totalmente-dominadora... o Natal mudou...Foi na transição de receber presentes diferentes, em que pouco ou nada pedia...porque o meu presente preferido não constava na lista do pai Natal nem do menino Jesus... o cheiro da casa, da cozinha no Natal, passou de reconfortante a vigilante....o conforto deixou de o ser... o medo era mais que muito. Lembro-me de se zangarem comigo pela falta de entusiasmo quando abria os presentes - e nunca pude dizer que não era pelos presentes....é que a mesa era grande, e por mais que eu metesse doces nas bocas das outras pessoas, a mesa parecia sempre cheia... e eu cheia de contradições e medos e a sentir-me profundamente sozinha... e nunca contei o segredo...que bom era ter a família junta - sempre fui de juntar gente em minha casa nestas Festas, porque acima de tudo, para mim são festas de família... Mas de sonho, às vezes realizado pela minha persistência, passou a pesadelo... eu estava ali, mas não estava... inventava maneiras de me "enturmar" numa equipa que já era minha, mas que a "outra" me roubava o lugar.... tentava tocar viola, brincar com os mais pequenos...mas muitas - tantas vezes - ela ganhava...e o final da Noite de Natal era igual a outro final qualquer - talvez só com mais lágrimas, mais raiva e muito mais sozinha.
Este Natal celebro também o meu nascimento... Não é uma Páscoa para mim, não ressuscitei... nasci de outra maneira e atrevo-me a dizer que me apetece que chegue o Natal, a família... a mesa vai lá estar na mesma...mas não será a maneira de lidar com ela que vai ditar o que vou sentir... Abraços, quero abraços! virar os meus sobrinhos de pernas para o ar, dar-me a oportunidade de gargalhar com eles, de lhes montar os brinquedos novos, e de rezar, agradecer a Graça que me foi dada...Esta sou eu, a .

sábado, 18 de dezembro de 2010

diferenças

Agora há dias assim...
Em que só apetece fazer. Sair, empreender nem que seja em ideias, mexer, escolher, passar o tempo com coisas boas sem chegar ao fim do dia com aquele sabor de "passou mais um dia. ponto."
Quero mais passar pelos dias, não os quero a passar por mim.
Quero gritar por alguém se for preciso e eu não quiser estar sozinha.
Ter direito a isso, a mais e mais...
O ardor passou,
O corpo hoje não me faz lembrar nada porque o frio é tanto que não sou a única a senti-lo... há essa comunhão, ainda bem...
Ao mesmo tempo o mundo ainda está lá fora e eu mal saio da redoma para continuar o percurso lá fora.... Aí há regras. "Ainda não".
está bem, mas 'ainda não' até quando?
Pareço uma miúda a fazer birra: "mas eu quero..."
Mais uma vez a Graça de Deus vem dar-me ajuda...cumpro as regras todas e tenho mais um alento para me deixar estar a recuperar... estou a fazer coisas que gosto...tudo com calma, a calma que me pede...

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

dores do corpo

Tudo se paga,
e dou por mim a obrigar-me a viver e a ignorar a dor do corpo,
Eu sei, eu sei que fui eu...
Investigo, encontro os pontos comuns ao que se passa aqui dentro, a este ardor...
Porquê agora? Agora que me vejo e sei melhor, agora que renuncio de cabeça erguida, em que ganho bastantes mais vezes que aquelas em que perco...
São dos anos todos em que fui fraca, em que me curvei...
Virá ou estará já em mim o resultado, aquilo que ninguém via de fora - elogiavam-me o cabelo farto e luminoso, as unhas fortes - e depois aquele ardor, hoje maior, insuportável...
Tenho de saber o que é isto...seja o que for é justo e encararei da mesma maneira...
Agora que começo a ver o sol, a dar-me ao prazer de aproveitar o calor do sol de Inverno com um casaco e um livro, esta dor parece querer fazer-me lembrar para sempre do mal que me fiz.
A raiva ainda me diz que mereço, a esperança faz-me pensar que há solução...
A razão faz-me sentir medo

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

disfonia

Amanhã será mais um dia de Verdade.
É estranho olhar para a minha agenda e compará-la com alguns meses atrás.
Nem escrevo consulta, passo logo ao assunto... e o resto, o que antes estava em primeiro é agora secundário. Pouco a pouco há algumas coisas a voltar...num tempo que me parece sempre lento... a imagem que melhor ilustra esta sensação é estar a conduzir e carregar a fundo no acelerador e no travão ao mesmo tempo.
Não fossem os números terem ainda grande impacto na pele, e a ansiedade seria apenas vontade de contar, confiar...
Mas confesso, os números assustam ainda, a balança é uma espécie de medidor de bem-estar, ridículo, ao mais alto nível!
Será que este medo vai desaparecer ou ao menos amainar? Serei eu capaz de o enfrentar, de continuar, de persistir até chegar "LÁ" sem olhar (muitas) vezes para trás?
Eu quero, quero muito mesmo... quero muito ser eu a minha prova que não faz mal, não vai doer mais do que dói hoje...
Racionalmente é fácil: "o que é que tens a perder?" é o que eu me repito... é que entregar-me verdadeiramente é baixar as barreiras todas... e eu sei, vejo-as aqui, no espelho, dentro do carro enquanto as pernas se juntam debaixo do volante.
A minha ausência, as "férias" que passei na luz, foram bem mais que parar. Fui para lá com um sinal de STOP integrado... era esse o objectivo. Hoje vejo a qualidade de vida que ganhei... mesmo sem estar a trabalhar, sem receber um tostão (mal-ditos recibos verdes), e cheia de proibições... É importante cumprir, estas regras são a minha liberdade, e há muito pouca gente que pode perceber isto... Graças a Deus, porque é sinal que não viveram com esta coisa impregnada na pele, no avesso dela, no sangue...
Tudo o que aconteceu de bom desde o meu "sim", devolveu-me imensas coisas que julgava perdidas para sempre, e afinal foi só esticar o braço...
A verdade é que amanhã gostava de contar como tem sido difícil, tudo o que dói e dói muito ainda... mas às vezes sinto-me tão... ridícula... Como se não tivesse direito, como se a resposta a "como é que está?" não pudesse ter outra alternativa a "bem!".... Porque a verdade é que, sim, consegui tanta coisa... mas ainda não passou, tenho medo, preciso de uma mão de vez em quando... mas será que tenho esse direito? Não devia agora ser só a minha parte? Estou a dar o meu melhor, estou a dar-me à vida... ou uma espécie de resgate...
Hoje está tudo acelerado aqui dentro,
e eu quero e não quero o amanhã

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

passos

Hoje vou ter uma reunião de trabalho, daquelas, à séria (na minha profissão).
Fui eu a escolher o sítio, a organizar as horas.
Antes, o trabalho era o meu pilar de salvação. Se não o tivesse cairia (pensava) na entrega ainda mais total a "ela".
Sempre trabalhei com afinco, a bem da verdade, o mesmo em que ponho a tudo o que vim a fazer ao longo destes anos de puro sofrimento a que eu dava voltas e voltas, só para doer um bocadinho menos... Na altura não dava valor, valor algum a qualquer coisa em que me metera... Os exames nacionais com maçãs, a faculdade com sopa, o trabalho com frutas, jejum, caminhadas imensas, intensas... dores no corpo, almofadas debaixo da cadeira, feridas quando não havia almofadas... e vozes, vozes longínquas... "ela vai morrer" "como é que ela consegue" "dava-lhe 16 anos"... tudo em eco, tudo numa forma em que nem sabia nem interessava se era ou não para mim. Hoje contam-me de como fui e de como afligia as pessoas que mais gostam de mim. Tenho uma grande amiga hoje que me disse há pouco do medo que ela teve em aproximar-se de mim... até os professores diziam que eu ia morrer, e não percebiam... é difícil, eu compreendo...
E piorava, e melhorava milimetricamente...eu não ouvia, talvez por defesa. O medo trouxe afastamento - criava medo - dizem... e eu lia tudo sem saber muito bem para quê. Os dias seguiam-se, um 18 no exame de matemática, a finalidade do curso no tempo certo e com as notas apropriadas, o início repentino do trabalho como se me tivesse caído do céu, a sucessão de convites, a acumulação de empregos... e a cada passo sempre uma pontinha de esperança "é quando... que me vou sentir melhor"... procurei sempre fora e a resposta estava tão perto...
A chave foi a verdade, o primeiro passo a confiança... Ouvir repetidamente as regras, às vezes bem rígidas que desde Setembro são uma espécie de oração... O tempo é diferente. A passagem dele dá por mim à procura de mim, deles, dos que deixei... Só tenho ordens para trabalhar um bocadinho, em casa... mas hoje vou ter uma companhia à tarde para pôr em ordem o trabalho a que quero voltar quando a médica achar que já posso. Ela é que sabe de mim...
Mas estou com aquele frio na barriga, um medo de ser pior agora o que fora antes de recomeçar a trabalhar... de onde vem esta ansiedade? é mais uma ambiguidade, a vontade de me deixar debaixo dos cobertores com o portátil em cima da cama e o início de um novo projecto de trabalho...
Faz parte
Vem aí tanta coisa

domingo, 5 de dezembro de 2010

Dias

Parte da lentidão se deve ao medo.
Se há um lado que se quer impor e acelerar o processo, há outro antigo que dita a lenga-lenga: mais vale passos pequenos, mas seguros, em chão firme.
Tenho dormido imenso, há um cansaço que se apropria de mim, depois curva-me as pálpebras até que as pestanas e juntem, levemente, suavemente... como se falassem entre elas, baixinho, para eu não ouvir...
O Acordar fora de horas, impensável noutros tempos faz-me um filme em fast forward de tudo o que eu podia ter feito para manter o metabolismo activo, os músculos a sentirem-me, eu a tomar conta de cada um deles, mesmo com as precauções todas e as regras que passaram do papel para uma espécie de tatuagem, de outra maneira, bem vincada no meu peito.
Sei bem que de nada me vale esta contra-corrente a que às vezes sou incapaz de escapar... mas uma coisa que eu pedia é bem mais certa, mais real hoje... que os instantes entre uma queda e a próxima se distanciem ao máximo... e é isso, tudo isto sem milagres. Enfrento as escorregadelas com cada vez menos medo que se tornem um ciclo. Aquela ansiedade, já não é "aquela", e não me dou inteiramente como antes me entregara...
Faltam-me partes para recuperar a minha vida, talvez venham só quando se puderem substituir por aquelas que nunca existiram e sempre cá estiveram. O tempo custa, uns dias mais que outros e tudo se torna numa espécie de jogo...há o medo, o risco, há a coragem... De alguma forma ainda estou presa cá dentro...dizem que leva tempo...pedem-me persistência e paciência...pedem-me ajuda para me ajudarem....
Eu agradeço, dia a dia, todos os dias, aos especiais
Obrigada por ainda ser, quando tantos pensaram que não seria mais... E há ainda uma espécie de duplo, que fala comigo...eu sei... quem dera que fosse só isso, assim, de repente... mas este tempo é o tempo a cobrar-me, do tempo que me roubei.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Ser livre

Amanhã é mais um dia de "verdade".
Sair do quentinho e do dia-a-dia acompanhado por mulheres e homens que têm Amor ao próximo como apelido é necessário, mas também trás medos...
O espaçamento entre cada visita aumenta um bocadinho... por um lado para me livrarem da pressão, por outro para provar (só a mim) que caminho escolhi e o que estou a fazer para seguir, sem desvios nem encostos à bananeira.
O medo é Senhor de vez em quando. E hoje está aqui, sentado ao meu lado enquanto escrevo.
Não consigo olhar para ele de frente nem ler-lhe nos olhos a razão da sua presença tão real...
Olho-o de soslaio e vejo números à volta, vejo-me a mim também... a sorrir, a tremer, a chorar...
A bater o pé ininterruptamente até chamarem o meu nome...
Tirar cada peça de roupa como se tivesse a desmascarar-me... confiar-lhe o meu corpo e o seu rumo.
Tenho confiado e só por isso cheguei aqui... preciso daquelas palavras seguras, de a ouvir falar e falar também eu consigo como se o corpo não fosse meu...como se fosse um "tamagotchi". Eu tive um em miúda... e alimentava-o, acho que era essa a minha principal preocupação, e ele crescia, era matemático... Preciso que me simplifique a esse ponto... porque eu vou com um pré-diagnóstico, mas a verdade é que vou sempre e nunca, nunca acertei!
Quero o amanhã... quero-o agora e tenho medo (aqui ao meu lado) que o amanhã não chegue, ou que o amanhã não me dê mais medos de presente...
Amanhã eu e o medo vamos. Quero deixá-lo à porta e, quando sair, que ele fique lá ou que já não me reconheça nem me persiga. A liberdade... a liberdade

caminhar

Procuras para fugir e desejas que os planos todos te saiam ao contrário quando sabes... vais falhar.
A luta não é serena, é desigual, provocadora
tantas vezes impulsiva e deixa-te assim, para aí
nas formas mais disformes de desejares que a cama te sustente e te sugue o suor e as lágrimas.
oiço de um lado que a parte mais difícil já passou, de outros que esta é a crucial, de outros que ainda está para chegar...
O cansaço acalmou-se, o sangue corre mais depressa e o corpo baralha-se até à exaustão. Queres fazer, não podes fazer, mas pior é sentir que não consegues fazer.
Os passos parecem consistentes, estás melhor, bem melhor... mas a um milímetro do abismo, como antes... Será isso insegurança ou lucidez?
Serão melhores os dias de embriaguez de riso solto em que tentas com o máximo esforço livrar-te "dela"..ou os dias que sem mais nada a dizer te deixas repousar e vir tudo cá a cima?
É este, é este o caminho... mas há dias em que me faltam as pernas...