terça-feira, 29 de março de 2011

menos um

Foi o que ela disse.
Foi o que disseram depois como que a acertar no ponto, a verem através da pele bem mais do que as veias...
O limite, outra vez o limite...
O querer e o não fazer, o desespero e a harmonia do acto, como se estivesse tudo para o mesmo rumo e ninguém percebesse o quanto quero sair daqui de dentro.
As mão acompanham o cruzar dos braços.
Olho de baixo, do fundo...
e anuncio ao invólucro que não tem mais mãos que o toquem...
será o chão. A terra, a tijoleira ou a alcatifa a ter-te inteira, num sítio qualquer, num instante qualquer... porque nada disso importa, nada disso existe...
A cabeça diz que não, o corpo conforma-se e adianta-se à pressa de não ter tempo para deixar tudo pronto antes de partir... de cair, de desfazer-se como um puzzle onde faltarão sempre peças para ser completado.
"Quando é que foi?"
"porquê?"
Perguntas e perguntas baralhadas num cérebro de pássaro que já não se reinventa para encontrar a história e as marcas...
O boicote persiste, hipoteca-te, destrói tudo...
e no fim, depois de todos os lamentos, pedidos, dores de quem só observa...
é como a queda do Ícaro no quadro do Brueghel...
cai, afoga-se... e a vida continua (sem ele), continua... segue em frente,
mesmo que um dia alguém lhe sinta a falta... é só um lugar desocupado, preenchido depois pelo espaço a menos que se queixam sem dizer quem dele precisa para Ser.
É a antítese... o futuro promissor e um passado demasiado dorido para sequer um passo em frente... (onde é a frente?)
E pouco a pouco, as pistas são cada vez menos, os pesares, os pêsames depois...
E um pedido que nunca será satisfeito... o pedido das desculpas.

quarta-feira, 23 de março de 2011

o corpo e a alma

Faz do corpo uma mensagem.
Assustadora, ou pacífica por sempre terem conhecido, mais ou menos, assim...
O que faz perder corpo ao corpo, o que faz voltar a descer vertiginosamente, a voltar onde jurei nunca mais ficar um segundo que fosse...
O resultado não será o mesmo e por isso não posso chamar-lhe retrocesso... é uma descida assustadora, porque os pés deixaram de ter chão para pisar.
Hoje disseste-me "Gosto muito de ti", mas de que "ti", se nem sequer sabes o que se passa cá dentro... se vês por fora o que te faz ter medo de vir a ter ainda mais medo por aquilo que pode acontecer... e tu nem fazes ideia do que pode mesmo acontecer... nem eu. Mas a mim contam-me, e ouço-o como se estivessem a falar de outra pessoa qualquer.
Não é frescura da juventude, de pensar nestas idades que se é imortal, que a vida é longa de mais ainda, para se pensar num fim... Mas não é isso (quem me dera)...
É a experiência de anos, de cair e levantar no momento a seguir, de estacionar nas urgência e de no dia a seguir estacionar à porta da faculdade para fazer um exame, de estacionar no dia a seguir para mais uma maratona de horas de trabalho, de muito trabalho, sem fim...
O corpo aguenta bem mais que a alma, mas esta não se vê... só eu a sinto graças a Deus.

terça-feira, 22 de março de 2011

até ao fim

A descida vertiginosa acontece. Sem a provocar, sem sequer pensar muito nela...
O tempo acontece, acelera agora que não dou pelos dias passarem e até me esqueço de pagar a segurança social...e lá vem a multa!
Este novo trabalho não será multado por mim, vou aguentar, não quero saber o quanto custa ou o que posso hipotecar com isto. A minha vida não vai mais parar, vai com o tempo, rápida.
Não me interessa nada, fora ou dentro de mim... Eu aguento como sempre aguentei e faço absolutamente tudo o que for preciso e apenas o que for capaz de fazer. São momentos que me esperam e são momentos a que eu vou fugir sempre que for preciso.
Não vou ao chão, não vou cair,
aguentar-me-ei até ao fim
até ao fim...

sexta-feira, 18 de março de 2011

O sempre amanhã

Por mais anos que passem, o dia anterior será sempre com batimentos cardíacos desregrados e e guardanapos molhados de água e sal.
Saber O número, saber a mudança, como se ela acontecesse num só dia, interessa aquele dia, aquele número poderoso e agressivo.
Tenho medo e tenho ansiedade a mais para esta altura...
digo coisas parvas só para não ficar calada e pensar menos,
porque amanhã é O dia.
estou cansada destes dias, de ouvir e dizer sempre o mesmo, de sentir-me a morrer por subir e depois inspirar, não ter tempo para pensar se quero ou não ter os olhos abertos. Querer e não querer ver, querer e não querer, desejar, repudiar inteiramente tudo. Tudo.
Querer não sair dali, que sejam 10 a mais, já ou 10 a menos de repente e me levem, me tapem a boca e me achem inapta para tomar qualquer decisão. Não querer ter de querer saber...
Ir só.
Chegar só.
Conversar só.
Despedir-me, só.

quinta-feira, 17 de março de 2011

A Ti, sorte em ter-Te

Sinto um fio que me atravessa a espinal medula e ultrapassa o rijo crânio...vai até lá acima, acima das nuvens, acima do que é visível aos olhos...
A alma cabisbaixa e mesmo assim o fim não rompe.
Deus ama-nos independentemente de tudo, está para além de tudo e perdoa e dá colo a todos.
Ter fé, acreditar em Deus é uma sorte. Eu sou uma sortuda e desejo sempre que partilhem desta minha sorte... Há dias em que o mundo acaba e o sono nos leva, e mesmo assim ele está lá... nunca me zanguei com Ele, mas poucas serão as pessoas que tantas vezes como eu pediu o seu perdão.
E peço perdão a cada dia, e peço a cada dia que me tire o dom que me fez nascer mulher, cidadã, filha, trabalhadora, futura mãe, esposa, avó... Peço sempre perdão pelos papeis que não sou capaz de ter um "excelente" na sua execução.
Quando a cama parece o único abrigo seguro, la vem Ele, dar-me mil telefonemas com propostas de trabalho, uma força impulsiva de me inscrever num curso novo... e quando o trabalho fica feito e a dor aumenta de novo, lá vem ele, dar-me mais um projecto para desenvolver, e quando ainda sobra tempo em que as lágrimas não param lá vem Ele dar-me aquilo que me dá prazer fazer, em que o dinheiro é um mero instrumento para ajudar quem precisa...
Passo a vida a considerar-me sortuda, por tudo o que me acontece, por tudo o que não procuro mas me encontra...
Sou sortuda sim,
Sortuda por ter fé...por acreditar nEle acima de todas as coisas.
E espero...
respiro fundo...
e há dias em que não aguento e Tu já sabes o que te vou pedir... o único desejo que nunca concretizaste... e pergunto-Te encharcada por dentro e por fora... e Tu não respondes, Tu esperas e obrigas-me a esperar...e os pequenos milagres acontecem...esse fio que tu seguras, e que só vais puxar no fim de tudo... mesmo que te implore, o meu tempo é Teu. E peço-Te perdão outra vez.
Vou precisar de ser forte para o que aí vem, desta vez não vou deixar que o corpo me atraiçoe, vou cuidar dele o melhor que sei e consigo, mesmo que falhe, mesmo que a perfeição que desejo não chegue..porque ela, só a Ti pertence...
Tu sabes o meu medo, eu sei-Te aqui, mesmo quando parece que me deixaste.
Sorte em acreditar em Ti, sorte em ser conTigo e de esperar pelo dia em que me pegares ao colo para finalmente poder descansar...
Por favor, continua a acreditar em mim.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Quando tudo cai

Ontem senti-me assim, desamparada, abandonada, incompetente, escrava, no fim...
Ontem fui espancada por dentro, arrancaram-me a esperança e deitou sangue, ficou em ferida... Não chego lá para a tratar, para pôr creme, para desinflamar..
Ontem apagaram-me a chama... e no fim fiquei pedra, rija...
Ontem vi-me de fora, como se o corpo partisse de mim... porque eu saltei e ele não veio comigo.
Espero o corpo a apagar-se outra vez, espero que não esperem demasiado tempo, espero que vejam que não sou eu quem lá está, no corpo...
Não me rendi mas não consigo arriscar...
Mostro tanta força, mas é só medo virado do avesso.
Ontem deu por mim o fim, uma hipótese de ficarmos por aqui...onde resta amparar os passos para não acabar de vez... Ou esse pequeno espaço de vida ou a vida inteira caso me carregue até lá chegar.
Ontem resumiu-me a uma decisão... e eu não conheço as palavras das respostas...
Conduzi para casa de baixo de um dia de sol, mas com uma chuva torrencial que depois percebi,
eram os meus olhos e a solidão.