terça-feira, 31 de agosto de 2010

Manhã

A conversa da manhã soube-me a sal, soube-me a rapidez, soube-me a enfiar todas as palavras dentro de um espaço meu e seu de tantos segredos neste mistério de uma relação estranhamente criada a partir de uma coisa muito minha: o silêncio.
Hoje falámos as duas, hoje não me quis só ouvir, hoje disse-me o que pensava e disse-me ainda o que achava que era necessário fazer... e não daqui a algum tempo...mas já... não conjugou o verbo. Usou-o. Inteiro. Firmemente, sem hipóteses. Seguramente. Aquela segurança que, bem sabe... eu nunca soube... Este tremor vem de todos os lados, da alma e do coro e dos olhos e da cabeça. Há qualquer coisa a dizer que não podes nem te deixam nem nunca mais vais ser nada... e eu agradeço que pelo menos "nada disto" voltes a ser... Depois... dói... Como é que se explica? ainda parece tudo um pouco surreal, ainda cheira tudo um pouco a não-é-verdade-porque-blá-blá-blá

"porquê tanto mal contra si"
o meu silêncio
"eu vou falar com ela também, ligue-me quando sair"
Amanhã vai ser difícil aguentar o tempo a passar,
Vai ser difícil quando estiver quase a chegar o tempo quando eu chegar, quase sem tempo, àquela sala de espera, das cadeiras acolchoadas mas duras demais para aguentarem o peso do meu pesado corpo de espera.
Imagino-me a entrar, a dizer poucas palavras, imagino-a a adivinhar-me palavras, a falar-me da conversa que teve à pouco da minha consulta da manhã...
Eu vou querer saber conclusões quando vai querer combinar comigo decisões...
vai-se levantar e eu não vou querer ver... o que é que o número importa? o que é que vai decidir?
Porque é que este coração está pequenino apertado e a doer?
é sempre assim...e depois...nada... não acontece nada... eu suspiro
Não, não é de alívio por mais que me engane... é desta suspensa repetição

domingo, 29 de agosto de 2010

Estes dias

Chegaram os dias em que cada perna te pesa como dez,
chegaram os dias em que três escadas são como atravessar um deserto,
chegaram os dias em que o coração dispara se te levantares e vês estrelas antes de ver o mundo...
Chegaram os dias em que os graus nas subidas te tiram o fôlego e te trazem uma dormência no osso entre o canto do olho e a orelha.
Chegaram os dias em que qualquer viagem de carro te faz dormir, qualquer movimento repetitivo te faz fechar os olhos,
Chegaram dias de sabor amargo
dias...
Serão apenas dias porque uma vida não permite fazer-se de muitos destes dias,

É já depois de amanhã,
que mistura que aqui vai...

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

os meus

Desceu outra vez.
Desta vez não te vem um sorriso à cara e não é porque tenhas dúvidas, nem tão pouco porque quisesses o oposto... É porque simplesmente não sabes o que querias ter visto nem percebes porque foste ver. Hoje tudo te foge... cheira a despedida,
os beijos cheiram a última vez,
nos abraços despeja-se a força que resta
As palavras não se podem gastar,
E quantos não se gastaram de mim?...
Doeu cada dedicação seguida de pedidos impossíveis, a que se seguiram insultos e, por fim, desistências... Tantas!
Quem ficou, quem está, é com respeito, e nesta altura está longe porque eu me afastei, talvez seja isso...eu acredito nisso... Mas aquilo que se ouve na rua, se eu acreditar que os olhos dos outros estão bons quando me vêem, dói e então eu não quero que me vejam agora,os meus...mas há dias em que eu tenho saudades...Há dias em que me fazem falta e estou sozinha.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

.

Parece que te venceu
Parece que te deixaste vencer
Atravessou-te as idades...já não são as queixinhas, é o suor da vergonha, esse PÁRA gritado sem som, que te sai disparado pelos olhos em contra-picado...
E a fraqueza, ai a moleza e a dureza debaixo da pele, quando o corpo já não se aguenta e tenta descansar e se senta e se magoa e pede as mãos para ampararem o impacto. E as mãos ganham dormência, o corpo todo adormece, os olhos pedem para dormir... Mas o coração continua a bater,
e passa mais um dia,
mais um dia a passar por ti,
os dias passam por ti...
já não és a miúda com medo das queixinhas,
és a mulher cheia de vergonha desse conteúdo ridículo
uma mulher, uma qualquer
uma "mulher" ridícula".

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

pai

No fundo sabia que olhavas, só não tinha a certeza se vias, nem sequer sabia o que vias... é dificil imaginar quando nem eu todos os dias vejo o mesmo, quando de hora para hora oscila essa sensação, esse sentido, esse sentir.
O corpo não ficou em alerta como antes, já não me fazes virar o mundo ao contrário para te distrair, abstrair, corrigir, no fundo...mentir... e não, não entendas como desilusão ou desamor, encara-o antes como é...é assim. A tua vida não para pelas escolhas que eu faço ou que eu deixo de fazer... Nunca parou. Acredito que fiques triste, acredito que te doa, mas eu não sei o que fazer quando me atiras para os braços essa total disposição para me ajudares. Desculpa, mas assim de repente, eu não sei o que isso significa...e duvido, muito sinceramente, que saibas o que isso quer dizer. Imagina que eu respondia "sim, quero", e depois? o que é que fazias?...Desculpa, também não sei...A minha decisão está tomada e a seu tempo vais sabe-la... só rezo para que não a encares com um pingo de desilusão... gostava até que tivesses orgulho, mas isto sou eu a sonhar...orgulho porque mais uma vez fui eu, sozinha a correr atrás da minha recuperação... Há dias em que ainda me pergunto...se vês tanto, se és tão atento, porque é que não pegaste em mim e me levaste? confiaste na premissa "máxima liberdade para máxima responsabilidade"? a tua filha não foi fazer uma viagem aos onze anos como tu disseste... não foi uma filha confortável....ficou doente.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

adormecer

Cambaleando,
O vento insiste em por-te os cabelos à frente.
Ainda há lembrança a perfume da manhã... e logo te lembras que é tarde, quase noite.
os pés pouco separado, o toc toc dos chinelos lembram-te que os pés ainda tocam o chão.
Os cabelos outra vez à tua frente e desta vez a mão faz a longa viagem e toca-te a pele....
Sinal encarnado e paras o passo.
Nestas estradas não se brinca... disseram-te uma vez...
os próximos 5 minutos têm já tema de conversa interna.
Tinham, não fosses tu passar pelo Tivoli e ele não te fizesse lembrar outras coisas. Coisas boas.
Todos os bancos têm íman, depois todos os degraus têm íman....mais uma subida e a pedra da calçada é um íman... Tens de resistir/ que resistir/ a OBRIGAÇÃO de resistir.
Chegas de cabeça vazia a um lugar sem nome. As lágrima ficaram presas e lavaram as memórias todas. Pegas num lápis, numa folha, desenhas as letras e adormeces.

domingo, 15 de agosto de 2010

Ensaio

Nem sei porque insisto em tentar dar sinais,
Dói-me essa tristeza,
às vezes só não queria que fosse de repente porque imagino que vos vá custar... e isso preocupa-me. Tem-me ocupado espaço cá dentro. Mas estão demasiado longe, continuam demasiado longe...e eu sei, fizeram tudo, sempre, da melhor maneira que souberam...
Não estão cegos, nunca foram, só não vêem bem... talvez vejam como eu, como eu às vezes gosto e prefiro ver...se fiz a faculdade, se arranjo trabalho atrás de trabalho, namoro, atrás de namoro (mesmo que relâmpago)... para quê julgar que alguma coisa se passa naquele corpo que é um bocadinho mais débil que os outros? não anda? não se mexe e se levanta da cama todos os dias para ir trabalhar?? então já faz mais que a maioria do povo português!
Ensaio:
Vou...
preciso de descansar a cabeça, não estou bem e preciso que me ajudem... preciso de tentar outra forma, outra forma diferente de todas as anteriores... sei que vocês fizeram tudo...não vos culpo de nada, de nada...preciso de experimentar a única coisa que ficou de fora nestes 6 anos porque tentei sempre da mesma maneira e estou farta de falhar...é muito frustrante. Não vos vou prometer nada. Vou por mim, porque acho que mereço ter uma vida que ainda não tenho. Até já

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Vou dormir fora.

Estava de corpo paralisado naquelas cadeiras verdes almofadas, rijas demais.
chegou com aquele sorriso aberto e seguro.
Vamos?
Sorri também. Levantei-me rapidamente como uma miúda a quem fossem dar um presente muito desejado... e iam dar uma coisa muito mellhor.. uma conversa com sabor a verdade, um olhar com sabor a abraço, fosse ele duro, cru, refilão, com palavras que doessem ou que fizessem chorar. Eu queria, era essa a única certeza.
E foi tudo isso, mas também bem mais que isso.
Tinhamos falado por mail e eu era a expressão da vergonha das minhas próprias palavras, porque o que eu lhe disse era só aquilo que eu não ia ser capaz de dizer e que, então, escrevi...
É incrível como conseguimos ganhar empatia em tão pouco tempo, em como ela faz e responde a perguntas quando eu já só sei chorar e ela dá as letras a cada lágrima, a cada pedra de sal... e reune-o todo, e dá sentido... "precisa de confiar, nunca confiou em ninguém... se eles nunca a ajudaram como é que alguém a a vai ajudar? mas agora não há tempo...tem de confiar, tem só de cumprir, cegamente..."
Onde eu só vi mais e mais quedas ela encontrou coisas boas e formas de me elogiar, mais uma vez deu parabéns à minha persistência, às minhas capacidades que apenas precisam de virar o ponteiro. E disse, agora com a voz mais séria do mundo: não há tempo para esperar que o trabalho dê tempo, não há tempo para acreditar que o corpo vai continuar a aguentar tudo, não há tempo para continuar esta descida vertiginosa nem esperar numa uma mudança mágica...
bem sei que essa espera pode ser trágica...
Mas na altura, tudo é diferente..esses medos desaparecem, o foco fica numa nuvem distante, o chão é noutro chão, o tecto nem existe...
Vou estar duas semanas e meia sem si, sem a minha ida-semanal-de-busca-de-sanidade, duas semanas em que se vai decidir se acordo durante uns tempo numa cama que não é a minha ou se tive medo e não fui - porque eu sei que não há mais hipóteses.
Sabe, fiquei com medo quando disse que tinha medo. Fiquei com medo porque a senti próxima, fiquei com medo porque de repente as minhas duvidas momentâneas de ter medo de repente se tornaram um pouco reais... Disse que tinha medo desta nova perda repentina, da minha falta de noção do meu estado...e desta angústia... Deu-me mais medicação, fez-me prometer que o trabalho não seria desculpa para descansar... E acabámos a rir, com a minha sinceridade: quando marquei a 1ª, o meu objectivo era dizer estou aqui, esta sou eu, diga o que é que tenho de fazer para tirar este bicho... e eu fazia. Simples.
Vim com um abraço.
E chorei.
Tenho a certeza do que quero.

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Parto com uma pequena mala.
Com o coração trémulo.
Com a esperança a meio gás,
com a vontade toda,
sem muitos projectos, confesso.
Não te prometo nada, não vou por ninguém, por honra de ninguém... Não vou para provar nada a ninguém, não vou para deixar nenhuma alma em paz...
Vou para "fazer diferente"
Vou porque não faz sentido desistir antes e tentar tudo, acima de tudo vou porque quero férias... e estas serão bem melhores que umas férias nas Bahamas... TENHO A CERTEZA! e digo-o assim, à boca cheia, gritado mesmo. Nestes últimos anos viajei, com uma amiga, com vários amigos, com namorado..e em todas, sem excepção, fui "acompanhada", não tive férias... nem nas férias tive férias e preciso... Ontem e perguntava-me: "por quê??? porque é que isto me grita cá dentro que este é o caminho, que não vale a pena fingir nem desculpar-me mais, que eu tenho de tentar isto??..a resposta é só uma: porque preciso...Nem que seja para ir e ver que também não funciona... Mas depois vou poder dizer que também tentei, até lá vou ter sempre um caminho que ainda não experimentei... vou estar a desistir antes do tempo e isso não faz sentido.
Amanhã decido o meu futuro mais próximo. Deus me dê coragem.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

um bocadinho de raiva

De repente parece que deixa de valer a pena inverter o sentido, deixa de valer lutar...Deixas-te levar como se ninguém estivesse a ver, e dói...
Choras agora com a raiva à flor da pele
Foste ao contrário de tantas...
Não quiseste chocar, não bateste o pé,
nunca fizeste uma birra!
Fizeste tudo lentamente para que ninguém desse por nada, para que ninguém sofresse para que ninguém se preocupasse, para que ninguém tivesse que mexer uma palha da sua vida para se ocupar da TUA VIDA!
E a diferença, entre essa altura, em que tu dizias a ti mesma... "ninguém vê porque eu não deixo que ninguém veja"... para a destruição massiva e maciça,em que o teu corpo é uma réstia...é ZERO... Vou parar, sim... quando não der mais... não tenho coragem de carregar no Stop, a vergonha é imensa.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

The End

O Fim agora, o fim agora, agora, o fim. Estou à espera. Acaba-te. Já.

domingo, 8 de agosto de 2010

Ajude-me

Trata-se de parar para parar de perder tempo.
Ainda que esse parar te soe a perda de tempo, às vezes, porque podias continuar a correr como se não houvesse amanhã... Felizmente para ti a 'crise' não tem querido dizer muito e dás-te ao luxo de ter que recusar proposta atrás de proposta de trabalho. Exactamente 3 no último mês.
E ainda que vivas como os teus pares, e te queixes com eles, ou só acenes com eles quando se queixam da dureza desta profissão, sonhas acordada com a vida santa que terias se tivesses só a profissão-de-carteira...
É urgente parar porque estás a enlouquecer,
porque este trabalho não se coaduna com a total ausência de prazer... todos te dizem..."nós lá aguentamos, porque no fundo, gostamos disto..." E tu?
Eu ocupo-me do trabalho nos tempos livres da minha profissão intrínseca, da minha pele, do meu cérebro envenenado feito sonho, pesadelo, suor, lágrimas, pesar, andar e dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor, dor.
...
Preciso de PARAR
parar de perder tempo a contar,
perder tempo nas filas
nos super mercados,
na casa de banho
ao espelho
no chão
a vaguear horas a fio
a limpar
a gastar água
de gastar dinheiro
de desperdiçar
de pensar a mesma coisa mil vezes por dia e não conseguir ter a cabeça livre para absolutamente mais nada
preciso de substituir

Chegou A Hora

E vou tentar boicotar tudo, vou ter medo, vou dizer que se calhar é melhor não, que vou conseguir sozinha...mas não vou... Ajude-me, ajude-me

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Eu quero

Queria pegar no telefone e ligar-lhe.
Dizer que tem toda a razão e que ontem tive mais uma prova.
Dizer o quanto custou segurar o corpo, nem eram precisos muitos pormenores...
Combinávamos e dividiamos tarefas. Tratava da minha chegada, eu tratava da minha ida. Começava no minuto seguinte. Levantáva-me, ia até à sala do chefe e dizia-lhe as palavras necessárias para deixar o trabalho, comia os lábios todos por dentro se fosse preciso, trabalhava até cair para o lado para não o deixar na mão até ele arranjar alguém para me substituir - e por mim - para eu poder ir descansada...
Continuo com este tremor aqui dentro, com esta ambivalência furiosamente angustiada... eu não vou parar com este ciclo sozinha... eu tenho de ir... Mas eu não consigo dizer com as letras todas, à sua frente, "pode avançar, marque que eu vou, estou pronta, vou!". Mas eu quero...