quinta-feira, 29 de abril de 2010

Viragem

Antes dos beijinhos de despedida, disse-me : "pode estar a chegar o ponto de viragem"
Virar para onde? esquerda? direita? quantos graus? do avesso? e depois? sou quem? sou como?
Quero, quero imenso,
Quero, só sei que quero,
mas quero com muito medo ainda, parece que não quero tudo, ou não quero o todo...
Pareço hipócrita, dissimulada...
Mas ele disse que hoje, que a semana passada foi a vez mais genuina em que me ouviu, disposta a TUDO, mesmo com medo... ele não odeia o meu medo como eu...compreende-o e aguenta-o. Também me aguenta a chorar e quando lhe confesso aquelas que julgo as monstruosidades inconfessáveis.
Eu quero confiar nele. Embrulhar-me sem laçarote e dizer-lhe: está (estou) aqui. Faça o que for preciso e entregue só no fim, quando estiver pronto... prometo que venho buscar e não abandono.
Hoje fui meio a medo porque afinal não correu como esperava, mas não fui desesperada porque...sei lá, porque sim. Porque fui.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

prometo

fizeste a conta depois: 15,3.
E não, não era por isso...
Tens semanas e de semana em semana tens de subir o número, parar com o "número", resgatar-te. Vale tudo.
Disse hoje com as palavras todas, e chorei com as lágrimas todas. Ele viu e ficou. Ouviu e ajudou. Falou, ouviu-me, ouviu o meu silêncio também... Deu-me hipóteses. Só duas para não baralhar. É que ele também conhece a minha dificuldade de optar... obrigada por não ter de explicar tudo e por completar as palavras que eu não sei e não sou capaz de dizer.
Duas hipóteses: a primeira já e sempre, a segunda daqui a semanas. Quero esta, não porque a outra seja mais difícil, mas porque esta é comigo...implica muito menos trovoada, muito menos... não quero fazer tremer ninguém, não sei como o o faria... Quando vinha no carro imaginava... acho que não seria eu a dizer, acho que não teria coragem... talvez inventasse umas férias e deixasse toda a gente zangada a pensar em como sou egoísta e irresponsável... antes isso.
Dói-me pensar na dor de alguém por minha causa, dói-me muito mais que a minha própria dor...
Mas eu vou, não sei como, mas se for preciso, se eu falhar outra vez, eu vou.
juro
juro-me que vou

quarta-feira, 21 de abril de 2010

dizer fim de outra maneira

Expões-te ao ridículo perante ninguém
Amas as zonas negras como quem contempla
Sabe-te bem a dor e abstrais-te por momentos do estado degradante que te faz estremecer do coração à ponta dos dedos.
Um dia dá-te uma coisa: ou morres ou pior, apanhas o susto da tua vida e vais sentir-te humilhada pelas palavras que ninguém vai ser capaz de dizer, e pelos olhos e a cara inteira cheia de "que ridícula", "pode ser que aprendas" "é o resultado que merecias..."
Já as ouves na tua cabeça, porque a urgência te corre à frente das pernas e não precisas de dar mais corda: antes de acontecer, já sabes como (e onde) vai acabar.
Agora és tu. Decide: ou antecipas ou esperas... Ninguém vai perceber uma situação ou outra, por isso pega nessa inteligência e usa-a pela última vez... reduz a dor, embala-a um instante, dá outro nome ao final... retira-lhes a razão óbvia, mais que óbvia, não os deixes dar nome de outro alguém ao teu fim. Não foi isso, foi a dor... Nunca ninguém vai perceber.
és ridícula.
Coragem de escrever fim em vez de um resto grande de folha em branco... só para espantar o voyerismo de quem te agoirou com a loucura... Tu calmamente, com a paz de sempre (a de fora) respondeste "eu sei que vou ficar bem"
Hoje contestas as dúvidas, transpiras em cada poro a energia que geras sabe-se lá de onde, para aguentares um dia inteiro... Jamais admites que te toquem (é que a máscara pode cair)... e só suspiras, só respiras fundo, sem medo, quando não há mais perigo à volta...
Agradeces-te quando permites calor por perto, e agradeces infinitamente só a presença, sem esforço e sem o teu esforço...sabe-te bem de uma maneira qualquer, também não interessa muito como, mas é bem melhor este misto. confias. respiras fundo. sabe bem respirar fundo.
Ainda assim, um único desejo feito, com palavras inteiras.
Ninguém quer que queiras isso.
E "quero lá saber"







Não sabes mais, não sabes ser mais

sábado, 17 de abril de 2010

Isto de amar

Tenho pesadelos com o dia em que saberás a verdade...
Não, não matei ninguém descansa... não tem nada a ver com "alguém"
Tenho um medo frio da tua reacção, do gelo e do degelo, depois...
Tenho medo que o teu abraço não me chegue da mesma maneira. Eu não posso mudar o que sou e tenho, não posso mudar o que fui, não sei bem onde vou chegar, mas tenho uma certeza, talvez a única: eu tenho palavra no que vou ser.
Existe a possibilidade de convivermos os dois com as fragilidades de que eu não conseguir dar cabo, não sei do que serei capaz... E é injusto, sou injusta quando te tiro do meu espaço de tempo que tinha reservado para nós...
Troco a companhia, por ninguém
Ausento-me totalmente e retorno já arrependida mas incapaz de te dar de volta o que nos tirei...
Sabes, tenho medo de nunca ser o que queria ser para ti...
Porque nos sonhos, lá, existe um futuro, e eu estou-me a rir... Eu bem sei como a minha vida nunca parou, e só passado algum tempo me apercebi da "proeza"... fi-lo para não enlouquecer, para provar sei lá a quem que ao contrário de todos os prognósticos havia muita coisa que eu seria capaz, ainda que...e que... e que...
Não me orgulho porque não consigo, não me orgulho porque deixei a tarefa a metade... ou melhor, consegui aquilo a que me propus para o mundo, mas nunca fui capaz do que me comprometi comigo... O tempo ainda não acabou e nunca fui uma miúda de acreditar em "impossíveis", mas o desespero...o desespero... desse nunca te vou saber falar...não tem nome... o nome incompleto ir-te-ia deixar sempre com a ideia errada do que se passa entre a minha pele e o meu corpo...
Apetece-me já agradecer-te... e não o faço com medo que me aches, para além de tudo, louca... nunca fui tratada como tu me tratas, e é difícil aceitar, é difícil continuar viva como antes quando me desarmas com o beijo mais doce do mundo, com a tua verdade sobre mim... Já não faço como antes, não desminto... que direito tenho eu ou que necessidade terias tu de me mentir? é o teu olhar sobre mim e eu tenho de aprender a respeitá-lo... ainda que custe, e custa ouvir coisas bonitas...
é difícil aceitar o teu Amor...

quarta-feira, 14 de abril de 2010

culpa

Só cansaço, só...
Não é mesmo mais nada porque não há nome, e cedo aprendeste a desgastar até ao fundo esse desequilíbrio que vem de dentro para tudo o que não tinha nome nem lugar...
E o teu sem-lugar, a tua utopia, ficou-se na estabilidade que não irias lá chegar, pelo menos neste embrulho que te prende e intriga quando te metes à frente do espelho, que te ensinaram: reflecte.
Reflecte...mas reflecte o quê?
Dizem-te que não vês, mas o sr doutor disse que não precisavas de óculos... depois disseram-te que sim, vias, mas vias outras coisas...transformavas em matéria aquilo que mais te doia... porque ninguém a via, persentiam-na raramente... só. E o teu corpo não era o teu corpo mas as tuas mágoas, e o que odiavas não era o teu corpo mas o que estava lá dentro, o que ficou lá dentro e que sempre te proibiram de pôr cá para fora.
Disseram-lhe "tens a obrigação de ser feliz"... Uma obrigação demasiado pesada, uma obrigação que não o devia ter sido... umas raizes bem bem revoltadas, embrulhadas, cristalizadas que agora tentas picar e retorcer.
Sim, ela não pediu a ajuda que lhe podias ter dado...
Não, ela não tinha obrigação de o fazer...era uma criança, não sabia nada de nada de nada de nada...
Sim, hoje ela tem a responsabilidade de se pôr de pé depois de cair, mas não a culpes...nem com as palavras nem com os olhos
Não, ela não teve culpa
não teve culpa
repete comigo
não tive culpa

domingo, 11 de abril de 2010

Medo

Podes gostar um bocadinho menos?
eu não sei o que fazer ao que tu sentes e dizes e mostras e demonstras
não sei e assusta-me e mete-me naquele ponto em que as pernas andam à conta de um querer muito forte para que tu não percebas
E um dia vou ter de te contar...
E tu? Vais devolver-me esse medo, vais concretizar o pesadelo da impossibilidade?
Tenho medo medo medo...
Porque se eu não paro, poderás saber da pior maneira...e vais pensar que se te menti nisto, que te menti em tudo...
Não
Não
Não te vou deixar magoares-te por minha causa, e não quero mais essa culpa para o meu monte
Sim
Sim Sim, sou egoísta... Prefiro que me julgues assim..
Só tenho medo

sexta-feira, 9 de abril de 2010

te-me

Acho que vai acontecer,
nem tu, nem tu vão dar por nada,
nem vão perceber,

Faz sentido,
Senão para ti, nem para ti,
faz para a única pessoa para quem a ambivalência se tornou pele
e na pele se fez e desfez, pintou e apagou...
E de pele arrepanhada, pintada de sangue por dentro, grita
Ainda assim com postura,
Sempre compostinha, perfeitinha inha inha
irritante o raio da miuda!
Tu não és real, deviam odiar-te-me
deviam apanhar-te-me
E vai acontecer...e nada acontece em simultaneo...eu vou rir-me de ti, de mim

segunda-feira, 5 de abril de 2010

mata

um dia vais pagar por tudo o que fazes todos os dias, por tudo o que não fazes, por tudo o que adias...
Testas o corpo ao limite porque és perita em limites...os da matemática, os do corpo, os do coração...
Aprendeste que podes sempre mais e mais e os sustos não te assustam, não te impedem, não te param... Aguentou? vai aguentar sempre... o para sempre é maior que tu, e és ingénua e demasiado imatura se continuares a acreditar nisso...
Um dia os sentidos vão-te falhar e não vão regressar com a rapidez a que estás habituada,
um dia vais-te arrepender, como nunca te arrependeste, e vais chorar, como nunca choraste...
Um dia vai ser pior que o dia de hoje, e as mãos trémulas não vão ser capazes de acompanhar o raciocínio...se fores ainda capaz de raciocinar...
Já te apercebeste do quanto isto tudo te atrapalha...não, não é igual ao das outras pessoas...o medo não é igual, é ocupado também... a solidão é ocupada e o silêncio... como querias ouvir o silêncio...
Como querias decidir sem isto à mistura, como querias ser capaz de cantar, de dançar, de chorar até... sem isto à mistura...
E enganas-te a ti própria quando dizes "isto não te impede de absolutamente nada..."
Sim, é verdade que és autónoma, trabalhas, empenhas-te...e consegues não ser absolutamente mais nada, ou és...em latência, em potência...
Isto pesa,
isto corrói,
isto mata

sexta-feira, 2 de abril de 2010

Aconteceu outra vez...

Para-me
Agarra-me com toda a tua força e diz que está tudo bem
Diz que não me vais deixar fazer isto
Diz que não te importas com o estado miserável da minha cabeça e do meu coração
Ou então não digas nada
Já percebeste como me custa aguentar palavras, ainda mais as meigas, por mais estupido que te possa parecer..
Abraça-me, deixa-me sem respirar, respira por mim enquanto eu vou e venho...
Deixa que a minha vergonha caia entre os nossos corpos e aquece-me, tu sabes.. "estás gelada"
é absurda esta persistência, esta resistência... porque me tratas bem e só por isso, por mais nada...
E eu percebo, percebo todas as razões que agora de te são distantes mas que vão estar na tua cabeça no dia em que não vais saber como me dizer...
E eu vou dizer-te só que entendo, vou-te dar um abraço, pedir-te desculpa...
Isto pode parar agora? Posso viver um bocadinho por favor?
Posso entrar naquela sala, pedir àquele senhor dr AJUDA? Eu vou ter de dizer, eu vou ter de contar, eu vou ...
Aguentar, aguentar... Foi o "sempre"... Mas não vai ser para sempre.... Não vai...