sexta-feira, 29 de julho de 2011

desenho

O tempo aqui anda de maneira diferente
A agenda é por demais invariante, avariada, desvairada.
As horas deixam de fazer sentido rapidamente.... pelo menos atiro o relógio ao ar, atiro-me a mim também...nem que seja naquela meia hora supersónica em que o tempo voa com o vento que nos faz arrancar rapidamente, chegar ao fim da meia hora que tem menos minutos que as meias horas todas, de todos os dias e de todas as noites.
E se as horas lá de fora deixarem de correr assim?
E se o tempo também se virar contra mim e decidir gozar comigo?
E se...
Depois o acordo não for cumprido e eu me abeirar da liberdade dos sonhos negros, par mim de cor-arco-iris?
What you do is what you get...
quem dera que fosse tudo tão simples...
O caminho está traçado - esse.
Não importam as coordenadas... primeiro para este até achar que se pode parar, virar para sul ou para norte...
Sem dupla, só na procura de um não-lugar.
A minha utopia,
A minha esperança
A calma

quarta-feira, 20 de julho de 2011

um intestino

O medo de ser expelida da máquina onde a teoria é mais forte que as pessoas...
Se a teoria não se aplica, quem está mal foi quem chegou em última...Eu.
A teoria já funcionou muitas vezes, se não me conseguem trabalhar nela, se os resultados não são o que esperam, então quem está mal sou eu!
E peço para me deixarem ir,
e pedem mais um exame, mais um resultado, mais um "ohhhhhhhh" em uníssono para demonstrarem a surpresa, o "caso para estudar", a fora, o alien o OVNI...
Querem continuar a duvidar, precisam de mais provas? Podem agora acreditar que eu não estou a mentir??
E agora que o mito se desfez, e n m fazem nada, também nada estou aqui a fazer...

sexta-feira, 15 de julho de 2011

verbo

O caminho é sinuoso, aqui não há ruas nem becos, nem degraus... linha recta. várias linhas mas sem muito por onde andar. O conhecimento é uma bíblia que daqui levo e depois cabe-me abri-la sempre que tiver dúvidas e tratá-la como tratam as crianças pequeninas o seu boneco preferido... adormecer com ele e relembrar-me de tudo, de tanta gente, de mim, aqui...
Nas dúvidas, perguntar
Na ansiedade, procurar
No pânico, confiar...e fazer uma visita, fazendo-me de malcriada que entra sem a terem convidado.
Tenho medo, é verdade.. Tanto, tanto como no primeiro dia, tanto como sempre.
É um medo que dói, é um medo peganhento e que se agarra à dor, do pé à ponta dos meus cabelos.
Qualquer coisa me tolda as pálpebras, e reaprende-se a chorar, a orar, a ter o mesmo medo mas ainda assim ir em frente... esta é a única maneira de o deter, a única forma de fazer os 100 metros com ele e chegar primeiro... Como é que sei? porque tentei todas as outras...
Certezas não há...quem dera saber se assim o medo fosse embora... ter aquela certeza, uma das certezas que preciso para avançar.... como sempre, com medo, mas pela primeira vez a CONFIAR

segunda-feira, 4 de julho de 2011

The place

Até ontem: St. Mary's relax & spa hotel

ALA II

Calma? (preciso de silêncio urgentemente)
Uma grita pelo "joão manuel dos santos silva". Repete, com cada vez mais raiva, cospe-se, abre a boca inteira a mostrar uns dentes de criança que faltam e os outros são pequenos demais.
deve estar nos 40. Uma injecção, apertada por mais três auxiliares, tanta gente e tanta força, para amarrarem a fragilidade de um corpo com uma cabeça tão determinada quanto louca.
Entra outra.
Para a minha frente... quis logo fugir, não quero conviver com elas, não quero ser parte do "grupo".
Entra outra, mal-criada. Pede o lanche...Graças a Deus.
"não vou vestir essas calças, não vou andar com a roupa do hospital."
"mas uma pessoa vem para aqui e não lhe dão lanche??? "- não vou partilhar contigo o meu iogurte, o meu pão nem a compota". Refilona, mal educada com o cabelo áspero que a tinta loira te deixou.
A tua cama, a tua mesa de cabeceira, o teu cacifo: "não pode mandar limpar isto tudo?
Está limpo...
Ridícula. Saio e não deixo a porta bater... 3 novas e deixam a minha ala mais completa do que estava.. gostava do vazio do silêncio que os comprimidos provocaram nas outras... era aí o meu minuto... acho que esperava sempre por ele para adormecer...
Este caos aumenta-me a pulsação. Este caos faz o meu cérebro gritar-me cá dentro FOGE!!!
Vou pelo corredor a criar a terceira fila. Ouço a Dra a dizer que vai tratar do internamento... atrás dela um pai cansado, cabelos brancos a balbuciar qualquer coisa que a filha manda calar... a conversa é terminada por ela: "não me chateies". Seguem à minha frente...ela com um andar arrapazado, um olhar misto de raiva e tristeza...mais raiva que tristeza...
Ainda não entrou, mas vai para perto das miúdas, como nos chamam...
Fujo a sete pés das amizades... fiz uma e acho que vai durar... entendemo-nos e não partilhamos o quadro do que nos trouxe aqui dentro. Talvez tenha sido só por isso. E por termos chorado juntas , fiz o nosso retrato, está na minha cabeça... e é incrível desenrolar novelos cheios de pó...
Das "outras": distância... na minha calma simpatia, percebem que não tenho paciência, nem preciso ter...
Aqui experimentei dar um berro a quem merece, sair sem dizer nada, fazer o que me apetecer ou não fazer absolutamente nada. Aqui tudo é permitido... mas as nossas regras são as mais difíceis de todas... Os outros, acham estranho, outros percebem, outros não querem saber, outros são como o mundo inteiro que nos olha com desdém: miudas caprichosas cujo-problema-se-trata-no-McDonalds.
Não me interessa nada... mas no meio deste caos ainda me perguntei o que estava aqui a fazer??
E sim, apeteceu-me entrar consultório dentro e pedir ALTAAAAAAAAA...
Subio o nível do nome desta ala com redes entre as escadas, cujo elevador se apanha à frente de uma porta com letras grandes: SHINDLER...à...é a marca dos elevadores.
Daqui a 3 dias passa um mês.
Tenho medo destas pessoas.