domingo, 10 de abril de 2011

o medo invertido

A acertar a ordem e o passo.
Não há outra forma...
As dores da compressão exprimem-se negras, resvalam para o verde até desaparecer, a cor e a dor.
O destino é incerto, o caminho sinuoso,
A falta de mãos e de braços, o aumento do vento a zumbir e a fazer-me coçar as orelhas compulsivamente, pela impressão que deixa cravada.
As pernas levantam-se, uma de cada vez, os pés pousam um de cada vez... e o cansaço, a maldita fadiga de quem só tremeu de nervosismo e não fez sequer um km.
Há uma parte orgulhosa por me ter posto ao caminho, por ter saído da gruta onde o escuro me toma e me cega...
Abri os olho e vi, quis ver e quis levantar-me...
O medo...o medo...
pelo menos por agora virado para o caminho certo..
não tenho de ter medo do que antes havia tido, do que tenho na maioria das vezes, do que me persegue horas e horas, o meu trabalho a 24 horas.
Ganhei pela primeira vez o medo certo,
e por mais estúpido que seja, gosto deste medo e preciso dele...
Sabe bem este medo... há uma cumplicidade, menos solitária nestes medos que todos temos...
Este medo aproxima, este medo é o medo dos outros que me olham...
Deixei por ora o outro medo, mas sei e estou preparada para voltar a recebê-lo...nada, nem o medo passa assim...
E ainda assim, sei que nada nem ninguém, o pode mandar fora e despedir-se dele senão eu...
E ninguém melhor que eu para se despedir... Por milionésimas vezes me despedi... disse adeus, tantas vezes sem palavras... É duro gostar e mandar embora... mas foi preciso, ou julguei que o era...
Essa é a solidão controlada.
A outra... na outra, eu não tenho mão...

8 comentários:

raioverde disse...

Té realmente a tua escrita é maravilhosa, mas nela continuas a exprimir um medo mt forte e um enorme sofrimento e isso preocupa-me: ja nao sei a quanto anda o teu imc mas deve estar baixo.. sabes que eu qdo estava em tratamento até atingir o peso ideal, nao podia fazer exercicio fisico nenhum, nem sequer subir ou descer escadas do hospital..não sei porque estás a hipotecar a tua vida e saude por causa do trabalho..por melhor e mais entusiasmante que seja, ele pode esperar, pk nao existe nada mais importante do que o trabalho de nos reencontrarmos, nem nada mais bonito do que o momento em que regressamos ao nosso mundo interior e finalmente encontramos a nossa Paz roubada..
bjs e pensa nisso pf.. ja que conseguiste cumprir a parte alimentar (agora acho que ja percebi isso), tenta o mais facil, que é cumprir as regras do repouso. Pensa talvez em pedir provisoriamente dentro da empresa tarefas um pouco menos stressantes, ou teletrabalho, algo do genero, por forma a nao te desgastares tanto.

disse...

Minha querida, revelo-te agora a minha profissão, não sei se já te havia dito: sou guionista, escrevo para os outro..neste caso para uma apresentadora. E sou só eu... Claro que ninguém é insubstituível, mas eu já deixei um trabalho para "ir"... agora não quero. Até porque não faço parte de uma equipa de guionistas neste programa. Sou eu e mais ninguém... De algum modo, este trabalho é menos puxado a nível físico que o anterior (ando nas gravações feita barata tonta para que tudo corra cm eu previ, para ver se os textos estão a ser ditos, se não falham informações). Aqui escrevo em casa, vou ao local gravar e volto para casa...só há um ou dois dias da semana em que é MUITO stressante, porque é muita informação a por no momento (tem a ver com números) e que sei pouco antes do tempo de estar tudo pronto... Nesses dias as regras são difíceis, mas depois tenho normalmente "folga" a seguir, fico em casa a trabalhar para as próximas gravações.
A mãe está preocupada, e mostra-o como nunca o fez antes...eu não a quero fazer sofrer, nem ao pai que, menos directo, também vai dizendo que me está a "ver"...
um imc de 13 não é viável com a vida atribulada - e ainda estou a fazer um curso de inglês para tirar o advanced... Fora isso ainda me pediram um guião para um musical de solidariedade no natal...eu ajudo sempre que posso, sempre... e odeio falhar ou dizer não... mas tenho de aprender a resguardar-me... olha querida, não sei... vou andando, a tentar recuperar dia a dia... os dias de "trabalho em casa" ajudam a compensar o resto...

Anónimo disse...

Té, eu ja me tinha apercebido do que era o teu trabalho e confesso que o admiro muito..mas todas nós temos em geral trabalhos que puxam bastante por nós..eu tb tinha e tenho, só que agora sinto que eu estou 1º e só coloquei o trabalho em 1º plano quando me queria esqueçer de mim por causa da deonça...em geral as pessoas que encontro com a nossa doença sao pessoas com vidas profissionais mt exigentes, sem falar nas que estudam e que sabemos exige imenso delas, encontro mtas com vidas incriveis: umas atletas profissionais, outras do mundo da moda, outras advogadas, outras da area da saude, etc..e até parece que qto mais doentes estamos mais nos dedicamos ao trabalho como forma de mostrarmos que somos capazes e que a doença nao nos diminui...
mas minha querida as forças acabam por se esgotar e com o peso que tens so te posso pedir para fazeres uma pausa a serio: sabes que a tua saude corre riscos enormes e reaprender a comer foi o mais dificil..entoa porque nao agora cumprir a parte mais facil? ou será que nao consegues aceitar o teu corpo com um pouco mais de peso? ja aqui falamos tanto sb isso, que nao iras nunca ser gorda, apenas magra e saudavel..pensa em qual a compensaçao que ainda tiras "disso"? quando vires que é nenhuma, que só tiras dor, solidão, deprazer, acredita que vais sim duma vez por todas fazer o que a médica diz!
bjs e desculpa ser chata!

Anónimo disse...

desculpem as outras mulheres e que sao "grandes mulheres" que podem nao ter as profissoes que rotulei de exigentes, mas têm outras tanto ou mais exigentes, como as de doemestica, serem maes, esposas, funcionarias de mais variaods empregos, tudo a exigir imenos delas sem reparar no esforço enorme que fazem para que tudo pareça perfeito!
um abraço de apreço a todas elas!! e tb conheci mtas sim!!

esqueci a ana (ex-ana) disse...

Té,
Partilho há bastante tempo muitas das preocupações referidas nos comenta´rios anteriores. (tenho a sensação que tem que haver alguém que te *obrigue*). Ser adulta e independente cria obstáculos.
Felicidades (tens consciência da gravidade do mal que estás a infligir a ti própria; inverte a situação!)

disse...

não sei como fazer, o que fazer, o que dizer... pela primeira vez "isto" está a afectar o meu trabalho... preciso de ser rápida, estar pronta para alterar as coisas e escreve-las da melhor maneira possivel... e esta semana, estou a falhar...depois choro, fico c uma vergonha e uma frustração incríveis...Não vou decidir nada... vou tentar inverter a situação...tentar aguentar-me e melhorar...

Anónimo disse...

Pois é Ex ana, ja pouco mais posso dizer à Té... ela agora é qeu tem de decidir se quer ou nao continuar numa situaçao que SO lhe provoca sofrimento e ja nenhuma sensaçao de prazer mesmo que falso..
Em relaçao à tua observaçao do "ter que ser obrigada"..a mim nao me causa estranhez, porque eu tb sentia que alguem tinha que me obrigar a parar o meu ritual doentio ..por mim mesma nao conseguia parar..nao sinto vergonha em dize-lo, pk a doença dominava-me por completo.
Agora se a Té ja parou com o V. tem que ter alguem que lhe pare com a obsessao de maltratar o corpo dela..ela nao pode viver sem corpo.. e ela sabe que para isso tem de ganhar peso, pk é a falta de peso a responsavel pelas depressoes e ideias obsessivas e tm mais que ela ja sabe...
bjs

raioverde disse...

desculpem o comentario anterior era meu, mas aparecue como "anonimo".
AB/Raioverde