sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Vou dormir fora.

Estava de corpo paralisado naquelas cadeiras verdes almofadas, rijas demais.
chegou com aquele sorriso aberto e seguro.
Vamos?
Sorri também. Levantei-me rapidamente como uma miúda a quem fossem dar um presente muito desejado... e iam dar uma coisa muito mellhor.. uma conversa com sabor a verdade, um olhar com sabor a abraço, fosse ele duro, cru, refilão, com palavras que doessem ou que fizessem chorar. Eu queria, era essa a única certeza.
E foi tudo isso, mas também bem mais que isso.
Tinhamos falado por mail e eu era a expressão da vergonha das minhas próprias palavras, porque o que eu lhe disse era só aquilo que eu não ia ser capaz de dizer e que, então, escrevi...
É incrível como conseguimos ganhar empatia em tão pouco tempo, em como ela faz e responde a perguntas quando eu já só sei chorar e ela dá as letras a cada lágrima, a cada pedra de sal... e reune-o todo, e dá sentido... "precisa de confiar, nunca confiou em ninguém... se eles nunca a ajudaram como é que alguém a a vai ajudar? mas agora não há tempo...tem de confiar, tem só de cumprir, cegamente..."
Onde eu só vi mais e mais quedas ela encontrou coisas boas e formas de me elogiar, mais uma vez deu parabéns à minha persistência, às minhas capacidades que apenas precisam de virar o ponteiro. E disse, agora com a voz mais séria do mundo: não há tempo para esperar que o trabalho dê tempo, não há tempo para acreditar que o corpo vai continuar a aguentar tudo, não há tempo para continuar esta descida vertiginosa nem esperar numa uma mudança mágica...
bem sei que essa espera pode ser trágica...
Mas na altura, tudo é diferente..esses medos desaparecem, o foco fica numa nuvem distante, o chão é noutro chão, o tecto nem existe...
Vou estar duas semanas e meia sem si, sem a minha ida-semanal-de-busca-de-sanidade, duas semanas em que se vai decidir se acordo durante uns tempo numa cama que não é a minha ou se tive medo e não fui - porque eu sei que não há mais hipóteses.
Sabe, fiquei com medo quando disse que tinha medo. Fiquei com medo porque a senti próxima, fiquei com medo porque de repente as minhas duvidas momentâneas de ter medo de repente se tornaram um pouco reais... Disse que tinha medo desta nova perda repentina, da minha falta de noção do meu estado...e desta angústia... Deu-me mais medicação, fez-me prometer que o trabalho não seria desculpa para descansar... E acabámos a rir, com a minha sinceridade: quando marquei a 1ª, o meu objectivo era dizer estou aqui, esta sou eu, diga o que é que tenho de fazer para tirar este bicho... e eu fazia. Simples.
Vim com um abraço.
E chorei.
Tenho a certeza do que quero.

4 comentários:

esqueci a ana (ex-ana) disse...

Vais conseguir!

Anónimo disse...

Sempre disse que termos que confiarmos cegamente em quem nos segue, saber que essa pessoa só quer tomar conta da nossa vontade doente.. é mais do que meio caminho para a cura..
bjs
AB

disse...

e agora ter que esperar...medo...a vontade doente adoece-me cada vez mais...o que é que eu faço, o que é que eu faço?

Anónimo disse...

faz o que a medica achar que é melhor para ti... ela agora é a tua melhor Amiga e conselheira... ela melhor que ninguem sabe medir as tuas forças e as da doença..ela está lá para mediar esse "conflito" e ajudar-te a ganha-lo.
bj
AB