quarta-feira, 16 de outubro de 2013

respirar bem fundo

Quando andamos de olhos postos no chão, sem a mínima força para erguermos a cabeça, atraímos o fundo. De repente iniciamos a viagem numa espiral negativa, de sufoco, de soluços, de constante escorregar. A cabeça lateja, os músculos consomem-se uns aos outros. os ouvidos fecham-se sobre si mesmos e só ouvem o eco do silêncio. De repente a noite vira o nosso dia e as nuvens fazem a distância entre nós e o céu, infinitamente mais pequena. O valor que damos ao não é absurdamente enorme e os ecos multiplicam-se e as dores perpetuam-se e o fim à viagem negra não se avista.
No dia em que ganhamos a coragem suficiente para dar um murro na mesa, mas um murro que se oiça, cheio de si, aí, só aí, nasce o embrião da hipótese do sol voltar a nascer.
E quando o primeiro raio espreita é como se nascêssemos de novo. Se quisermos.
O eco continua a existir mas na frequência oposta.
A sintonia encontra-se e a multiplicação sucede-se.
E eu estou, orgulhosamente nesse processo, a dar graças pela enorme graça que me foi concedida de (re)começar.
Hoje foi dia de reunião e de nova proposta de emprego. Sabe tão bem quando gostam de nós e, para quem bem me entende, quando gostam de nós sem aqueles sufixos ligados ao passado que me viram acontecer.
Tenho a certeza que é o meu sorriso a despertar-me na cabeça de quem se lembra de mim e em quem confia porque - agora sim - pode confiar. Estou em pé de igualdade com todas as outras pessoas que podem falhar pelas contingências naturais. E sabe tão bem não duvidar que só e só o meu trabalho e a minha criatividade são reis quando chega a altura de escolher as cabeças para os novos projectos das grandes empresas em que trabalho e trabalhei durante este processo tão duro e tão complicado dos últimos anos.
O valor que dou ao suspiro desmedido é imenso...
que bom que é...
obrigada, obrigada

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Batido

Há uma luz nova. Um brilho com cheiro a liberdade e uma vontade que vem do alto do céu.
Há lágrimas que se choram sem cheiro a bafio, e há longe sem saudade.
Hoje há pés que pisam o chão inteiramente. Sem medo de se fazerem ouvir. Sem medo de incomodar. Sem pedir desculpa por existirem.
Hoje há um compasso na voz que faz parte do resto.

Existo.

É isto.

Só.

Tanto.

Há almoços e jantares com sabor a música clássica.
O ontem, o hoje, e tenho a certeza que o amanhã fazem parte do mesmo livro.
Já não sou uma manta de retalhos nem uma boneca de trapos. Só um corpo, só um sentir com a melodia que for preciso tocar. Os graves e os agudos. A confusão e mesmo o silêncio. Já não há manhãs imersas no pânico de não pertencer sequer àquela cama.
Chegou a Hora.

As provações, os desafios, o arriscar constante, os medos vencidos dia a dia, hora a hora. A mesma cabeça coberta de frases feitas e tão bem conhecidas... hoje já não mandam nem me comandam os passos, os caminhos, a correria, as quedas.

Sou mais. mais forte. Conheço-me como pouca gente se conhece. As manhas e armadilhas, a resolução sempre igual...

A verdade é que pouco mudou e eu estou tão diferente.

Não, não podes mudar o que sentes, mas sim o que fazes com isso. Chegou-me a procastinação que me roubou 15 anos.

Bebi um batido de vida. Saí de casa dos pais, trabalho para me sustentar a todos os níveis. Tenho uma cabeça cheia de gavetas novas e pretendo manter tudo arrumado. Sabe-me bem chegar à uma da manhã a casa e ainda me encher de ideias para deixar tudo mais bonito... e tudo para mim.
Para mim.