terça-feira, 9 de novembro de 2010

balançar

A diferença é um abismo.
Mas em vez de uma chegada em slide, foi preciso descer descer bem fundo... não se via nada, ouviam-se uns ecos distorcidos de vozes mais ou menos conhecidas.... mas a descida continuava, o escuro era cada vez mais escuro e o frio injectava-se nos ossos...
O coração encontrou umas mãos penduradas,
O tempo, diferente, passou-me da descida ao outro lado do abismo. Sem as mãos jamais teria conseguido...
Os primeiros dias foram só adormecer em rochas estáveis... não havia muito a fazer, pouco podias tentar... tu sabias... sabia
Sem tempo para esperar, a subida foi difícil, não havia onde meter os pés, e as mãos escorregavam tanto, do suor, do cansaço... Usaste mãos que não foram as tuas para os primeiros passos... só os pés foram sempre sempre teus.
Aprendeste a retorcer os músculos inteiros, que se iam subtraindo pela falta dos quilómetros que antes percorrias no planalto... mas serviram. Houve um dia em que ergueste a a cabeça, outro em que esboçaste um sorriso outro em que as palavras diziam melhor os medos do coração...
Há dias em que olhas para baixo, e a atracção do abismo paralisa-te... suspende o tempo, desafia-se a gravidade e sobes, mais um passo, mais um...
Ainda não vejo bem a relva fresca, mas o escuro já não é tão escuro... os ecos são cada vez mais nítidos e a tua voz ganhou força, daquela mas ao contrário...
Tenho medo e quero isto...
Quero o medo à minha frente.
Estou aqui, de pé, de pés e mãos firmes... e quando escorrego o vento balança-te... só. Apenas balanças...

1 comentário:

esqueci a ana (ex-ana) disse...

Sair do abismo. Respirar. Respirar. Perceber como os horizontes são tão iluminados e distantes fora do abismo (ou podem ser).
Coragem.